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A reforma do Papa Francisco

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Aleteia Vaticano - publicado em 03/05/13

Entrevista a Dom Angelo Becciu, substituto do secretário de Estado do Vaticano

Foi divulgada no dia 13 de abril a notícia de que o Papa Francisco havia formado um grupo de 8 cardeais para que o aconselhassem no governo da Igreja e para estudar um projeto de revisão da constituição apostólica "Pastor bonus", sobre a cúria romana.

A decisão criou muita expectativa, levando a novas especulações. O arcebispo Angelo Becciu, substituto da Secretaria de Estado do Vaticano, falou sobre o tema em uma entrevista ao L'Osservatore Romano, que reproduzimos a seguir:

Sobre a reforma da Cúria, ouviram-se muitas vozes: equilíbrio dos poderes, moderadores, coordenadores, ‘super-ministérios da economia’, revoluções…

De fato, é um pouco estranho: o Papa ainda não se encontrou com o grupo de conselheiros que escolheu e já chovem conselhos… Depois de ter falado com o Santo Padre, posso dizer que neste momento é absolutamente prematuro avançar qualquer hipótese acerca da futura organização da Cúria. O Papa Francisco está ouvindo todos, mas em primeiro lugar gostaria de ouvir quem escolheu como conselheiros. Sucessivamente será esboçado um projeto de reforma da Pastor bonus, que obviamente deverá percorrer um itinerário.

Falou-se muito também sobre o Ior, o Instituto para as obras de religião; ouve quem aventurou a previsão de uma sua supressão…

O Papa ficou surpreendido quando se viu atribuídas frases que nunca pronunciou e que deturpam o seu pensamento. A única menção a este propósito foi durante uma breve homilia em Santa Marta, improvisada, na qual recordou de modo apaixonado que a essência da Igreja consiste numa história de amor entre Deus e os homens, e que as várias estruturas humanas, entre as quais o Ior, são menos importantes. A referência foi uma alusão, motivada pela presença na missa de alguns empregados do Instituto, no contexto de um sério convite a nunca perder de vista o essencial da Igreja.

Deve-se prever que não é iminente uma reestruturação da atual conformação dos dicastérios?

Não posso prever os tempos. Contudo, o Papa pediu a todos nós, responsáveis dos organismos, para continuarmos o nosso serviço, sem contudo proceder, de momento, à confirmação alguma nos cargos. O mesmo é válido para os membros das Congregações e dos Pontifícios Conselhos: o normal ciclo de confirmações ou nomeações, que se verificam no final dos mandatos qüinqüenais, de momento está suspenso, e todos continuam o próprio encargo ‘até nova disposição’ (donec aliterprovideatur). Isto indica a vontade do Santo padre de dispor do tempo necessário para a reflexão – e de oração, não o devemos esquecer – para ter um quadro completo da situação.

A propósito do grupo de conselheiros, houve quem afirmou que tal escolha pode pôr em questão a primazia do Papa…

Trata-se de um órgão consultivo, não de decisão, e verdadeiramente não vejo como a escolha do Papa Francisco possa pôr em questão a primazia. Ao contrário, é verdade que se trata de um gesto de grande relevância, que pretende dar um sinal claro acerca das modalidades com as quais o Santo Padre deseja exercer o seu ministério. Com efeito, não devemos esquecer qual é a primeira tarefa atribuída ao grupo dos oito cardeais: assistir o Pontífice no governo da Igreja universal. Esperemos que a curiosidade pela organização e pelas estruturas da Cúria romana faça passar para segundo plano o sentido profundo do gesto realizado pelo Papa Francisco.

Mas a expressão "aconselhar" não é demasiado vaga?

Ao contrário, aconselhar é uma ação importante, que na Igreja é teologicamente definida e encontra expressão a muitos níveis. Pensemos, por exemplo, nos organismos de participação nas dioceses e nas paróquias, ou nos conselhos dos superiores, provinciais e gerais, nos Institutos de vida consagrada. A função do conselheiro deve ser interpretada em chave teológica: numa ótica mundana, deveríamos dizer que um conselho sem poder deliberativo é irrelevante, mas isso significaria equiparar a Igreja com uma empresa. Ao contrário, teologicamente, aconselhar tem uma função de realce absoluto: ajudar o superior na obra do discernimento, na compreensão daquilo que o Espírito pede à Igreja num determinado momento histórico. Aliás, sem esta referência, nada se compreenderia do significado autêntico da ação de governo na Igreja.

Quais são os seus sentimentos ao colaborar com o Papa Francisco?

Pude colaborar de perto com o Papa Bento, agora prossigo o meu serviço com o Papa Francisco. Naturalmente, cada um tem a sua personalidade, o seu estilo, e sinto-me um privilegiado por este contato direto com dois homens inteiramente dedicados ao bem de toda a Igreja, desapegados de si mesmos, imersos em Deus e com uma única paixão: fazer conhecer a beleza do Evangelho às mulheres e aos homens de hoje.

(Com Rádio Vaticano)

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