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É possível conciliar democracia, diálogo e islã?

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Aleteia Brasil - publicado em 03/11/15

"O combate mais importante do mundo neste momento não é entre o islã e o Ocidente: é entre o Estado Islâmico e a Tunísia"

O combate mais importante do mundo neste momento – e em qualquer momento – é sempre o mesmo: a luta entre o bem e o mal, entre a graça e o pecado.

Em termos de conflitos bélicos fomentados por visões diferentes de mundo, porém, o combate mais importante dos dias atuais é apontado por bastante gente como sendo o confronto entre o islã e o Ocidente – uma guerra que, para outro grupo também numeroso de pessoas, nem sequer existe: o que realmente existe, segundo esta outra análise, são facções extremistas do islamismo e suas “guerras santas” particulares, sem que se possa generalizar.

Para o tunisiano Rachid Ghannouchi, “o mais importante combate no mundo, neste exato momento, é entre o modelo do Estado Islâmico e o modelo da Tunísia. Não é entre o islã e o Ocidente”.

O modelo tunisiano

Rachid Ghannouchi é o líder intelectual do Ennahda, o partido islamista da Tunísia que venceu as primeiras eleições livres da história do país, após a chamada “Primavera Árabe”. O partido vencedor optou por manter uma relação de abertura e aliança com os demais partidos, inclusive os da oposição, cedendo poder e transformando a Tunísia no caso único de sucesso da Primavera Árabe em termos de avanços rumo à democracia e à estabilidade.

De acordo com matéria do jornal O Estado de São Paulo, Ghannouchi afirma que “a única maneira de realmente derrotar o Estado Islâmico é oferecer um ‘produto’ melhor para os milhões de jovens muçulmanos do mundo inteiro. Nós [na Tunísia] construímos a democracia muçulmana. Os jovens não gostam do Estado Islâmico. Veja que milhões fogem dele. Mas eles também não aceitam viver sob uma tirania”.

E qual é esse “produto melhor” para os jovens?

Segundo o intelectual tunisiano, é um sistema político realmente democrático, em que os direitos humanos são respeitados, mas que também permita espaço para o islã e para os seus valores.

Rachid Ghannouchi avalia que as centenas e centenas de jovens que se juntam hoje ao Estado Islâmico se assemelham aos jovens descontentes que viraram guerrilheiros marxistas nas décadas de 1950 e 1960. Eles querem protestar contra a ordem estabelecida e o fazem mediante a violência, o que não é novidade nenhuma. A “novidade”, no caso atual, é que ela tem um aspecto religioso preponderante. E previsível: afinal, em todo o Oriente Médio, os ditadores oprimiram o islã durante décadas. A própria Tunísia proibia a educação islâmica e perseguia quem demonstrasse interesse pelo islamismo. Essas políticas repressivas produziram como reação os terroristas islâmicos de hoje.

Na Tunísia pós-Primavera Árabe, apesar do relativo sucesso do processo de democratização, não faltaram (nem faltarão) dificuldades. Os islamistas pressionaram em favor de maior peso para a lei islâmica no país. O partido de Ghannouchi soube lidar com a diversidade de pontos de vista e promoveu o diálogo com a oposição. “A velha guarda perdeu a eleição, mas ainda era muito poderosa. Numa jovem democracia, precisamos de consenso e de conciliação. Perdemos poder, mas ganhamos a Tunísia”.

Faz bastante sentido. Como de costume, parece que o bom senso funciona melhor do que a falta dele, com ou sem religião envolvida.

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