…Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada…Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado
Da vossa alta piedade me despido;
Antes, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida já cobrada,
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História:
Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
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O poeta luso-brasileiro Gregório de Matos Guerra (1636-1696) nasceu em Salvador, na Bahia, e é considerado o maior representante do Barroco no Brasil. Crítico e sarcástico diante dos desmandos e hipocrisias de políticos e de membros do clero católico, foi chamado de “Boca do Inferno”. Chocou a sociedade colonial com seus poemas eróticos. Perto do final da vida, porém, manifestou arrependimento quanto à sua relação com a Igreja e, em suas obras, passou a refletir sobre a insignificância do homem perante Deus, consciente do pecado e em busca de perdão.
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