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A linguagem popular do Papa Francisco surpreende a opinião pública

Pope Francis, daily homily at the Vatican – pt

©ALESSIA GIULIANI/CPP

Salvador Aragonés - publicado em 25/09/13

E o conteúdo dos seus comentários e pensamentos pode ser mal interpretado, quando suas palavras são tiradas do contexto

A forma como o Papa Francisco se expressa e o conteúdo dos seus comentários e pensamentos têm surpreendido a opinião pública, tanto crente como não crente. O Papa já está à frente da Igreja há meio ano, e nesse tempo foi detalhando seu pensamento sobre como a Igreja deve ser. Sua preferência pelos pobres e sua simplicidade de vida são um forte testemunho. Mas as palavras do Papa às vezes podem ser mal interpretadas, quando tiradas do seu contexto.

Nós, jornalistas, adoramos o Papa Francisco, porque cada intervenção sua rende pelo menos uma manchete. Há quem diga que "o Papa fala com manchetes", o que não é verdade. O Papa Francisco é reflexivo, profundo, ainda que sua forma de expressar-se seja popular, como quando disse que existem padres e freiras que parecem "solteirões", por carecerem desta paternidade e maternidade implícita em sua vocação de acolher homens e mulheres com o amor que Cristo tinha pelos seus, e por isso lhes falta fecundidade apostólica.

Uma das tarefas que o Papa terá de enfrentar nas próximas semanas será a reforma da cúria de Roma, pois ele receberá a comissão de oito cardeais, de todos os continentes, que intervieram na elaboração de um documento a este respeito.

A ideia central é que a cúria romana deve estar ao serviço das conferências episcopais e dos bispos, diminuindo o quadro de funcionários de Roma e reformando particularmente a Secretaria de Estado. A cúria é o governo da Igreja e ajuda o Papa em suas funções.

O Papa Francisco deu recentemente uma entrevista publicada na "Civiltà Cattolica", dos jesuítas, uma revista que tem mais de 150 anos e cujos textos são revisados pela Secretaria de Estado, o que faz com que ela, apesar de não ser oficial, seja "autorévele", como dizem os italianos, ou seja, tem certa autoridade.

E é normal que o Papa Francisco, sendo jesuíta, tenha querido dar sua primeira longa entrevista à revista que ele tanto leu e na qual confia. Ao ler a entrevista inteira, palpa-se a espontaneidade do Papa, mas ao mesmo tempo o contexto em que diz cada coisa, pois as manchetes são apenas um indicativo e não têm utilidade quando não respeitam o contexto.

Assim, por exemplo, no tema dos homossexuais, o Papa disse que conhece homossexuais que se sentem "feridos" porque "sentem que a Igreja sempre os condenou. Mas a Igreja não quer fazer isso". E acrescentou que, "se um homossexual tem boa vontade e busca Deus, eu não sou ninguém para julgá-lo (…); o Catecismo diz isso"; de fato, o Catecismo da Igreja valoriza os homossexuais e pede compreensão e afeto com relação a eles.

E o Papa acrescentou: "Precisamos sempre levar em consideração as pessoas", seja qual for sua situação, e acompanhá-las "com misericórdia". A misericórdia é um dos pontos chaves em que se apoia a pregação do Papa Francisco quando fala dos homens, que, por mais pecadores que sejam, devem recordar que Deus é misericordioso e, neste sentido, ele se refere à teologia da misericórdia elaborada por João Paulo II.

Por isso, a Igreja tem o sacramento da Confissão, do perdão. E aqui outra grande frase do Papa: "O confessionário não é uma sala de tortura, mas o lugar da misericórdia", onde o Senhor nos impulsiona a ser melhores.

Mais à frente, o Papa Francisco acrescentou que os confessores estão aí para o perdão, e "não podemos continuar insistindo em questões referentes ao aborto, ao casamento gay, ao uso de anticoncepcionais. É impossível. No demais, já conhecemos a opinião da Igreja, e eu sou filho da Igreja, mas não é preciso ficar falando dessas coisas o tempo todo". E ele disse isso por experiência.

O trabalho missionário não se obceca por transmitir um conjunto desarticulado de doutrinas, para impô-las insistentemente, mas busca o essencial, que é transmitir o amor de Deus, a fé e a esperança. Uma boa homilia deve começar pelo anúncio da salvação. A catequese vem depois.


As surpresas que o Papa Francisco causa com sua linguagem direta e popular se devem também ao fato de que contrasta com outro tipo de linguagem, mais acadêmica e intelectual, utilizada pelo seu antecessor, Bento XVI. De qualquer maneira, não há dúvidas de que o Papa Francisco será um reformador, mas não mudará nada do essencial.

Ele já disse, por exemplo, que o tema do sacerdócio de mulheres está encerrado, mas ao mesmo tempo comentou que a mulher precisa ter um papel mais importante na Igreja e que é preciso elaborar uma teologia sobre a mulher; acrescentou que é preciso evitar o machismo, também o "machismo de saia".

Depois, outra frase do Papa foi: "Eu jamais fui de direita". Mas ele não disse isso num contexto político, e sim no contexto de ter tomado decisões apressadas e autoritárias quando era jovem e ter sido considerado "ultraconservador" em matéria religiosa. Além disso, o Papa é argentino, e no seu país o conceito de "direita" tem uma conotação particular.

Este tema foi polêmico na Espanha, mas não em outros países. Assim, por exemplo, a tradução na França foi "Eu nunca fui conservador", o que não coincide com as traduções feitas em espanhol e inglês, que falavam de direita – e foram criticadas na França.

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