O ser humano busca a felicidade, pensa que pode obtê-la nas coisas materiais, mas sempre há uma decepção.
"O que vocês buscam?", pergunta Jesus a André e ao outro apóstolo que o segue, depois de João Batista apontar Cristo como o Cordeiro de Deus (cf. Jo 1, 35-42). Seguindo Jesus, André e seu amigo buscavam a mesma coisa que todos nós buscamos: a realização total e a alegria eterna. Quem não a deseja, no início de uma extenuante rotina diária ou no final de um longo dia, perguntando-se: "Então, isso é tudo? Minha vida se reduz a isso?"?
O coração humano persevera em pedir sempre "mais". Mas… mais quê? O que buscamos exatamente quando procuramos a felicidade? Realmente é possível alcançá-la? Como espíritos encarnados sujeitos ao pecado de Adão, os seres humanos tentem a buscar a felicidade entre as coisas materiais, riqueza, prazer físico, honra, reconhecimento, fama, prestígio e a saúde necessária para prolongar o desfrute destas coisas. Em nossos melhores momentos, entendemos que coisas como a amizade, a justiça e o conhecimento são ainda mais preciosos, mas o que não entendemos facilmente é que nenhuma destas coisas pode doar a alegria eterna pela qual ansiamos.
Aspiramos ao amor e à verdade, como recordou o Papa emérito Bento XVI; no entanto, nada na terra pode responder plenamente à nossa necessidade destas coisas, nem sequer nossos amigos mais queridos. Uma felicidade meramente humana, inclusive garantindo seus muitos consolos, nos deixará sempre insatisfeitos. A Igreja nos convida a refletir sobre isso: não encontraremos a felicidade que estamos buscando enquanto não perguntarmos ao Senhor "Onde moras?" e enquanto não o seguirmos rumo a um Amor e uma Verdade infinitos, como o coração humano anseia.
A busca da felicidade, ainda que não percebamos, é a ideia por trás de nossos pensamentos e ações.
Não existe pergunta mais importante para o ser humano que esta: "O que é a felicidade? Como posso me realizar?". Dia a dia, nem sempre estamos concentramos diretamente nesta pergunta, mas ela sempre está aí, subjaz na nossa mente. "Esta atividade ou este dever me ajudarão a realizar meu anseio? E esta, me satisfará?" Parece que não podemos fugir do desejo de uma satisfação sempre maior e perfeita.
Desde tempos antigos, os filósofos e teólogos buscaram uma resposta à pergunta sobre a felicidade. No final, surge uma série de "candidatos" possíveis, uma lista de hoje é importante para nós. A riqueza é um dos elementos destacados da lista, junto ao prazer, honra (no sentido de reconhecimento público da nossa excelência), fama (reputação que tem nosso nome), e os candidatos menos valorizados, como a virtude e a contemplação.
Consideremos os primeiros elementos da lista: riqueza, prazer, honra e fama. Não há dúvida de que estes são os elementos mais procurados pelos seres humanos durante grande parte da sua vida. Será que a felicidade é uma vida organizada ao redor da busca de si mesmo ou de algum destes bens? Está claro que tais "bens" (riqueza, prazer físico, honra e fama) não são ruins. São bens na medida em que há algo que nos atrai a eles, algo que nos satisfaz de alguma maneira. Nossa pergunta, portanto, não é se estes "candidatos" à felicidade são bons ou não, e sim se um deles (ou todos) pode ser nosso bem último, o bem que nos levará a uma satisfação total e a uma alegria completa.
Sobre este último ponto, a resposta dos filósofos e teólogos é negativa. A riqueza é apenas um instrumento, o meio para chegar a um fim maior. E, seja o que for a felicidade, não pode consistir em um meio para outra coisa, mas em algo definitivo. O prazer é um bem óbvio, mas, como afirma Aristóteles, pode ser desfrutado também por animais de raça inferior. Não estamos buscando algo que compartilhamos com outras criaturas; estamos à procura da felicidade humana, a realização da nossa natureza distintiva. A honra e a fama são sempre atraentes para o coração humano, sobretudo para os homens. Porém, recordemos: elas não são bens que podemos dar a nós mesmos, mas que outros nos concedem. O que há de errado nisso? Nada, salvo o fato de que, se nossa felicidade depende essencialmente do que as pessoas fazem por nós, então ela não é nossa. Muitas vezes, caímos no erro de pensar que a felicidade depende do que outra pessoa pensa de nós ou faz por nós. Refletindo, no entanto, chegamos à conclusão de que seria estranho que nossa satisfação mais profunda fosse tão vulnerável, que não fosse algo que carregamos em nosso ser.
A felicidade consiste na busca de algo que nos distinga como seres humanos.
Ha uma resposta que começou a ser esclarecida: quando buscamos a felicidade, procuramos algo que não é um simples meio, mas sim um bem que nos distinga como seres humanos, um bem que, de alguma maneira, tenha uma origem em nós. Não é ruim que a riqueza, o prazer, a honra e a fama sejam parte de uma vida feliz, mas nenhum destes elementos, nem sequer a combinação de todos eles, é o princípio em que se baseia uma vida realizada. O que é a felicidade, então?
Voltemos ao que estávamos falando sobre o prazer. Se ele não é a atividade distintiva do ser humano, então o que é? Tradicionalmente, os seres humanos foram definidos como animais racionais. A atividade da razão deve ser, então, central na nossa felicidade, sobretudo quando consideramos que a atividade racional pode ser origem em nós.
Estamos perto, então, da famosa definição de felicidade de Aristóteles, adotada pelo ensinamento moral da Igreja Católica: a felicidade é uma atividade da alma de acordo com a razão. Aristóteles afirma também que a felicidade é a atividade racional realizada de maneira excelente. Por que nós definimos a atividade característica de algo com base no que é racionalmente bom? Os seres humanos, assim como os computadores ou as varas de pescar, são definidos com base em suas capacidades máximas.
Até agora, nossa resposta à pergunta sobre a felicidade pode parecer um pouco fria: a felicidade é a atividade racional excelente. Isso quer dizer que somos felizes quando resolvemos equações de álgebra ou aprendemos a reconhecer erros de lógica? Temos de considerar cuidadosamente que "atividade racional" é uma definição geral para toda uma série de atividades diversas. A atividade racional excelente é outra maneira de definir as virtudes, e há muitos tipos de virtude, cada uma das quais mostra um aspecto diferente da excelência da nossa natureza racional.
O exercício da razão na ação virtuosa é, finalmente, o que se busca ao falar de felicidade.
Como posso ser feliz?

Daniel McInerny - publicado em 22/03/13
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