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Terrorista se converte e realiza sonho de infância: entrar para o mosteiro

Paschal candle – Priest – Monk – pt

© Daniel Kedinger / Flickr CC

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Portaluz - publicado em 17/09/14

Confessou-se, começou a ir à Missa e no seu coração renasceu a vocação que se perdeu na adolescência

As torres gêmeas de Nova York, o atentado de Madri, a matança na ilha de Utoya, na Noruega, as atrocidades do Boko Haram e do Estado Islâmico, a recente bomba no metrô de Santiago do Chile… Todos esses episódios têm um fator em comum: o ódio e a desumanização com base no terrorismo.

Alguns seres humanos que colocaram em ação o terror podem se libertar e curar a maldade para renascer para uma vida nova. Deus foi e é a razão desta “ressurreição” no caso do ex-terrorista do ETA Jean Philippe Saez.

Saez foi educado no amor pela tradição dos pais, e aos 19 anos era conhecedor de Txistu (flauta tradicional). Eram os anos sessenta quando Domingo Iturbe Abasoloi, aliás Txomin, o “alistou" e o formou para torná-lo membro do primeiro comando operativo (Argala) do ETA. O grupo colocou em ação seus primeiros ataques terroristas na Espanha em 1978 e 1979. 

“Naquele momento”, confessou anos depois Philippe, “o ETA representava o mito dos dias gloriosos da luta contra Franco. Unir-me a eles era uma espécie de exaltação para mim, mas logo tive de viver na clandestinidade”.

Philippe, chamado “Txistu”, descobriu rapidamente o macabro sentimento de ser protagonista do terror do ETA, participando de pelo menos quatro atentados nos quais os seus companheiros mataram sete pessoas: o industrial José Legaza, o magistrado José Francisco Mateu, o general Constantino Ortiz, o tenente geral Luis Gómes Ortigüela, os coronéis Agustín Laso e Jesús Avelós e o motorista Lorenzo Gómez.

Phillippe, auxiliar no último atentado em Laso, Avelós e Gómez, naquele dia estava prestes a fugir, mas este ato teria significado assinar a própria condenação de morte. Aproveitando os meses de “silêncio” que a própria organização havia imposto para que passasse despercebido, uma vez voltando à França, confessou-se, começou a ir regularmente à Missa e no seu coração renasceu a vocação que havia perdido na adolescência. Ingressar como monge na abadia beneditina de Notre Dame de Belloc era seu sonho.

O ETA e a abadia 

A abadia representava desde suas origens um símbolo de proteção para os bascos. Talvez era um dos motivos da influência que tinha sobre Philippe. Foi fundada em 1974 por um grupo de noviços bascos provenientes do mosteiro de Pierre-que-Vire, com o padre Agustín Bastres, de Lapurdi.

No dia 1° de setembro daquele ano, toda a aldeia de Urt acompanhou os monges para uma antiga fazenda desabitada de Belloc, cantando o Ongi etorri-aita onak-Jainkozko gizonak (Bem-vindo seja Deus, pai bom do homem), como refere a enciclopédia Auñamendi. Desde então o lugar passou a ter uma tradição de hospitalidade.

Durante a Guerra Civil espanhola refugiaram-se ali republicanos e nacionalistas. Depois na II Guerra Mundial, esconderam-se membros da resistência e pilotos aliados enviados pela rede Orion. Como consequência, alguns monges morreram no campo de concentração nazista de Dachau, e a abadia recebeu a Legião de Honra. 

Em maio de 1962, os monges não acharam tão inconveniente que o grupo de ideias separatistas basco realizasse sua primeira reunião na abadia. Ali nasceu o ETA como “movimento revolucionário basco para a libertação nacional baseado na resistência patriota, socialista, de caráter não confessional e economicamente independente”. A mesma organização que anos depois, na sua quinta assembleia, teria se voltado à luta armada, escorregando para o terrorismo. 

Irmão Philippe

Em 1982, Txistu conseguiu fazer com que o ETA aceitasse o seu distanciamento. Livre, em setembro de 1988, aquele que agora é “irmão Philippe” iniciou a sua formação monástica na abadia de Notre Dame de Belloc.

“Sempre tive a necessidade de viver para Deus. Disse que entraria em um mosteiro e não falaria mais do meu passado”, disse Philippe a todos que o procuraram pouco tempo depois no claustro. 

A polícia o prendeu pelo seu passado e o prior Jean Jacques de Amestoy, desolado, disse aos meios de comunicação que o noviço Philippe “vivia com serenidade a formação para a sua nova vida monástica, baseada na conversão e na oração. O mosteiro não pode aprovar de nenhum modo aquilo que na sua essência não se pode justificar”, acrescentou antecipando a sentença. A última, porém, permitiu que o futuro monge continuasse a sua reclusão na abadia, e em 1997, foi condenado a dez anos de prisão.

Após cumprir sua pena, irmão Philippe continuou a ser ligado à abadia. Cada vez que é possível se move pela região, para tocar música sacra nas paróquias, com sua flauta tradicional.

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