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Os 7 critérios científicos de uma cura milagrosa

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eldarnurkovic | Shutterstock

Reportagem local - publicado em 11/12/22

A Igreja não afirma a ocorrência de um milagre apenas porque queira ou possa

A Igreja não afirma a ocorrência de um milagre apenas porque queira ou possa: ela submete a análise de cada suposto milagre a uma sequência criteriosa de etapas científicas, que incluem, por exemplo, comissões médicas para estudar cada alegação de cura cientificamente inexplicável, ou seja, de cura milagrosa.

É o caso da Comissão Médica Internacional de Lourdes, cuja metodologia é a mesma usada na investigação científica. Aliás, seus membros costumam citar o princípio de Jean Bernard: “Quem não é científico não é ético”. Não se trata de cair no cientificismo ou no positivismo por si mesmos, e sim de buscar a verdade com a clara consciência daquilo que a encíclica Fides et Ratio veio a sintetizar magnificamente:

“A fé e a razão são como as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade”.

Os 7 critérios da cura milagrosa

O cardeal Prospero Lambertini, que se tornaria mais tarde o papa Bento XIV (pontífice de 17 de agosto de 1740 até a morte em 3 de maio de 1758), detalhou as características do milagre do ponto de vista médico-científico na “De servorum beatificatione et beatorum canonizatione” (“A beatificação dos servos de Deus e a canonização dos beatos”), livro IV, capítulo VIII, 2-1734, definindo 7 critérios para o reconhecimento de uma cura extraordinária ou inexplicável:

  1. A doença deve ter características de gravidade, com prognóstico negativo.
  2. O diagnóstico real da doença deve ser certo e preciso.
  3. A doença deve ser apenas orgânica.
  4. Eventual tratamento não pode ter favorecido o processo de cura.
  5. A cura deve ser repentina, inesperada e instantânea.
  6. A retomada da normalidade deve ser completa (e sem convalescência).
  7. A cura deve ser duradoura (sem recaída).

Os 7 critérios de Lambertini são válidos até hoje e esclarecem o perfil específico da cura inexplicável, garantindo que toda objeção ou contestação seja levada em ampla consideração antes de se atestar que uma determinada cura foi “não explicável cientificamente”.

De 7.200 supostos milagres, só 70 reconhecidos

A seriedade das avaliações de supostos milagres pode ser percebida nos números relacionados ao santuário mariano de Lourdes, na França, o mais visitado do mundo por peregrinos em busca de cura física:  desde 1858, houve mais de 7.200 alegações de cura milagrosa, mas apenas 70 casos foram declarados efetivamente inexplicáveis do ponto de vista médico-científico até hoje.

O mais recente caso é o da irmã Bernadette Moriau, uma religiosa francesa que atualmente tem 79 anos de idade. Ela não conseguia andar sem ajuda. Peregrinou ao santuário mariano em 2008 e, pouco tempo depois, viu-se perfeitamente recuperada enquanto fazia adoração ao Santíssimo Sacramento.

Após 8 anos de avaliações e estudos, os médicos e cientistas reconheceram, em novembro de 2016, que a sua cura é cientificamente inexplicável. As reflexões por parte da Igreja sobre o caso prosseguiram. E a confirmação do milagre foi tornada pública em 11 de fevereiro de 2018, festa de Nossa Senhora de Lourdes e Dia Mundial dos Enfermos. Saiba mais sobre a irmã Bernadette, sua doença e sua cura acessando este outro artigo.

Até o reconhecimento deste caso, o mais recente milagre confirmado em Lourdes era o de Danila Castelli. Ela foi curada em 1989, mas o anúncio formal da inexplicabilidade científica de sua cura só aconteceu em 2013; portanto, foram 24 anos de estudos e pesquisas, disponíveis para a contestação da comunidade científica.

Já o primeiro caso reconhecido em Lourdes tinha sido a cura de Catherine Latapie, ocorrida poucos dias depois da primeira aparição de Nossa Senhora em Massabielle.

Um caso de impressionar

Um dos casos de cura mais impactantes que passaram pela Comissão Médica Internacional de Lourdes é o da religiosa Luigina Traverso. Ela foi curada repentinamente de uma lombociática incapacitante de meningocele no dia 23 de julho de 1965, após anos de tratamento médico e várias cirurgias que não tinham dado resultado.

Em 20 de julho de 1965, a irmã viajou até Lourdes em estado grave – aliás, os médicos tinham recomendado que ela não fizesse a peregrinação porque a viagem representava alto risco de morte.

Em 23 de julho, na passagem do Santíssimo Sacramento durante a celebração eucarística, a irmã Luigina relata ter experimentado uma súbita sensação de forte calor e bem-estar, acompanhada pelo “desejo de ficar de pé” – o que era impossível para ela havia meses. De repente, ela recuperou o movimento dos pés e deixou de sentir dor.

Em 24 de julho, acompanhada pela madre superiora, a religiosa caminhou sem ajuda alguma até a gruta de Lourdes para agradecer a Nossa Senhora. No mesmo dia, participou da via-crúcis dos peregrinos e subiu rezando até a quarta estação – a subida é íngreme. Ao longo dos dias seguintes, a irmã Luigina já estava ajudando a cuidar dos doentes que peregrinavam ao santuário.

Demorou até 2012 para que o milagre fosse reconhecido, cumpridas todas as rígidas etapas de estudos médicos e científicos e, por último, de análise por parte da Igreja.

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