Aleteia logoAleteia logoAleteia
Domingo 10 Dezembro |
Nossa Senhora de Loreto
Aleteia logo
Religião
separateurCreated with Sketch.

Por que os cristãos acreditam que Jesus é homem e Deus ao mesmo tempo?

nspd_gsgff0xoml869eoao3fk-tbez4zfke4ysi59d_pjtrs_1jorehg-ezjbeockqnr7mfwuaac90so5ha9fkvlw_ad.jpg

Julian Kumar / GODONG

Aleteia Vaticano - publicado em 26/02/13

Qual é o sentido profundo da frase "O Verbo se fez carne"?

Esta é a única maneira plenamente satisfatória de ler os Evangelhos e de descobrir a nossa vocação de filhos de Deus.

Todos os apóstolos, incluindo São Paulo, são judeus que, em momento algum, pretendiam rejeitar a revelação feita a Israel: Deus é único. Mas eles foram conduzidos a ver Deus em Jesus, sem confundir Jesus com aquele a quem Ele chamava de Pai.

Na afirmação “Jesus é Homem e Deus ao mesmo tempo”, é preciso verificar ambos os termos: verdadeiramente Homem e verdadeiramente Deus. Atualmente, a humanidade de Jesus praticamente não é discutida. Mas sua divindade é colocada em dúvida. Para os que não creem em Deus, parece claro – mas também para os que dizem “creio em um só Deus”, como os judeus e os muçulmanos.

O próprio Jesus foi um judeu piedoso e fundou sua Igreja sobre os 12 apóstolos, todos judeus. Ele nunca contradisse o que está no centro da fé judaica. Mas, progressivamente, foi dando a conhecer aos seus discípulos que Ele era um com Aquele a quem chamava de Pai. Pai, Filho e Espírito Santo são um, pela perfeição de um amor infinito e eterno.

Para designar uma realidade que não é deste mundo, um teólogo latino do século II, Tertuliano, inventou uma palavra: “Trindade”. Mas não foi ele quem inventou a Trindade. Foi Jesus quem nos fez conhecer tal realidade.

Nos Evangelhos, vemos Jesus falando e agindo como Deus. Nos milagres, Ele age por si mesmo. Fala com autoridade. Proclama o perdão dos pecados. Fala ao Pai com intimidade total. Pede que acreditem nele. Finalmente, diz: “O Pai e eu somos um”.

O século XX foi uma grande época de renovação bíblica. Foi também, a meados do século, um tempo em que a Igreja redescobriu suas raízes judaicas. É importante conhecer o Antigo Testamento para não conceber o Novo de maneira contraditória.

Mas, ao mesmo tempo, Jesus supera os personagens do Antigo Testamento, inclusive os maiores. Abraão era o mais perfeito dos crentes, mas não pôde salvar os habitantes de Sodoma – esses grandes pecadores! Moisés teve de tirar as sandálias quando Deus se manifestou por meio da sarça ardente. Davi foi o rei a quem Israel sempre verá com nostalgia, mas também um homem de enganos, de luxúria e sanguinário.

Jesus fala e age com a autoridade de Deus. Realiza os milagres por sua própria força, sem ter de invocar a ajuda de outros. Ele se atreve a ensinar indo muito além da Lei dada por Deus a Moisés: “Mas eu vos digo…”. Enquanto qualquer homem piedoso é consciente da distância que o separa de Deus, Jesus se coloca à mesma altura dele e o chama de Pai, “abbà” – termo insólito no judaísmo, terrivelmente familiar. Ele proclama não ter pecado, ao mesmo tempo em que oferece o perdão dos pecados. Pede que o sigam, que creiam nele, pois “o Pai e eu somos um”.

À pergunta que fez aos seus discípulos – “Quem dizeis que eu sou?” – não há muitas respostas possíveis. Um blasfemo? Esta é a razão pela qual o condenaram. Um iluminado? Mas Ele deu provas de um realismo muito grande. O “Emmanuel”, Deus conosco, o Filho Único que era um com o Pai e que se fez um de nós: esta é a resposta de um cristão.

A Igreja, desde a sua origem, teve de enfrentar duas questões: Jesus é um com o Pai e o Espírito Santo e, ao mesmo tempo, Jesus é plenamente um de nós.

A afirmação da fé cristã é tão paradoxal, que a tentação sempre foi a de “enquadrá-la” dentro de limites mais raciocináveis. Três dos quatro primeiros concílios ecumênicos protegeram a fé cristã contra estas tentativas de reducionismo.

Em Niceia (ano 325), foi dito: Jesus não é nem um super-homem nem um semideus; não é mais que um com o Pai; é “consubstancial”. Em Éfeso (ano 431), foi dito: Jesus é indissoluvelmente Homem; por isso, sua Mãe, a Virgem Maria, pode ser chamada de “Mãe de Deus”. Em Calcedônia (ano 451), foi dito: em Jesus, a realidade humana e a realidade divina são, ambas, plenas e inteiras: não é metade Deus e metade Homem. Como isso é possível?

A fé em Jesus, Deus feito Homem, já não é uma contradição ou algo absurdo, pois o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Toda a história bíblica é a de uma aliança, até o anúncio do Emmanuel, “Deus conosco”: o profeta não era consciente de que o que dizia era verdade!

Jesus disse que não veio para abolir, mas para cumprir, para levar à perfeição. Ele não está em contradição com o Antigo Testamento. Pelo contrário: cumpre os dons e as promessas.

O livro do Gênesis nos fala do homem, no vasto universo, criado à imagem e semelhança de Deus. Certamente, a distância entre Deus e o homem é infinita. Mas existe, ao mesmo tempo, uma cumplicidade entre Deus e o homem. Por isso, já desde o jardim do Gênesis, eles podem dialogar. Para Deus, o homem é um interlocutor.

A história bíblica, a história sagrada, depois de Abraão, é a de uma aliança renovada sem cessar, apesar das infidelidades do povo de Israel. Mas o pecado dos homens não acaba com a inventiva divina – se é que se pode dizer dessa forma, já que a Bíblia usa muito a linguagem das imagens. Os profetas anunciaram que Deus interviria pessoalmente, de uma forma ou de outra. Esta forma é a Encarnação, Jesus, Deus feito Homem, o Verbo feito carne, o perfeito “Emmanuel”, Deus conosco.

A vocação do homem é entrar na vida divina, tornar-se filho de Deus. Isso é possível porque Deus se fez Homem: filho de Maria, descendente de Davi, novo Adão.

Para o amor, não é preciso buscar razões fora do próprio amor. Por isso, é importante desconfiar dos raciocínios que procuram explicá-lo: Deus não poderia ter agido de outra maneira. Mas, a partir do que Deus fez por nós, nós também podemos descobrir a que somos chamados.

É disso que se trata: Deus é Amor. “Deus amou tanto o mundo, que lhe entregou o seu próprio Filho”. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o extremo” (outra forma de traduzir uma expressão que significa, ao mesmo tempo, “até o final” e “até a perfeição”).

É a isso que somos chamados. Os Padres da Igreja disseram com audácia: “Deus se fez Homem para que os homens se fizessem Deus”. A 1ª Carta de São João diz: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!” (1ª Jo 3, 1). Outro texto do Novo Testamento diz que nós “participamos da natureza divina”.

Em Deus, somos semelhantes ao Filho, que recebe e dá a graça. Não somos o Pai, pois o Pai é a origem. Estamos no Filho, porque Ele se fez um de nós e nos enviou o Espírito Santo.

Tags:
DeusJesus
Apoiar a Aleteia

Se você está lendo este artigo, é exatamente graças a sua generosidade e a de muitas outras pessoas como você, que tornam possível o projeto de evangelização da Aleteia. Aqui estão alguns números:

  • 20 milhões de usuários no mundo leem a Aleteia.org todos os meses.
  • Aleteia é publicada diariamente em sete idiomas: inglês, francês,  italiano, espanhol, português, polonês e esloveno
  • Todo mês, nossos leitores acessam mais de 50 milhões de páginas na Aleteia.
  • 4 milhões de pessoas seguem a Aleteia nas redes sociais.
  • A cada mês, nós publicamos 2.450 artigos e cerca de 40 vídeos.
  • Todo esse trabalho é realizado por 60 pessoas que trabalham em tempo integral, além de aproximadamente 400 outros colaboradores (articulistas, jornalistas, tradutores, fotógrafos…).

Como você pode imaginar, por trás desses números há um grande esforço. Precisamos do seu apoio para que possamos continuar oferecendo este serviço de evangelização a todos, independentemente de onde eles moram ou do quanto possam pagar.

Apoie Aleteia a partir de apenas $ 1 - leva apenas um minuto. Obrigado!

PT300x250.gif
Oração do dia
Festividade do dia





Envie suas intenções de oração à nossa rede de mosteiros


Top 10
Ver mais
Boletim
Receba Aleteia todo dia