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Uma carta para pais e mães de UTI Neonatal

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tudosobreminhamae.com - publicado em 19/11/15

Não é fácil pra ninguém. Não foi para mim. E por isso quero contar minha experiência como mãe.

Queridos pais e mães de uma UTI Neonatal,

Eu já estive aí exatamente onde vocês estão agora. Passei dois meses, incluindo um Dia das Mães, nesse lugar. Foi o tempo mais intenso da minha vida. Minha filha nasceu de 32 semanas e teve algumas complicações. É óbvio, ninguém sonha com isso. A gente quer ter o filho nos braços o mais rápido possível. Mas no meu caso e no seu, nos cabe assistir uma nova gestação fora do nosso útero.

Eu sei que num primeiro momento a gente olha todos esses aparelhos, todas essas incubadoras e fica se perguntando “Por que?”. Eu entendo que, se o seu filho nasceu tão pequenino quanto a minha filha, a gente se apavora porque nunca sentiu tanto amor por alguém tão frágil.

Eu sei também que é uma facada no peito ter que voltar sozinha pra casa, pois na maioria dos hospitais brasileiros, como foi o meu caso, a gente não pode ficar internada com os nossos filhos. E voltar pra casa de mãos abanando e encontrar o quarto esperando por eles é cruel demais.

Só que dentro da rotina de uma UTI Neonatal acontece tanta coisa que a gente precisa superar esse primeiro choque e buscar se fortalecer para as outras batalhas que virão. Porque a cada dia tudo o que queremos é que nossos filhos não desenvolvam nenhuma infecção, não tenham nenhuma complicação. A gente precisa seguir em frente. Eles precisam sentir que estamos inteiros por eles. Mas não se façam de tão fortes quando precisarem chorar no ombro de alguém.

Eu sei também que a gente olha para os médicos e enfermeiros, tão acostumados com esse ambiente, e gostaria de ter deles uma atenção redobrada. A gente se sente tão sobrecarregado que só enxerga a própria história. Mas com o tempo a gente vai aprendendo que existem outras crianças em volta,  casos até mais graves.

Não é fácil pra ninguém. Não foi para mim. Havia momentos em que eu ficava imaginando como fugir com a Alice nos braços para estar com ela logo em casa. Essa vontade era ainda maior na visita da noite, quando o relógio dava cinco para as dez e eu sabia que era hora de me despedir dela.

Mesmo tão pequenos, nossos bebês precisam de palavras de conforto, da certeza de serem amados. E principalmente – desde que permitido – não tenham medo de tocá-los! O meu momento mais feliz do dia era poder ficar alguns minutos com a Alice nos braços. Baixinho, eu elogiava minha filha e inventava musiquinhas com declarações de amor. Se vocês conseguirem fazer algo parecido, vão descobrir que isso acalma também os nossos próprios corações e ajuda a eliminar o fantasma de nos sentirmos tão impotentes.

Para me fortalecer, eu me agarrei na fé em Deus e na sensação de ser útil. Sem ser invasiva, porque cada mãe tem um jeito de encarar as coisas, eu procurava passar a experiência que eu já tinha para as novas mães que iam chegando.

Outra coisa absolutamente necessária pra mim foi alavancar um otimismo nos momentos mais críticos (que podem ser de vários tipos: seu filho precisar de uma transfusão de sangue, não ganhar o peso esperado, apresentar a necessidade de alguma cirurgia). Por favor, tentem ser otimistas. Isso ajuda a gente a não pirar.

E pode parecer estranho, mas coisas boas acontecem numa UTI. Minha filha teve uma “vizinha” de incubadora que nos deu vários sustos porque vira e mexe ela parava de respirar e tinha que ser reanimada. Eu e meu marido nos tornamos grandes amigos dos pais dela. É uma amizade muito especial, afinal fomos cúmplices no momento de maior vulnerabilidade de nossas vidas.

Minha idéia aqui não é ficar dando conselhos pra ninguém. É que eu me prometi torcer muito por quem está numa situação dessas. Faz quatro anos e meio que passei por isso e por mais saudável que a Alice esteja hoje, o barulho dos aparelhos de vez em quando ainda ecoa no meu ouvido.

Eu me lembro de como era quando um bebê tinha alta. Eu via a alegria no rosto dos pais que se despediam de nós e repetia para mim mesma: eu também vou ter essa felicidade.

Meu dia chegou e o de vocês também vai chegar. Depois de atravessar 58 noites sem a Alice em casa, o que eu posso dizer é que depois do deserto existe um oásis: o sorriso da minha filha pra mim a cada manhã. Acredite!

Com carinho,

Fabiana Santos

(Tudo Sobre Minha Mãe)

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