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Falta de tempo: será mesmo que precisamos viver sempre tão ocupados?

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Brian Brown - Aleteia Brasil - publicado em 29/02/16

Pode não parecer, mas viver ocupados demais é uma escolha – e podemos mudá-la

Você pergunta a um amigo como ele está. Resposta: “Ocupado”.

Mas por que vivemos tão ocupados?

Somos pressionados a pensar que a vida é algo a ser agendado: ficar sentados numa sala de aula durante três, quatro ou cinco horas, depois academia ou futebol ou vôlei ou natação ou artes marciais, depois aula de música ou de inglês ou de balé ou de reforço acadêmico, depois a lição de casa, depois um jantar apressado e insosso, depois uma curta noite de sono. Os pais de muitos de nós, é claro, nos modelaram desse jeito, trabalhando em tempo integral durante oito horas todo dia e agendando com quatro semanas de antecedência aquele espacinho da tarde de domingo para tentar encontrar o amigo Fulano ou Beltrano, que também não podia encontrá-los em nenhum outro momento.

Bom, vamos ser justos: podemos argumentar que os nossos pais estavam apenas tentando nos preparar adequadamente para as realidades competitivas de uma sociedade cada vez mais focada no sucesso material. Mas não podemos deixar de reconhecer a tensão cotidiana entre trabalhar pelo sucesso financeiro futuro e aproveitar a vida agora mesmo. Criar um filho materialmente bem sucedido e criar uma criança carinhosa e emocionalmente madura são tarefas que pedem estilos radicalmente diferentes de paternidade: a corrida pelo sucesso e a felicidade entram em conflito, muitas vezes, uma com a outra.

Quando a vida é pura preparação para o futuro e não sabemos apreciar o tempo do agora, mais cedo ou mais tarde “chegaremos lá”, mas não saberemos fazer mais nada a não ser tentar “chegar mais longe ainda”. É que o nosso modo de viver de hoje vai influenciar a nossa vida de amanhã. Se permitirmos que a exaustão dite os nossos hábitos e delimite o nosso lazer agora, vamos continuar cansados também amanhã. Vamos continuar estagnados – nós e aqueles que vierem depois de nós.

Todos nós juramos que vamos ser diferentes dos nossos pais. O pêndulo geracional oscila dos pais ausentes aos pais onipresentes e volta. Sabemos que a paternidade ao estilo “corrida pelo sucesso” não é nova. Nas Confissões, Santo Agostinho já lamentava que o pai tivesse investido enormes quantias de dinheiro para lhe dar a “melhor” educação (ou seja, informações e habilidades), mas não se importava em saber como o coração do jovem Agostinho estava sendo moldado: “Fui deixado como um deserto, sem cultivo para ti, ó Deus” (Confissões 2,3). Soa familiar, não?

A maioria dos jovens que conhecemos segue um estilo de vida agitado na vida adulta, com o excesso de ocupações e o estresse que vem com ele. Eles não sabem como parar essa espiral. Não sabem ser espontaneamente disponíveis para as coisas não programadas, para as interações da vida real. E, certamente, não têm uma visão clara do que significa “chegar lá”.

O que fazer?

Há coisas que os locais de trabalho poderiam fazer para ajudar os funcionários. Afinal, as pessoas realmente trabalham melhor quando têm mais tempo para respirar: lazer é igual a melhores resultados.

Mas a chamada “geração do milênio” também vai precisar fazer algumas escolhas. E aqui vão algumas perguntas para você mesmo se fazer:

O que importa mais, o trabalho ou outras coisas? Se a resposta é o trabalho, as outras coisas sempre vão sofrer. E, mais cedo ou mais tarde, você mesmo vai ser apenas mais uma das “outras coisas”.

Quais são as “outras coisas”? O que realmente faz a sua vida valer a pena? Quaisquer que sejam as opções, duas delas deveriam ser estas: “relacionamentos” (ou “comunidade”, se você preferir) e “lazer”.

Por “lazer”, eu não quero dizer apenas ócio, jogos e afins. Quero dizer momentos em que se tenha tempo livre para pensar, imaginar e intercambiar ideias. Trata-se de momentos como aquele em que se lê um bom romance acompanhado de um vinho ou de um café; em que se faz uma pausa ligeiramente alargada para o almoço e se dá um passeio ao ar livre; em que recebe um amigo ou um casal de amigos e se fica conversando durante algumas horas, dando folga às pressões do relógio.

Nosso instinto pode ser o de programar os tempos livres, mas as coisas programadas raramente são voltadas ao lazer e ao investimento em relacionamentos reais. Não quero dizer que nunca se deva agendar nada. Mas as pessoas que optam na vida por priorizar “as outras coisas” parecem conquistá-las mais facilmente, em especial quando convencem os amigos a fazerem o mesmo.

Sou bem consciente de que isto é muito mais difícil do que parece, já que a vida moderna parece estruturada para tornar tudo isso quase impossível, como se “O Sistema” quisesse ter a certeza de que nunca viveremos uma vida que faça sentido.

Mas o difícil não é impossível.

Se estivermos construindo a nossa vida em cima de coisas que não queremos priorizar, é hora de fazer alguma coisa para mudar esse panorama.

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