Enviar missionários para evangelizar grupos não-cristãos, como algumas tribos indígenas, não é uma falta de respeito para com a cultura daqueles povos?
A missão mais íntima da Igreja se resume no anúncio e transmissão do Evangelho, que é “poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1, 16), mas ainda em ser um instrumento da presença de Jesus no mundo, por meio de um trabalho inicial de humanização dos valores culturais mediante a integração do cristianismo, sempre respeitosa da liberdade dos outros.
É preciso fazer algumas distinções, para não cair em certa confusão. Os missionários são missionários enquanto levam o Evangelho onde este não é conhecido, em obediência ao mandato de Cristo (Mc 16, 16; Mt 28, 19). A Igreja que, por meio deles, entra em contato com os povos, é bem consciente de que nem tudo o que se encontra em um modelo cultural é positivo, em primeiro lugar para o ser humano.
Portanto, às vezes é preciso realizar um trabalho prévio ao anúncio do Evangelho, mas inspirado nos valores do Evangelho: um trabalho de humanização da cultura. Por exemplo: nos lugares em que uma comunidade cristã conseguiu se instalar, os missionários trabalham para garantir que as pessoas cheguem a um padrão de vida verdadeiramente capaz de garantir a dignidade humana.
A luta contra a pobreza, a crítica a sistemas sociais sectários (como as castas, na Índia), a condenação da poligamia e da escravidão são aspectos deste empenho dos cristãos por humanizar uma sociedade – e isso independentemente do fato de as pessoas se tornarem ou não cristãs.
Então, não é realmente uma falta de respeito para com esses povos o fato de tentar introduzir e inocular em sua forma de vida estímulos capazes de incentivar uma nova modalidade de ação. É apenas uma primeira fase de uma ação cristã de fermento, que consiste em anunciar o Evangelho como o ápice de uma caminhada.
Certamente, a crítica de determinados modelos sociais, de costumes, pode trazer à tona tensões presentes em uma sociedade não-cristã, mas são tensões benéficas. É verdade que, no passado, a Igreja cometeu erros o aplicar um método missionário baseado na imposição da cristianização forçada da cultura, mas isso ocorreu há muitos séculos, com as campanhas militares de Carlos Magno e, mais tarde, com a descoberta do Novo Mundo.
Estas experiências pertencem à história do amadurecimento do método missionário.