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O jejum na reflexão teológica

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Padre Angelo Bellon, o.p. - publicado em 15/11/20

A abstinência predispõe para a contemplação das realidades mais sublimes

O jejum é um ato especial da virtude da abstinência e, de acordo com São Tomas, é praticado principalmente por três motivos: primeiro, para suprimir a concupiscência ou paixões desordenadas, que estão arraigadas. São Jerônimo escreve que “Sem Ceres e Baco, Venus esfria” (Contra Jovin, 2), isto é, pela abstinência de alimentos (Ceres) e bebidas (Baco), a luxúria (Vênus) se amortece. Em segundo lugar, para dispor a alma a contemplar as realidades mais sublimes, já que temos mais necessidade delas que das coisas materiais. Tal é o significado das três semanas de jejum de Daniel, depois das quais ele recebeu a revelação (Daniel 10, 3). Terceiro, em reparação dos pecados. A conversão não é simplesmente um gesto interior, mas envolve toda a pessoa, incluindo a corporeidade. Lemos em Joel 2, 12: “Convertei-vos a mim de todo o vosso coração, com jejuns, com choro e lamento” (cf. Summa Theologica, II-II, 147,1).

O Prefácio IV da Quaresma expressa essas metas com as seguintes palavras: “Pela penitência da Quaresma, corrigis nossos vícios, elevais nossos sentimentos, fortificais nosso espírito fraterno e nos garantis uma eterna recompensa”. Na mesma linha, Santo Agostinho diz que “o jejum purifica a alma, eleva a mente, submete a carne ao espírito, torna o coração contrito e humilhado, dissipa a névoa da concupiscência, amortece o ardor da luxúria e acende a luz da castidade” (De Orat. et jeiun., Serm. 73).

Serenidade da alma

A atitude interior de jejum, de acordo com São Tomás, é a “serenidade da alma”, a “alegria interior” (ou “mentis hilaritas”). Ele deve ser vivido com um grande amor pelo Senhor e pela Igreja. Se não for feito assim, seria apenas uma restrição e uma privação. E assim como estamos felizes ao doar, o jejum cristão é caracterizado pela alegria e paz interiores. Por isso, o Senhor disse: “Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os hipócritas, que mostram um semblante abatido para manifestar aos homens que jejuam. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando jejuares, perfuma a tua cabeça e lava o teu rosto” (Mt 6, 16-17).

Como já foi mencionado, o jejum é um ato da virtude da abstinência. Por ser um ato virtuoso, é necessário realizá-lo de forma justa. Escreve São Tomás: “O motivo certo jamais reduzirá o alimento a ponto de comprometer a conservação da natureza” (Suma Teológica, II-II, 147, 1, ad 2). E “o motivo certo jamais reduzirá o alimento a ponto de tornar um homem incapaz de exercer as suas funções” (ibid.) e servir os outros. Por isso, o cristão nunca anteporá o jejum à caridade. O jejum é um meio para melhor servir a caridade. A caridade é o objetivo de toda a vida cristã.

Escreve São Tomás: “Este é o fim (a caridade), a realidade desenhada sem medida. Isso, porém, é que o meio (em jejum), é desenhado com medida e proporção. Assim, por exemplo, o médico procura a maior saúde possível do paciente (o fim). Porém, oferece o medicamento (o meio) de acordo com a capacidade do receptor. Assim, na vida espiritual, o fim é o amor de Deus. O jejum, no entanto, as vigílias e todos os outros exercícios corporais não são vistos como um fim, porque o reino de Deus não é questão de comida e bebida (Romanos 14, 17), mas como meios necessários para alcançar o fim, que é dominar a concupiscência da carne, como diz o Apóstolo: ‘castigo meu corpo e o mantenho em servidão’ (1 Co 9, 27). Portanto, esses meios devem ser usados ​​de acordo com certo equilíbrio da razão, a fim de que a concupiscência seja desviada sem que a natureza seja extinta” (Quodl., V, 9, 2).


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