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Coreia do Norte e suas armas nucleares: devemos nos preocupar?

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Mark Gordon - publicado em 05/04/13

Há muitas intenções detrás das ameaças e insanidade do regime comunista

A República Democrática Popular da Coreia, mais conhecida como Coreia do Norte, realizou em fevereiro seu terceiro teste nuclear subterrâneo desde 2006 – o segundo desde 2009 –, quando se tornou comumente aceito que o regime norte-coreano havia de fato alcançado o status de poder nuclear. O recente teste registrou 5,1 graus na escala Richter, com força de explosão estimada entre 6 quilotons de TNT (1 quiloton é igual a 1.000 toneladas de dinamite) a 20 quilotons. A título de comparação, a "Fat Man" – bomba atômica americana lançada sobre Nagasaki em 1945 – teve força de explosão entre 20 a 22 quilotons. É amplamente aceito que a Coreia do Norte está em posse de seis ou sete ogivas nucleares funcionais, e seu programa de enriquecimento de urânio é aparentemente robusto, o que significa uma provável produção de armas adicionais.

Ao divulgar o teste, os norte-coreanos afirmaram ter fabricado um dispositivo pequeno e leve, embora não tenham oferecido detalhes ou provas. Se isso for verdade, é algo preocupante e um passo importante para o desenvolvimento de uma arma que poderia ameaçar os Estados Unidos. 

Mas por que o atual arsenal nuclear norte-coreano, tal como é, não representa uma ameaça para os Estados Unidos? Em uma palavra: lançamento. Uma arma nuclear não é eficaz a menos que possa chegar ao seu objetivo. Neste caso, a menos que a Coreia do Norte desenvolva um míssil balístico intercontinental capaz de atingir os Estados Unidos, tendo conseguido, ao mesmo tempo, desenvolver uma ogiva pequena e leve o suficiente para tal míssil, a ameaça não é realista. Além disso, uma vez que esses dois objetivos tecnológicos fossem alcançados, seria necessário desenvolver um sistema de guia capaz de fazer a bomba atingir o alvo com precisão. No momento, as opções de lançamento da Coreia do Norte são por avião – a mesma tática utilizada pelos Estados Unidos no final da Segunda Guerra Mundial – ou por mísseis balísticos de curto ou médio alcance, que têm sido testados há anos, com resultados médios. Ambas as opções falham na tentativa de ameaçar os Estados Unidos diretamente.

O mesmo não se pode dizer sobre o Japão – incluindo a enorme base militar americana em Okinawa – e a Coreia do Sul, dois aliados vitais dos EUA e com papéis importantes no sistema econômico global. Mesmo com a sua limitada capacidade de lançamento de bombas nucleares, a Coreia do Norte é uma ameaça para esses dois países. Por essa razão, o programa nuclear norte-coreano tem o potencial de desestabilizar profundamente a região. A situação é ainda mais complexa por implicar a China, que tem atuado como patrona da Coreia do Norte há mais de 60 anos. Os chineses protestaram vigorosamente contra o recente teste nuclear norte-coreano, mas, na ausência de medidas punitivas concretas, parecem ter perdido a influência sobre o regime norte-coreano, fazendo crescer os temores de uma corrida nuclear no Mar do Japão – algo que era impensável até mesmo há uma década.

Então como devemos olhar para essa situação? Em primeiro lugar, devemos lembrar que, ao discutir sobre a Coreia do Norte, estamos realmente falando de um pequeno grupo de pessoas no topo de seu sistema, talvez apenas uma dúzia. Aí se inclui Kim Jong-un, o "Líder Supremo" e princípio da unidade na sociedade norte-coreana. O grupo também inclui meia dúzia de altos assessores militares e políticos, alguns dos quais estão no poder desde que o avô de Kim Jong-un, Kim Il-sung, governou. O grupo inclui membros da família de Kim Jong-un, incluindo seu tio, sua irmã e seu cunhado.

Em segundo lugar, não devemos assumir automaticamente que este grupo está agindo irracionalmente. É fácil para os estrangeiros, especialmente os americanos, projetar uma espécie de psicose sobre o regime de Kim Jong-un. E de fato, por todos os padrões objetivos, o que se passa na Coreia do Norte parece ser literalmente insano, partindo do estranho culto à personalidade do Líder Supremo à fome, dependência e opressão da população, e agora, aparentemente, este apetite insaciável por armas nucleares. Mas seria um erro confundir o que é loucura objetiva com irracionalidade subjetiva. Do ponto de vista do regime – novamente, talvez uma dúzia de pessoas – tudo isto pode ser visto como muito racional, inclusive previsível. 

A prioridade dos líderes é se manter no poder, ainda que não tenham nada para oferecer ao próprio povo ou ao mundo. Dentro da Coreia do Norte, o regime criou uma atmosfera de paranóia generalizada: uma conspiração mundial, liderada pelos Estados Unidos, destinada a destruir o Estado norte-coreano e seu povo. De acordo com essa ideologia, o regime é o único instrumento para salvar o povo da aniquilação. Essa suposta missão lhes dá uma espécie de aquiescência, se não legitimidade. No olhar do mundo externo, a Coreia do Norte criou uma história própria, a de um regime imprevisível, pronto para lançar uma guerra nuclear no Leste da Ásia. Mais uma vez, isso é objetivamente insano, mas quando se considera essa postura como chantagem e jogada para conseguir mais ajuda alimentar, moeda estrangeira e fim de sanções, tudo começa a parecer mais racional.

Diante disso, iria a Coreia do Norte realmente lançar uma guerra nuclear contra os seus vizinhos? Contra os Estados Unidos? Na opinião deste escritor, isso é duvidoso. O regime sabe que o início das hostilidades nucleares acarretaria o seu fim. Se escolhesse tal caminho, os Estados Unidos poderia destruir Pyongyang em questão de horas, talvez de minutos. E uma guerra convencional? Os norte-coreanos poderiam atacar o sul? Mais uma vez, isso é improvável na minha opinião. A China está afoita para estabelecer o domínio político e militar sobre o leste da Ásia e não vê com bons olhos uma movimentação que envolva os Estados Unidos em uma outra guerra na península coreana, garantindo mais 50 ou 60 anos de presença americana. A China estaria propensa a impor imediatamente um cordão de isolamento econômico em torno da Coreia do Norte, sufocando seus fornecimentos de tudo, desde alimentos a munição. E, no pior cenário, os chineses enviariam o Exército Popular de Libertação ao longo da fronteira, derrubariam o regime e instalariam um novo governo satélite menos volátil.

Nada disso é motivo para se ter uma visão “conciliadora” do programa nuclear norte-coreano, é claro. Esse programa deve ser combatido com todos os meios possíveis evitando uma guerra, incluindo a ação diplomática e o isolamento econômico do regime. Se, como eu acredito, essa movimentação da Coreia do Norte é calculada com o objetivo de obter concessões da comunidade internacional, eles devem ter a ilusão de que essa tática pode funcionar. O mundo não pode aceitar tal chantagem de Kim Jong-un e seu pequeno grupo. Mas também não pode sucumbir à paranóia que eles tentam criar e lançar preventivamente uma segunda Guerra da Coreia, que teria consequências desastrosas para a região e todo sistema internacional.

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