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O dia em que um partido venezuelano trocou o Pai-Nosso pelo “Chávez nosso que estás no céu”

fanatismo

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Francisco Vêneto - publicado em 13/03/17

Culto à personalidade: um nível doentio de fanatismo ideológico beirando o endeusamento

O culto à personalidade é uma forma doentia de fanatismo que se verifica com frequência no mundo religioso, esportivo, artístico, do entretenimento e no âmbito ideológico ou pseudopolítico.

Não estamos falando aqui meramente daquele grau exacerbado de “admiração” que gera acalorados bate-bocas em defesa da pessoa admirada, mas sim de culto propriamente dito, beirando o endeusamento ou chegando de fato a ele.

Nicolás Maduro, presidente da Venezuela e sucessor de Hugo Chávez no bolivarianismo, chegou a declarar explicitamente que foi Chávez quem, recém-chegado ao céu, enviou à Terra o Papa Francisco, primeiro pontífice latino-americano. Ainda a propósito da morte de Chávez, o próprio Maduro declarou que chegou a dormir ao lado do caixão do “Comandante”. Chávez ainda teria lhe aparecido, depois de morto, em forma de passarinho. Sempre segundo Maduro, também é de Hugo Chávez o “rosto” milagrosamente aparecido na parede de um túnel em obras do metrô de Caracas. Para “aprofundar o estudo e a difusão do pensamento e valores” do fundador do bolivarianismo, Maduro criou o Instituto de Altos Estudos do Pensamento do Comandante Supremo Hugo Rafael Chávez Frías (IAEPCSHRCF), que, além de “fiscalizar o correto uso da imagem de Chávez nas homenagens”, deverá ouvir e transcrever dezenas de milhares de horas dos longos discursos de Chávez a fim de transformá-los em livro de referência. A Chávez, entre outros títulos, Maduro dedica os de Comandante Supremo, Líder Eterno, Messias dos Esquecidos e, simplesmente, Pai.

E “Pai” não é só um epíteto carinhoso, mas uma verdadeira associação de Hugo Chávez a Deus. Este grau de fanatismo é explicitado até mesmo numa “prece”: a “oração do delegado”, apresentada formalmente ao público durante a “I Oficina para o Desenho do Sistema de Formação do PSUV”, o Partido Socialista Unido da Venezuela, em seu III Congresso, realizado em 2014, um ano após a morte de Chávez. A “oração”, lida pela delegada do partido María Uribe, “reza”:

Chávez nosso que estás no céu, na terra, no mar e em nós, os e as delegadas, santificado seja o teu nome, venha a nós o teu legado para levá-lo aos povos daqui e de lá. Dá-nos hoje a tua luz para nos guiar a cada dia, não nos deixes cair na tentação do capitalismo, mas livra-nos da maldade da oligarquia, do delito do contrabando, porque de todos e todas nós é a pátria, a paz e a vida, pelos séculos dos séculos. Amém. Viva Chávez“.

O congresso teve participação de cantores e poetas que dedicaram obras a Hugo Chávez e à sua “revolução bolivariana”. Em seu discurso na ocasião, Nicolás Maduro destacou que a revolução “exige cada vez mais formação de valores”:

Quando nos perguntamos que valores devemos formar, e quando nos perguntamos onde devemos formar esses valores, só tem uma resposta: devemos nos formar nos valores de Chávez no combate diário na rua, criando, construindo revolução, fazendo revolução”.

De fato, o culto à personalidade não costuma ficar no âmbito privado. Ele pretende “converter” a todos à força, chamando a sua própria imposição de “revolução de valores”.

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