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O mito do ‘amar a si mesmo em primeiro lugar’

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Michael Rennier - publicado em 23/05/16

Como eu encontro a minha felicidade? Como posso aprender a me amar?

Recentemente, Oprah Winfrey conversou com o pastor Joel Osteen, autor de um livro sobre “o poder do ‘eu sou'”. Vi um tweet interessante desse pastor outro dia: “Você não é responsável pela felicidade de outras pessoas; você é responsável pela sua própria felicidade”.

Vê o problema aqui?

Levei um momento para perceber, porque este parece ser um grande conselho. Na verdade, parece tão grande que não faltam gurus de auto-ajuda que regularmente tentam nos convencer a pensar desta forma. O problema é que o conselho começa e termina com “EU”. Como eu encontro a minha felicidade? Como posso aprender a me amar? E nós aceitamos essa ideia! Um EU tão poderoso faz a pessoa ficar centrada em si mesma, voltada para o seu egoísmo. Embora possa ser tentador – e mais fácil – simplesmente esquecer as outras pessoas e aprender primeiro a amar a si mesmo, esse conceito está fadado ao fracasso.

A maravilha do ser humano é que somos as únicas criaturas com capacidade de dar e receber amor. Nós somos feitos à imagem de Deus e, se Ele é amor, então somos mais parecidos com Ele quando amamos. Se o nosso objetivo é a felicidade, vamos encontrá-la apenas por viver de acordo com a sua forma. No nosso desespero para seguir os nossos desejos em busca de realização pessoal, nos perdemos. Quanto mais pensamos sobre nós mesmos em primeiro lugar, menos felizes somos.

Há concreta, científica evidência de que as pessoas são feitas desta forma. Ao longo dos últimos anos, muita pesquisa tem sido feita sobre crianças em orfanatos. Um estudo agora famoso mostrou que os órfãos com idade inferior a 5 anos que não receberam carinho humano normal sofreram muito por isso, às vezes até mesmo morreram por causa disso.

“Como simplesmente estar em um orfanato poderia matar um bebê?”, perguntou Maia Szalavitz, neurocientista que fez parte do estudo. “Basicamente, os bebês morrem por falta de amor. Quando uma criança cai abaixo do limiar da afeição física necessária para estimular a produção de hormônio do crescimento e do sistema imunológico, o corpo começa a desligar”.

Infelizmente, mesmo as crianças que sobrevivem à negligência irão sofrer por isso. A boa notícia é que, sendo acolhida por uma família amorosa, mesmo que chegue tarde, isso tem o poder para preencher as lacunas emocionais profundas deixadas pela negligência.

Os efeitos extremos de uma falta de amor enchem nossos feeds de notícias com demasiada frequência. Há um monte de diferentes teorias sobre a causa subjacente da violência e por que os tiroteios parecem aumentar, mas um traço comum é que todos os atiradores foram prejudicados no passado por negligência, pais ausentes, famílias desfeitas ou isolamento social. Muitos dos atiradores querem ser famosos. Esses assassinos fazem suas próprias escolhas e assumem a responsabilidade pelo mal que cometeram, mas também devemos reconhecer que, para eles, este é um grito de socorro, uma maneira de ganhar a atenção que faltou e sentir que eles merecem atenção. Eles estão desesperados pelo contato humano, mas porque nunca aprenderam a amar, buscam remediar sua solidão com a violência. Para eles, ser temporariamente famoso e depois morto é melhor do que estar vivo e sozinho.

Os viciados em drogas ou álcool estão em uma situação muito diferente, mas eles também estão tentando buscar companhia humana. Recentemente, Johann Hari, um jornalista britânico que passou anos pesquisando a guerra contra as drogas e o vício, propôs uma surpreendente teoria sobre o que realmente causa dependência. A resposta não é exatamente a formação de uma dependência química. Em vez disso, ele escreve, “o oposto do vício não é a sobriedade. É a conexão humana”. Vencer o vício pode não ser uma questão de força de vontade ou tratamento médico. Quando os usuários de drogas ou álcool são cercados por amigos e familiares e se sentem amados, eles são muito menos propensos a formar vícios em primeiro lugar ou ter recaídas se eles estão em recuperação.

Falta de amor pode, literalmente, destruir, mas, por outro lado, a sua presença tem o poder de restaurar a vida, mesmo no caso de um bebê prematuro que foi declarado morto ao nascer, mas quando sua mãe e seu pai o abraçaram e o amaram, ele voltou à vida. Ele está vivo e feliz hoje.

O amor não é menos importante para nós no cotidiano, à medida que navegamos nossas próprias vidas e tentamos encontrar a felicidade. Sim, existem alguns casamentos que são dolorosos e pouco saudáveis – qualquer tipo de união faz com que tais danos em longo prazo precisem ser tratados. Nós ouvimos dos casamentos que terminam em divórcio que um dos parceiros precisa de espaço, ou eles não preenchem mais as necessidades do outro. É cada vez mais comum adiar ter filhos, porque eles são inconvenientes no momento, um obstáculo para alcançar os objetivos individuais, como carreira ou viagens.

E, no entanto, sabemos que simplesmente estar casado faz as pessoas viverem mais tempo.

Não estou dizendo que todos nós não precisamos de algum tempo para si. Eu tenho a tendência a me retirar quando estou estressado ou cansado, o que é saudável. Mas às vezes me retiro porque é o caminho mais fácil. Mas fácil não é sempre o que é melhor. Nós não podemos dar amor a nós mesmos, porque o amor só é valioso quando é doado. Darei aos meus entes queridos o que eles precisam, eles vão me dar o que eu preciso, e vamos ser felizes juntos.

Quem eu sou é refletido nas pessoas que amo. Eles são a minha identidade.

Para mim, o amor é muito simples. É simplesmente lembrar de ligar para minha mãe e perguntar como foi seu dia, permitir um amigo desabafar sobre um dia ruim, jogar um jogo de tabuleiro com a minha filha, ou não pegar meu smartphone quando estou falando com alguém para que ele saiba que estou ouvindo. É o compromisso simples de não se retirar para o que é conveniente ou fácil, para estar presente para outras pessoas e considerar suas necessidades e não apenas a minha própria. Eu não sou sempre bom no que faço, mas é importante tentar.

Então, Oprah – é assim que eu respondo suas perguntas:

“O que eu tenho que fazer para chegar aonde preciso estar?”. Pare de se concentrar tanto no que precisa para si mesma e comece a ajudar os outros a alcançar seus objetivos. Eu provavelmente ainda alcançaria meus objetivos e a troca valeria a pena. Conseguir um novo emprego ou uma casa grande é algo bom, mas não vai trazer felicidade se eu estiver sozinho.

“Como faço para criar a vida que eu quero?”. Eu não posso criar o tipo de vida que eu quero, sem aqueles que eu amo. Em vez disso, ajudar a criar uma vida feliz para eles por estar presente para eles. Eles irão notar e devolver o favor. Nós criamos o tipo de vida que queremos juntos, não individualmente.

Nós avançamos juntos. Estamos felizes juntos. Os bebês que foram negligenciados em orfanatos se recuperam quando colocados em uma família. Mesmo que tenhamos caído na armadilha de pensar em nós mesmos em primeiro lugar, nunca é tarde demais para dar a virada e começar a amar. Como a criança natimorta que recebeu amor e voltou a viver, para todos nós, há a possibilidade de uma nova vida.

Michael Rennier vive em St. Louis, Missouri, com sua esposa e cinco filhos.Ele é editor colaborador da Dappled Things, uma revista dedicada à arte e literatura.

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