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Por que Bento XVI queria reintegrar os lefebvristas?

Bento XVI cumprimenta Dom Fellay

OR / CPP / CIRIC

D. Carlo Molari - publicado em 20/02/13

Desde o levantamento das excomunhões dos 4 bispos cismáticos, em 2009, a Igreja se comprometeu em um complexo diálogo com os lefebvristas, visando a chegar à sua reintegração à Igreja de Roma. Isso é sinal de retrocesso ou um gesto de reconciliação?

Bento XVI queria reintegrar os lefebvristas à Igreja Católica porque esta era a sua missão como sucessor de Pedro.

Cristo nomeou Pedro como pastor de todo o rebanho. Os sucessores de Pedro devem velar para que o rebanho não se disperse; devem buscar a ovelha perdida.

A unidade, a união e a reconciliação se encontram no coração do Evangelho. Jesus deu a sua vida para “reunir na unidade os filhos de Deus que estavam dispersos”. “Em sua carne, Ele deu morte ao ódio”. Ele é o Bom Pastor que vai em busca da ovelha perdida. Justamente antes da sua Paixão, sua recomendação suprema e sua oração foi para que seus discípulos fossem “um, para que o mundo creia”.

Esta missão é confiada, em primeiro lugar, ao sucessor de Pedro, a quem Jesus disse: “Apascenta as minhas ovelhas”. Como poderia dizer que ele é o pastor das ovelhas se não estivesse procurando reuni-las?

A experiência demonstra que, quanto mais passam os anos, as divisões se tornam mais difíceis de resolver.

Muitos se lamentam, afirmando que o ecumenismo parece não progredir. A ignorância mútua e a agressividade foram superadas. Descobre-se que talvez, no ponto de partida, as separações poderiam ter sido evitadas. Tudo isso é muito notável, quase imprevisível há um século. O Concílio Vaticano II foi uma etapa decisiva neste caminho.

Mas isso não é suficiente para restaurar a unidade. Porque o tempo passou e ambas as partes se habituaram a viver separadas. As palavras, as formas de se organizar, os ritos, os costumes já não são os mesmos. É difícil reencontrar-se. Como duas famílias que deixaram de ter contato há muito tempo.

Este é o caso, em concreto, da Ortodoxia. Já antes de 1054, a relação entre Roma e Constantinopla havia tido períodos de tensão, inclusive de separação. Mas algum tempo depois, restaurou-se a comunhão. Depois de 1054 e da excomunhão mútua, a situação se fossilizou. O Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras decidiram anular as excomunhões em 1965, mas a unidade não foi restabelecida.

Dom Lefebvre tomou uma decisão com consequências muito graves para o futuro quando ordenou quatro bispos contra a vontade do Papa: seu objetivo era garantir um futuro de várias décadas à Fraternidade Sacerdotal São Pio X, que ele havia fundado. O Papa certamente queria evitar que os bispos atuais consagrassem uma nova geração de bispos que também seriam ilegítimos.

O Papa também é a garantia da unidade da Igreja ao longo do tempo: esta é a “Tradição”. O Concílio Vaticano II faz parte desta Tradição e deve ser interpretado corretamente – mas não amputado.

No passado, as comunidades cristãs divididas usavam muitas vezes termos para ferir umas às outras. Isso causou muitos estragos. O Papa Bento XVI, para falar da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, usa expressões moderadas; ele fala de “grupo eclesial envolvido em um processo de separação”; procura inverter o processo, pensando que o que é eventualmente possível hoje corre o risco de ser ainda mais difícil dentro de 50 anos.

Mas a reconciliação não pode ser alcançada a qualquer preço. Não para moderar a opinião amplamente majoritária dos católicos que seguem os ensinamentos do Concílio Vaticano II; o que acontece é que Roma às vezes adota posições minoritárias na opinião católica.

Mas a decisão do Papa deve ser coerente com toda a Tradição da Igreja. A Tradição é o trabalho do Espírito Santo prometido à Igreja, aos bispos, ao Papa, para entender melhor a Palavra de Deus e ser discípulos fiéis de Cristo, na diversidade de situações históricas. O Papa Bento XVI recordou: não se trata de situar-se antes do Concílio e perguntar-se o que seria preciso fazer. O Concílio Vaticano II agora faz parte da Tradição da Igreja. Não podemos nos separar desta Tradição. O Concílio não pode ser amputado. Podem ser admitidas muitas leituras, mas não é possível arrancar páginas do livro.

O Papa Bento XVI sofre a incompreensão que encontra em diversas partes.

Em 2009, o Papa Bento XVI levantou a excomunhão que afetava pessoalmente os quatro bispos consagrados por Dom Lefebvre. A isso se somou o fato de que um dos bispos era um negacionista obstinado – algo que o Papa desconhecia.

Na opinião pública, inclusive entre os católicos, o Papa foi gravemente questionado. Ele ficou tão triste, que dirigiu uma carta – que se tornou pública – a todos os bispos, para explicar a sua decisão (10 de março de 2009): “Mas eu pergunto agora: Verdadeiramente era e é errado ir, mesmo neste caso, ao encontro do irmão que 'tem alguma coisa contra ti' (cf. Mt 5, 23s) e procurar a reconciliação?”.

Falando dos lefebvristas, escreveu: “Verdadeiramente devemos com toda a tranquilidade deixá-los andar à deriva, longe da Igreja?”. A carta adquire um tom emotivo quando ele lamenta “ser tratado com aversão, sem temor nem decência” por ter estendido a mão ao adversário.

Segundo Dom Fellay, superior-geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, o Papa lhe teria dito que “seria mais fácil, tanto para nós como para eles, ter deixado tudo como estava”.

Ao explicar por que tinha escolhido o nome de Bento, o Papa citou Bento XV, o Papa que, em 1917, tentou uma aproximação para uma trégua entre as partes em guerra. De ambos os lados, foi profundamente injuriado.

“Felizes os que promovem a paz. Felizes sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem. Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.”

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