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Desafios para o sínodo da família: as mulheres da Tanzânia que se casam por conveniência com outras mulheres

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Aleteia Brasil - publicado em 09/10/15

A tradição é milenar, mas surge de causas sociais e culturais que permanecem sem receber solução

O sínodo da família tem abordado, entre uma ampla variedade de situações universais e regionais, as peculiaridades culturais que envolvem o conceito de família na África.

Para dar um exemplo dessas peculiaridades, apresentamos o conceito de “nyumba nthobu”, uma antiga estrutura familiar preservada na região de Mara, nordeste da Tanzânia: trata-se do casamento de conveniência entre mulheres heterossexuais.

Wegesa e Nyanswi Marwa, do vilarejo de Kurya, são casadas há 15 anos. Wegesa tem 60 anos e Nyanswi tem 35. Elas foram entrevistadas pela repórter Tulanan Bohela, da BBC, e explicaram que, em sua cultura, as mulheres não podem herdar propriedades. Entre outros fatores, esta foi a principal motivação para que Wegesa resolvesse procurar uma esposa: Nyanswi poderá herdar as propriedades do casal porque as duas tiveram filhos homens.

Wegesa não tinha tido filhos homens em seu casamento anterior e se uniu a Nyanswi para “contornar esse problema”. As duas, agora, têm seis filhos homens, cujo pai biológico é um sobrinho do falecido marido de Wegesa.

Este sobrinho tem sua própria família, mas concordou em ser o pai biológico dos filhos de Wegesa e Nyanswi para que o sobrenome da família do tio pudesse sobreviver. O homem abriu mão dos seus direitos paternos sobre os meninos.

É comum no sistema “nyumba nthobu” que duas mulheres casadas contratem um homem de confiança para ser o pai biológico de seus filhos, num acordo que pode ou não envolver pagamento em dinheiro. No caso de Wegesa e Nyanswi, não envolveu.

O sistema também funciona como alternativa para driblar a violência doméstica, que atinge 60% das mulheres dessa região da Tanzânia.

Os líderes tribais apenas alertam as mulheres para escolherem com cuidado os pais biológicos de seus filhos, já que muitos homens têm várias parceiras e podem transmitir doenças.

Os problemas de fundo que se percebem na panorâmica do “nyumba nthobu” são vários, mas podem ser sintetizados basicamente em três principais causas culturais: a violência doméstica, as leis tribais sobre herança e a falta de incentivo a um comportamento paterno participativo e fiel (ou, mais simplesmente, a um “comportamento de família”). As mulheres não se casam entre si por serem homossexuais: de fato, Wegesa e Nyanswi relataram à reportagem da BBC que não mantêm relações sexuais, mas apenas uma relação de parceria e ajuda mútua nos afazeres da casa, além, como ficou claro, de procurarem garantir seus direitos de propriedade.

Deveria chamar a atenção o fato de que, assim como a maior parte das “alternativas” levantadas mundo afora para lidar com os fatores culturais que envolvem os relacionamentos, o “nyumba nthobu” não foca em resolver as verdadeiras causas de nenhum dos seus problemas de fundo.

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