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Estamos dispostos a aceitar os riscos do diálogo inter-religioso?

Dialogue interreligieux au quotidien – pt

© P.RAZZO/CIRIC

Miriam Diez Bosch - publicado em 26/11/13

Acolher a outra pessoa não significa aceitar suas crenças, mas aceitá-la em sua humanidade

Você vai se diluir. Vão lhe fazer uma lavagem cerebral. Eles não estão interessados em você, só querem convencê-la de que sua religião é melhor: estes são alguns dos argumentos que ouço cada vez que vou participar de algum encontro inter-religioso. O último destes eventos foi imponente: mais de 600 líderes mundiais, reunidos de 20 a 22 de novembro em Viena, para a 9ª Assembleia de Religiões pela Paz.

O melhor da experiência é a própria experiência: sentar-se ao lado de uma monja budista, olhar para ela, ver que ela sorri para você e que, apesar de não falar inglês, ela estende a mão e acolhe com seus gestos. E lhe solicita hospitalidade, o que não significa comungar sem prudência com suas convicções. É a essência de estar com o outro, entrar em sintonia e abrir as portas para que o ar circule.

Esta reciprocidade, que gera tanto medo nos fiéis, é urgente. Depois dos gestos, virão as etiquetas, as religiões, as tradições, as vestimentas, o pensamento. Mas o que precede tudo isso, o prelúdio do diálogo, é este gesto de humanidade. E é isso que está faltando nas religiões: simplesmente acolher o outro. "Acolher" deveria ser uma das palavras mais usadas entre os fiéis – e não "tolerar", como se costuma dizer.

As palavras do cardeal da Nigéria, John Onaiyekan, foram contundentes: "Eu não quero que ninguém me tolere, porque só toleramos aquilo que não nos agrada". Ele destacou que não se trata de tolerância, mas de respeito mútuo. Respeitar não significa aceitar tacitamente o que o outro prega. Mas, sem respeito, não há possibilidade de encontro. Falamos muito de respeito e respeitamos pouco.

Há muitos católicos medrosos. Têm medo de tudo: do mundo, do outro, de quem discorda deles. A diversidade religiosa não é uma ameaça, mas algo que o próprio cristianismo reconhece como vontade divina. Não sabemos explicar por que existe tanta diversidade: o fato é que ela existe. Para os cientistas, é um dado. Para quem crê, é um sinal dos tempos.

Acolher o outro nem sempre é fácil ou agradável. Falta-nos experiência na alteridade. Não estamos acostumados a tomar café com um mestre taoista, nem sabemos o que perguntar, sem ofender, a uma muçulmana da Arábia Saudita.

Há muitas coisas que não entendemos, e o outro também tem perguntas sobre nós, sobre a nossa fé, nossa tradição, nossas normas. Para superar as rivalidades, propiciar encontros desse tipo deveria ser uma prática natural em nossas realidades locais. A hospitalidade, que deveria caracterizar os cristãos, às vezes se torna um slogan vazio que não se concretiza.

Arriscar-se é saudável e vital. A convicção de que "no outro eu posso me descobrir e ver um traço da imagem de Deus" é fascinante, como disse o rabino Rosen. Dialogar é um risco e um mistério. Viver já é um risco. A segurança não pode ser patrimônio dos católicos. Se pudéssemos desenhar a fé, ela seria como uma ponte, não um muro.

Continuarei participando de encontros inter-religiosos, ainda que alguns enxerguem isso com desconfiança. E farei isso lembrando de Edith Stein: "Aonde Deus nos leva? Não sabemos. Só sabemos que Ele nos leva".

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