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Bebê órfão do Estado Islâmico volta para casa no Sudão

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© Fondation Sainte-Geneviève

© Fondation Sainte-Geneviève

Agências de Notícias - publicado em 15/03/17

Um dia o telefone tocou, e era Aya. Ligou para contar que tinha se juntado ao EI na Líbia com quatro amigas

Quando os agentes dos serviços de segurança bateram à porta do empresário Alithi Yousef, em Cartum, ele entendeu que seu pior pesadelo tinha se tornado realidade.

“Fui informado que, em 17 de janeiro, minha filha Aya morreu em combates em Sirte”, disse à AFP Yousef, em referência à cidade líbia que foi controlada durante meses pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI), até este ser expulso, em dezembro.

“Disseram que tinham, no entanto, uma boa notícia: Aya deixou um bebê de quatro meses”, que chegou a Cartum no mês passado.

Em 30 de agosto de 2015, Aya, que tinha 20 anos e era estudante de medicina em uma universidade da capital sudanesa, desapareceu de um restaurante da cidade, horas depois de terminar suas provas.

Durante dois meses, seus pais não tiveram notícias dela.

Mas um dia o telefone tocou, e era Aya. Ligou para contar que tinha se juntado ao EI na Líbia com quatro amigas.

Segundo as autoridades sudanesas, dezenas de estudantes como Aya se alistaram no grupo extremista na Líbia, Síria ou Iraque, e meios de comunicação do país publicaram que algumas delas morreram.

– Metamorfose –

Yousef disse que algumas das amigas de Aya que se uniram ao EI tinham passaportes dos Estados Unidos ou do Reino Unido.

“Eu tinha certeza de que Aya não poderia ir porque ela tinha passaporte sudanês, mas me enganei”, declara Yousef, um empresário, na sua luxuosa casa de dois andares nos arredores de Cartum.

Aya foi à Líbia por terra. Seu passaporte foi encontrado em um apartamento da capital sudanesa, alguns dias depois da sua partida.

Na Líbia, casou-se com um membro sudanês do EI que frequentava a mesma universidade que ela em Cartum, acrescenta Yousef, mostrando a certidão de casamento emitida pelos jihadistas em Sirte.

Aya e seu marido, ambos combatentes, morreram em Sirte quando a cidade foi retomada, mas os detalhes são desconhecidos.

Yousef e a esposa, Manal Fadlallah, lembram que notaram uma mudança rápida no comportamento da filha antes dela partir.

Educada em uma escola primária inglesa em Abu Dhabi, onde a família viveu anos atrás, Aya cresceu ouvindo música ocidental e lendo romances em inglês.

A passagem para o “Islã radical”, porém, foi rápida. Sua personalidade mudou no segundo ano da faculdade, conta Yousef, enquanto sua esposa dá a mamadeira à neta Lojien, a filha de Aya.

– Em seu próprio mundo –

Aya, que costumava se vestir casualmente, com calça jeans e camiseta, começou a usar roupas conservadoras, como o véu islâmico. Também deixou de visitar os amigos e de cumprimentar os homens, conta Yousef.

Rezar cinco vezes por dia se tornou parte da rotina, e sua família a ouvia recitando versos do Corão até tarde da noite.

“Ela se ensimesmou, se fechou em seu próprio mundo, que estava escondido de nós”, disse Yousef.

“Quando perguntamos a ela quem estava por trás disso, ela nos disse: ‘Agora eu conheço meu Deus’”, conta Fadlallah.

Yousef afirma que confiava na filha e que nunca checava seu telefone ou computador.

“Se eu soubesse dos seus projetos, teria ficado o tempo todo no seu quarto, nunca a teria deixado sozinha”, acrescenta Yousef, que é pai de quatro filhos.

No quarto de Aya, há uma estante cheia de livros em inglês, como “O caçador de pipas”, do famoso escritor afegão-americano Khaled Hosseini.

Fadlallah mostra fotografias da infância da filha. Em uma delas, Aya aparece sentada ao lado de um Papai Noel enquanto comemorava o Natal na escola em Abu Dhabi.

Seus pais agora têm a tarefa de criar Lojien sozinhos.

“Temos uma grande responsabilidade”, disse Yousef. “Lojien é muito querida para nós, ela é filha de Aya, e Aya era especial”, conclui.

(AFP)

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