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Mês de maio: as origens da devoção à Virgem

Estatuilla Virgen de Guadalupe – pt

© Andreanna Moya Photography

Primeros Cristianos - publicado em 08/05/14

Honrada como a Mãe de Deus

A Virgem Maria foi honrada e venerada como Mãe de Deus desde os inícios do cristianismo.

“Os primeiros cristãos, aos quais devemos recorrer sempre como modelo, renderam um culto amável à Virgem. Nas pinturas dos primeiros três séculos do cristianismo, conservadas nas catacumbas romanas, ela é representada com o Deus Menino nos braços. Nunca imitaremos o suficiente os primeiros cristãos nesta devoção à Santíssima Virgem!”, afirmou São Josemaría Escrivá.

Em ocasião do mês de maio, falemos das origens da devoção mariana nos primeiros cristãos.

Irão me chamarão Bentida

Como evidenciaram os estudos marianos recentes, a Virgem Maria foi honrada e venerada como Mãe de Deus e Mãe dos cristãos desde os inícios do cristianismo. 

Nos três primeiros séculos, a veneração a Maria foi incluída basicamente na adoração do Seu Filho. 

Um padre da Igreja resume a sensação deste primeiro culto mariano referindo-se a Maria com estas palavras: “Os profetas te anunciaram e os apóstolos te celebraram com os mais altos louvores”.

Dos primeiros séculos se podem recolher os testemunhos indiretos do culto mariano. Entre estes existem alguns restos arqueológicos nas catacumbas, que demostram o culto e a veneração dos primeiros cristãos por Maria.

É o caso das pinturas marianas das catacumbas de Priscilla: em uma dessas se mostra a Virgem santificada com o Menino no colo e um profeta (talvez Isaías), ao lado; outras duas representam o Anúncio e a Epifania. São todas pinturas do final do segundo século. Nas catacumbas de São Marcos e São Marcelliano admira-se também uma pintura do século III-IV que representa Maria entre São Pedro e São Paulo, com as mãos estendidas e em atitude de oração.

Uma esplêndida demonstração do culto mariano é a oração Sub tuim praesidium, datando século III-IV, pela qual se pede a intercessão de Maria. 

Os padres do século IV louvam de modos diversos a Mãe de Deus. Santo Epifanio, combatendo o erro de uma seita na Arábia que rendia culto de idolatria a Maria, depois de terem recusado tal culto, escreveram: “Seja honrada Maria! Seja honrado o Senhor”.

A mesma distinção se aprecia em Santo Ambrósio, que depois de ter louvado a “Mãe de todas as virgens” é claríssimo quando diz que “Maria não é o Deus do templo, mas o templo de Deus”, para colocar na posição justa o culto mariano, distinguindo daquele professado a Deus.

Há evidências de que, no tempo do Papa São Silvestre, nos Fóruns, onde antes foi elevado um templo à deusa romana Vesta, construiu-se um do qual a invocação era Santa Maria Antiqua. O bispo Alessandro de Alexandria consagrou uma Igreja em honra à Mãe de Deus. Sabe-se também que na Igreja da Natividade, na Palestina, datando da época de Constantino, ao lado do culto ao Senhor tinha o de Maria, recordando a milagrosa concepção de Cristo.

Na Liturgia Eucarística existem dados confiáveis que mostram a menção de veneração de Maria na oração eucarística datada do ano de 225, e que nas festas do Senhor – Encarnação, Natal, Epifania… – se honrasse também Sua Mãe. Relata-se em geral que por volta do ano 380 foi instituída a primeira festividade mariana, denominada indistintamente “Memória da Mãe de Deus”, “Festa da Santíssima Vírgem”, ou “Festa da gloriosa Mãe”.

O testemunho dos Padres da Igreja

O primeiro Padre da Igreja a escrever sobre Maria foi Santo Inácio de Antioquia (+ c. 110), que defende a realidade humana de Cristo afirmando que pertence a estirpe de Davi, tendo nascido realmente de Maria Virgem. “Foi concebido e gerado pela Santa Maria; esta concepção foi virginal, e esta virgindade pertence a um daqueles mistérios ocultos no silêncio de Deus”.

Em São Justino (+ c. 167), a reflexão mariana parece referida a Gen 3,15 e ligada ao paralelismo antitético Eva-Maria.

No diálogo com Trifone, Justino insiste sobre a verdade da natureza humana de Cristo, e consequentemente sobre a realidade da maternidade de Santa Maria; e como Santo Inácio de Antioquia realça a verdade da concepção virginal e insere o paralelismo Eva-Maria no seu argumento teológico. 

O paralelismo servirá de fio condutor para a mais rica e constante teologia mariana dos Padres.

Santo Irineu de Lião (+ c. 202), em um contexto polêmico contra os gnósticos e professores, insiste na realidade corporal de Cristo e sobre a verdade da sua geração no ventre de Maria. Faz também da maternidade divina uma das bases da sua cristologia: é a natureza humana assumida pelo Filho de Deus no seio da Maria que torna possível o fato de que a morte redentora de Jesus abrace todo o gênero humano. Ressalta também que o papel materno da Santa Maria na sua relação com o novo Adão e na sua cooperação com o Redentor.

No Norte da África, Tertulliano (+ c. 222), na sua controvérsia com o gnóstico Marcione, afirma que Maria é a Mãe de Cristo porque Ele foi gerado no seu seio virginal.

No século III se iniciou a utilizar o título Theotókos (Mãe de Deus). Orígenes (+ c. 254) foi a primeira testemunha conhecida deste título. Em forma de súplica aparece pela primeira vez a oração Sub tuum praesidium, a oração mariana mais antiga a nós observada. Já no século IV o mesmo título vem utilizado na profissão de fé de Alexandre de Alexandria contra Ario.

A partir daquele momento adquire universalidade, e são muitos os Santos Padres que param para explicar a dimensão teológica desta verdade – Santo Efrem, Santo Atanásio, São Basílio, São Gregório Nazareno, São Gregório de Nissa, Santo Ambrósio, Santo Agostinho, Proclo de Constantinopla…-, ao ponto que o título de Mãe de Deus se torna o mais usado quando se fala de Santa Maria.

A verdade da maternidade divina foi definida como dogma de fé no Concílio de Éfeso em 431.

“E depois da morte do Salvador? Maria é a Rainha dos Apóstolos; encontra-se no Cenáculo e ali acompanha na recepção daquele que Cristo tinha prometido, o Paráclito; exorta-os nas suas dúvidas, ajuda-os a superar os obstáculos que a fraqueza humana põe sobre seus caminhos; é guia, luz e encorajamento dos primeiros cristãos”, afirma São Josemaría Escrivá.

As prerrogativas ou privilégios marianos

A descrição dos inícios da devoção mariana restaria incompleta se não se mencionasse um terceiro elemento fundamental na sua elaboração: a firme convicção da excepcionalidade da pessoa de Santa Maria – exepcionalidade que faz parte do seu mistério -, que se sintetiza na afirmação de sua total santidade, conhecida como “privilégios” marianos.

Trata-se de “privilégios” que encontram a própria razão na relação materna de Santa Maria com Cristo e com o mistério da salvação, mas que estão realmente nela, dotando-a de modo superabundante das graças necessárias para realizar a sua missão única e universal.

Estes privilégios marianos não se entendem como algo acidental, ou supérfluo, mas como algo necessário para manter a integridade da fé.

Santo Inácio, São Justino e Tertulliano falam da virgindade. Fala também Santo Irineu. No Egito, Orígenes defende a perpétua virgindade de Maria e considera a Mãe do Messias, modelo e auxílio dos cristãos.

No século IV foi criado o termo aeiparthenos – sempre virgem -, que Santo Epifânio introduziu no seu símbolo de fé, e em seguida o II Concílio ecumênico de Constantinopla o acolheu em sua declaração dogmática.

Junto a esta afirmação da virgindade da
Santa Maria, que se torna sempre mais frequente e universal, destaca-se com o passar do tempo a afirmação da total santidade da Virgem. Rejeitada sempre a existência do pecado na Virgem.

Assim se deu com Santo Irineu, Tertulliano, Orígenes, São Basílio, São João Crisóstomo, Santo Efrem e São Cirilo de Alexandria, enquanto que Santo Ambrósio e Santo Agostinho recusaram a possibilidade de imperfeição na Virgem.

Depois da definição dogmática da maternidade divina no Concílio de Éfeso (431), a prerrogativa da santidade plena aconteceu consolidando e foi generalizado o título de “toda santa” – panaghia. No Akathistos se canta “o Senhor te fez toda santa e gloriosa” (canto 23).

Do século Vi, e em conexão com o desenvolvimento da afirmação da maternidade divina e da total santidade da Santa Maria, aprecia-se também um evidente desenvolvimento de afirmação das prerrogativas marianas.

Assim acontece concretamente em temas relativos à Dormição, Assunção da Virgem, total ausência de pecado (incluindo o pecado original), nela ou ao seu compromisso de Mediadora e Rainha. Citam-se em particular São Modesto de Jerusalém, Santo André de Creta, São Germano de Constantinopla e São João Damasceno como os Pais dos últimos séculos do período patrístico que aprofundaram as prerrogativas marianas.

(Tradução e adaptação: Clarissa Oliveira)

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