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Jacques Hamel, primeiro padre mártir na Europa assassinado por terroristas

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Aleteia Brasil - publicado em 27/07/16

A carta que este sacerdote poderia ter escrito aos assassinos que o degolaram durante a Missa dessa terça-feira

A terrível mão do Estado Islâmico está por trás do assassinato a sangue frio do padre francês Jacques Hamel, nessa terça-feira, durante uma Missa na igreja de Saint Etienne du Rouvray que leva o nome de Santo Estêvão, o primeiro mártir da cristandade.

“Vou trabalhar até o meu último respiro”, tinha dito recentemente o padre Jacques ao sacerdote que o incitava a se aposentar, devido à sua avançada idade. De fato, este padre idoso fez o seu trabalho até que tomou o seu último alento justo antes que um extremista lhe cortasse a garganta em plena Missa.

Assim, o padre Jacques Hamel se tornou o primeiro sacerdote “mártir” no Velho Continente nos tempos do terror fundamentalista do Estado Islâmico.

7 sacerdotes, 5 religiosos e 2 agentes da Caritas foram mortos em: (6) Asia, (3) América, (4) África e (1) Europa.

Era um sacerdote de 84 anos, auxiliar da paróquia, que há apenas oito anos havia festejado suas bodas de ouro sacerdotais.


A edição árabe da Aleteia, mais acostumada a sofrer de perto a violência do Estado Islâmico, escreveu esta carta abaixo imaginando o que o padre Jacques Hamel poderia ter dito aos seus assassinos desde o Céu:

Sou o padre Jacques Hamel, o sacerdote francês a quem vocês mataram hoje na igreja. Sou um sacerdote que seguiu Jesus para viver do seu exemplo. 

Vocês me mataram por ódio. Creem que sou um pecador, “eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos” (Mateus 5, 44-45).

Ao final, vocês não conhecem em nada a Deus, e o deus em cujo nome vocês matam pessoas não é nosso Deus, e eu lhes digo e também digo a todos que alimentam o ódio: “pelo contrário, amai os vossos inimigos, fazei bem e emprestai, sem daí esperar nada. E grande será a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo, porque ele é bom para com os ingratos e maus. Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados;dai, e dar-se-vos-á. Colocar-vos-ão no regaço medida boa, cheia, recalcada e transbordante, porque, com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também” (Lucas 6, 35-38).

Vocês acabaram me dando algo pelo que trabalhei muito para alcançar, que é me encontrar com o Senhor, meu Deus. Mataram-me no altar do meu Senhor, na igreja, e me converteram em mártir do Amor: “a morte foi tragada pela vitória (Is 25,8). Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão (Os 13,14)?” (1 Coríntios 15, 55).

Hoje eu descanso eternamente, enquanto vocês permanecem sofrendo. Rezo para que se arrependam e lhes digo: “não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que se acham nos sepulcros sairão deles ao som de sua voz: os que praticaram o bem irão para a ressurreição da vida, e aqueles que praticaram o mal ressuscitarão para serem condenados” (João 5, 28-29).

Estão tentando nos matar porque somos infiéis? Não somos todos irmãos e temos um só Deus? Mas concordo com vocês que o nosso Deus é diferente do seu. “Em verdade vos digo: aquele que crê tem vida eterna” (João 6, 47).

Hoje eu recebi a Eucaristia. Sabem o que Deus diz sobre sua carne? “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia (João 6, 54). Estou ressuscitado e contemplando o rosto de Deus. Rezo por vocês, para que se arrependam e contemplem um dia o rosto de Deus no fogo.

Aqueles que lhes prometeram o céu por matar seus irmãos estão os conduzindo à morte. “Eis a promessa que ele nos fez: a vida eterna” (1 João 2, 26). Eu viverei para sempre e lhes desejo que conheçam esta vida; a eternidade é com Cristo e nenhum outro.

Apesar do seu ódio e de terem me assassinado, eu vos amo.

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