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Por que é necessária a educação sexual?

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Aleteia Brasil - publicado em 25/01/13

Quais as diretrizes para uma boa educação dos filhos no campo da sexualidade?

A educação sexual pressupõe um educador (pais, professores) com um papel ativo e corresponsável, porque aponta e convoca para os valores. A educação sexual faz parte da educação integral da pessoa, em todas as suas dimensões. Implica um trabalho em três âmbitos: a responsabilidade, a consciência e a aspiração ao valor. É necessário educar as consciências para que os adolescentes saibam descobrir o sentido e o valor das coisas e dos próprios atos.

A educação não pode se ocupar somente da informação, da transmissão de conhecimento, pois a grande exigência hoje é “afinar a consciência” para perceber o sentido inerente a cada situação que se nos apresenta e, de modo extensivo, o sentido da sexualidade na vida pessoal. A educação para a sexualidade implica um trabalho em três âmbitos: a responsabilidade, a consciência e a aspiração ao valor. A responsabilidade é uma característica fundamental do homem. Mesmo uma criança já pode pressupor o valor de uma ação.

Educar as consciências torna-se hoje um imperativo para que os adolescentes saibam descobrir o sentido e o valor das coisas e dos próprios atos. Caso contrário, a mídia, as pseudociências ou outras instâncias mediadoras da cultura – ou da subcultura – se tornam o critério ético da conduta. Diante da enxurrada de informações e mensagens contraditórias e desorientadoras, o grande desafio para a educação é aprender a discernir – saber o que é e o que não é importante, o que é e o que não é essencial – em uma palavra: o que tem sentido e o que não tem.

A dinâmica da educação em seu aspecto formativo não é um processo de fora para dentro; ao contrário: acontece num espaço existencial entre o ser que sou e o ser que devo ser ou que aspiro a ser.

Os fundamentos da disposição pedagógica do homem são: a responsabilidade, a consciência e a aspiração ao valor.

A educação sempre supõe liberdade, mas concretamente liberdade para transformar-se, para ser-de-outra-maneira. E isso não se dá por uma vontade dos pais ou professores, mas sim por uma intuição do dever vivido pela criança como algo próprio.

Assim, se o estado adulto se caracteriza pela autonomia e pela capacidade de ser responsável, pressupõe-se já na infância tal capacidade. Isso não significa que a criança seja um ser incompleto e não deva ser respeitada por ser ela mesma, isto é, uma criança; pelo contrário, o fato de ser um ser completo é que possibilita a ela vir-a-ser o que é – um ser responsável.

Nessa visão, se a finalidade da educação sexual é chegar a viver uma sexualidade madura, plena, esta pressupõe um caminho a percorrer, pois o estado adulto não irrompe de uma só vez: vai se estruturando em correspondência com cada um dos estágios do desenvolvimento, sobre a base infantil.

O processo de “adolescer” (crescer) também não se dá como mero desenvolvimento espontâneo de um potencial já presente, ou por simples influência do meio, mas traz consigo uma exigência: é um processo de decisão responsável – parte de uma instância espiritual que é o ser que decide (pessoa) e assume o projeto de tornar-se uma personalidade adulta e responsável pela própria existência.

Além da responsabilidade, a consciência é outro elemento estruturador da disposição pedagógica do homem. A consciência é uma capacidade intuitiva, pré-lógica, uma vez que tem sua raiz plantada no “inconsciente espiritual”. Este fundo inconsciente se manifesta em todas as etapas da vida, antes de se manifestar no plano do entendimento consciente, e é o fator que fundamenta o desenvolvimento da personalidade.

Desde cedo a criança pode ter uma consciência pré-lógica de si mesma (intuir quem é, perceber-se como alguém único) e uma consciência pré-moral do valor (intuir o que vale em dada situação ou o que tem sentido para ela naquele momento).

As influências educativas externas, portanto, além de serem reais, são também necessárias, mas não devem ter uma função coativa. São, ao contrário, representações de uma “ordem” vivida como tal pela criança desde cedo, que lhe vão dando a segurança necessária para passar de uma “consciência heterônoma” a uma “consciência autônoma” (Piaget).

Vale resgatar o legítimo sentido da autoridade que contribui para essa passagem. O exercício da autoridade que busca a independência criadora do outro tem essas características: é aberta à complexidade da realidade, promove uma liberdade responsável, permite um clima de permissividade participativa, se funda na relação afetiva e no respeito mútuo, é exercida na convivência, não no enfrentamento.

Hoje, mais do que nunca, os princípios de autoridade e de responsabilidade em educação se revestem de primordial importância, mas nunca foi tão difícil implementá-los nessa cultura que preconiza a emancipação da criança em relação ao adulto.

Cabe à educação fortalecer essa noção de que a pessoa não madurece espontaneamente, mas necessita da própria intervenção mediada pelo adulto. Não é possível que o ser humano alcance uma vida dotada de sentido se não consegue despedir-se do paraíso da infância.

Educar para a emergência da consciência, portanto, supõe: fortalecer a vontade infantil; ativar impulsos, conhecimentos e experiências sem esperar recompensas no imediato; gerar forças para a confrontação crítica da visão do mundo própria e alheia; ajudar a entender a necessidade de tolerar críticas, elaborar fracassos e superar culpas; despertar a disposição para assumir responsabilidade. “Mais que nunca”, escreve Viktor Frankl, “a educação é educação para a responsabilidade”.

A aspiração ao valor é um terceiro elemento a se considerar. O ser humano não está necessariamente impulsionado pelo instinto; como ser espiritual é “atraído” pelo valioso, e somente nessa perspectiva pode ser educado. Nenhuma educação seria capaz de levar a criança ou o adolescente a aspirar valores se eles não levassem consigo, como disposição inata, a capacidade de vivência valorativa.

A criança e o adolescente estão muito mais próximos aos valores do que o adulto imagina ou pensa conduzi-los; isto porque sua consciência tem a capacidade pré-lógica de captar o sentido, ou captar o valioso presente em cada situação.

A aspiração ao valor (ou a vontade de sentido) não entra em jogo somente quando relacionada aos valores universais – ao belo, ao bom e ao verdadeiro –, mas se estende a todas as instâncias da vida humana. Os valores surgem com as exigências do dia a dia e com as tarefas pessoais.

Como acontece com a responsabilidade, a capacidade de perceber e realizar valores vai se delineando gradativamente, a cada fase da vida. Pelo caminho da aquisição da linguagem a criança já começa a naturalizar-se no mundo dos conteúdos, significados e símbolos; e vai se abrindo, assim, para um universo axiológico. Gradativamente o ser do homem vai apontando para além de si mesmo, para um sentido que não reside nele próprio, mas naquilo que o leva a autotranscender-se: sair de si e projetar-se para a alteridade do mundo e realizar valores.

Não existe a possibilidade de uma educação para a sexualidade a não ser que esta abarque a pessoa toda, todas as suas dimensões; e a não ser que esteja inseria num plano de vida que, partindo da realidade presente da pessoa, tem em vista a meta que ela deseja atingir.

Considerando a disposição pedagógica da criança e pensando a educação sexual integrada na realidade mais ampla da vida humana, alguns aspectos educativos são fundamentais: informação adequada à capacidade de compreensão da criança; vigilância e orientação oportuna nas brincadeiras; valorização positiva das diferenças sexuais na reciprocidade homem-mulher; demonstrações de afeto, respeito e amor entre os pais e na relação adulto-criança; evitar a tolerância e a condescendência aos caprichos infantis que leva a atitudes egoístas e antissociais; evitar as excessivas exigências e a inflexibilidade que paralisam a vontade da criança; perseverança no cumprimento das exigências fundamentais; evitar atitudes permissivas e atitudes punitivas e negadoras; atenção para o momento de deixar agir livremente e para o momento de impor limites.

A educação sexual pressupõe um educador (pais, professores) com um papel ativo e corresponsável, porque aponta e convoca para os valores. Ele é “portador-testemunha dos valores”, o que deve garantir a não-diretividade arbitrária de sua ação. Espera-se dele uma atitude de confiança que vá além da cumplicidade, mas que se apoie, sobretudo, no fato de ver a criança ou o adolescente no seu dever-ser e por isso não minimiza a tensão que o mobiliza, ao contrário, propõe, instiga, provoca o encontro com os valores.

Uma educação sexual humanizada e integradora tem como objetivo promover o protagonismo do adolescente em seu processo de descoberta e amadurecimento afetivo-sexual, em direção à plenitude do amor.

Uma educação sexual humanizada e integradora, que em sua dinâmica metodológica põe em relevo os elementos estruturais do modo de ser humano, tais como liberdade, responsabilidade, consciência e aspiração aos valores, deve, portanto, apresentar as seguintes diretrizes básicas:

– O desenvolvimento e a maturidade sexual fazem parte do desenvolvimento e da maturidade da personalidade em seu conjunto. É impossível tratar a sexualidade como assunto único, independente dos demais.

– O tema da prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, da aids e da gestação indesejada deve ser abordado a partir do sentido amplo da própria sexualidade.

– A prevenção deve ser trabalhada como uma capacidade especificamente humana de tomar decisões saudáveis diante de situações de vulnerabilidade, mediante a mobilização de dois recursos fundamentais: o autodistanciamento e a autotranscendência.

– Proposta de integração do desejo genital em uma escala de valores dada pela sexualidade total, ontologicamente fundada, que reconhece na genitalidade o valor de sinal de algo propriamente humano.

– O corpo precisa ser reintegrado na unidade antropológica que caracteriza a pessoa e redimensionado como referência ontológica para a diferenciação entre masculinidade e feminilidade.

– Desenvolvimento da consciência crítica para tomar decisões responsáveis a respeito de sua sexualidade, buscando o sentido profundo da mesma, dentro da visão de pessoa integral.

Referências:

Este artigo foi construído com trechos do artigo “Sexualidade: fundamentos antropológicos e o papel da educação”, de Eloisa Marques Miguez, especialista em Logoterapia aplicada à Educação e membro da Comunidade Senhor da Vida (Jacareí, São Paulo). O artigo encontra-se no livro “Sexualidade, gênero e desafios bioéticos” (São Paulo, Difusão Editora, 2011, org. Dra. Elizabeth Kipman Cerqueira).

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