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“Amoris laetitia”; o Papa explica qual é a interpretação correta

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REUTERS

Andrea Tornielli - publicado em 16/09/16

Como se sabe, no oitavo capítulo, o documento trata da integração das famílias "feridas"

O texto “é muito bom e expressa plenamente o significado do capítulo VIII de ‘Amoris laetitia’. Não há outras interpretações”. Em uma carta enviada para os bispos da região de Buenos Aires, o Papa Francisco deixa claro, pela primeira vez, um julgamento sobre a interpretação correta da Exortação pós-sinodal sobre a família.

Como se sabe, no oitavo capítulo, o documento trata da integração das famílias “feridas”, irregulares, convidando a um caminho de discernimento que, de acordo com cada uma das histórias pessoais e sem entrar na casuística ou na especificação de mais regras, pode levar também à admissão da comunhão. O documento papal teve diferentes leituras. Alguns intérpretes foram rápidos em dizer que nada mudava no que diz respeito à disciplina anterior.

O Papa falou a respeito durante o vôo de volta da ilha de Lesbos, em abril deste ano. Perguntaram-lhe se haviam novas possibilidades concretas de acesso à comunhão que não existia antes da publicação de “Amoris Laetitia”: “Eu diria que sim, e ponto – respondeu Bergoglio. Mas seria uma resposta muito pequena. Eu encorajo a todos vocês a lerem a apresentação feita pelo Cardeal Schönborn, que é um grande teólogo”.

O documento dos bispos da região de Buenos Aires foi enviado para o clero no início de setembro e está escrito em forma de carta que oferece aos sacerdotes certos critérios em relação ao oitavo capítulo da Exortação e, em particular, sobre o possível acesso à comunhão para divorciados recasados.

Antes de tudo, afirma-se que não convém “falar de permissões” para a admissão da comunhão, mas de um processo de discernimento acompanhado de um pastor”. Uma maneira na qual o pastor “deveria enfatizar o anúncio fundamental, o kerygma, que estimule ou renove o encontro pessoal com Jesus Cristo vivo”.

Para este “acompanhamento pastoral” é necessário que o sacerdote demonstre “o rosto materno da Igreja”, exige a “caridade pastoral do sacerdote que acolhe o penitente, o escuta com atenção e mostra o rosto materno da Igreja, uma vez que aceita a sua intenção verdadeira e seu bom propósito de sujeitar a vida inteira à luz do Evangelho e de praticar a caridade”. Este caminho, “não acaba necessariamente na comunhão, mas pode orientar-se a outras maneiras de se integrar mais na vida da Igreja: uma maior presença na comunidade, a participação em grupos de oração ou reflexão, o compromisso em diversos serviços eclesiais, etc.”.

O documento dos bispos da região de Buenos Aires explica: “Quando as circunstâncias específicas de um casal o tornam possível, especialmente quando ambos são cristãos com um caminho de fé, pode-se propor o compromisso de viver em continência”, deixando “aberta a possibilidade de ter acesso à comunhão da Reconciliação quando se fale neste propósito”. Uma possibilidade que já se encontrava nos ensinamentos de João Paulo II.

No parágrafo seguinte, os bispos explicam que, no caso de “outras circunstâncias mais complexas, e quando não se pode obter uma declaração de nulidade, a opção mencionada (a de continência) não é possível. No entanto, igualmente é possível um caminho de discernimento. Caso for reconhecido que, num caso concreto, há limitações que diminuem a responsabilidade e culpa, particularmente quando uma pessoa considerar que cairia em uma falha anterior prejudicando os filhos da nova união, ‘Amoris laetitia’ abre a possibilidade de acesso à comunhão da Reconciliação e da Eucaristia”.

“Isto, por sua vez – continua o texto – estimula a pessoa a continuar amadurecendo e crescendo com o poder da graça. Mas é preciso evitar – explicam os bispos – entender essa possibilidade como um acesso sem restrições à comunhão, ou como se qualquer situação fosse justificada. O que se propõe é um discernimento que distingue adequadamente cada caso.

Por exemplo, se requer um cuidado especial para “uma nova união que vem de um divórcio recente” ou “a situação de alguém que tenha falhado repetidamente em seus compromissos familiares”. Além disso, há um cuidado quando há uma série de pedidos de desculpas ou de exposição da própria situação, “como se fosse parte do ideal cristão”. É preciso orientar a pessoa para que se coloque “com a sua consciência diante de Deus”, especialmente em relação ao comportamento “com seus filhos ou com o cônjuge abandonado. Quando houver injustiças não resolvidas, o acesso à comunhão é particularmente ultrajante”.

Para concluir, os bispos observam que “pode ser conveniente que uma eventual admissão à comunhão se realize de modo reservado, especialmente quando se preveem situações de conflito”. Mas, ao mesmo tempo, “não se deve deixar de acompanhar a comunidade para que haja crescimento num espírito de compreensão e aceitação”.

Em 5 de setembro, veio a resposta do Papa, que felicitou os bispos por seu trabalho: “um verdadeiro exemplo de acompanhamento para os sacerdotes”. E então, a frase-chave: sobre o texto dos bispos da região de Buenos Aires “A escrita é muito boa e expressa plenamente o significado do capítulo VIII de ‘Amoris laetitia’. Não há outras interpretações. E eu tenho certeza que esta fará muito bem”. Em relação à “forma de acolhimento, acompanhamento, discernimento e integração”, Francisco escreveu: “Sabemos que isto é cansativo, se trata de uma pastoral ‘corpo a corpo’ não satisfeita com mediações programáticas, organizacionais ou coletivas, mas necessárias”.

(Vatican Insider)

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DivórcioEucaristiaFamíliaPapaPapa Francisco
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