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NASA/JPL-Caltech/T. Pyle

Daniel McInerny - publicado em 06/05/13

O paradoxo da busca constante de vida inteligente no cosmos

Dois novos planetas foram descobertos recentemente: Kepler 62f e 62e. Mas por que eles merecem uma atenção especial?

Porque são os dois planetas mais parecidos com a Terra. E os dois são os mais periféricos dos 5 planetas que giram ao redor do Kepler 62, uma estrela menor e menos brilhante que o nosso sol.

O desejo de encontrar a vida, especialmente vida consciente, em algum outro lugar do cosmos, é um aspecto do espírito de progresso que define a cultura contemporânea. Em algum momento, o homem se descobriu como alguém colocado no centro do cosmos físico, uma colocação que tinha um significado teológico, psicológico e cosmológico.

O universo foi entendido, em palavras de Romano Guardini, como "uma hierarquia simbólica que vincula todas as coisas em uma unidade rica e diversificada". Cada coisa tem seu significado na grande sinfonia do ser.

Com o surgimento da ciência moderna e da tecnologia, esta hierarquia simbólica foi desmantelada. A compreensão do homem sobre seu lugar no cosmos foi abalada em seus alicerces.

Esta nova compreensão do cosmos foi, pra muitos, um convite à exploração. E, inclusive antes de que tivéssemos a tecnologia suficiente para colocar o homem na lua, a possibilidade de vida inteligente em outros lugares do universo capturou a imaginação humana.

Mas por que é tão importante para nós saber que não estamos sozinhos?

Matthew Battles escreveu recentemente que isso tem a ver com a necessidade do homem moderno de chegar a um significado para si mesmo, no que aparentemente se vê como um universo sem muito sentido.

Então será que desejamos nos comunicar com outros seres no cosmos porque, no fundo, reconhecemos que, para todas as nossas conquistas modernas, estamos à deriva, no vazio da expansão infinita? Estamos simplesmente buscando consolar-nos com o conhecimento de que não estamos sozinhos em nossa aflição?

Mas, se estamos sozinhos no cosmos, se a consciência é uma flor rara que só um pequeno planeta no universo inteiro foi capaz de produzir, então uma conclusão possível poderia ser, como Ross Douthat formulou recentemente, que o homem recuperou sua posição privilegiada de centralidade. Somos, mais uma vez, seres muito especiais.

Este tipo de privilégio, no entanto, não nos ajudará muito. A concepção de centralidade do homem no cosmos, que reinou no Ocidente de Aristóteles A Shakespeare, não tem uma função de mera singularidade, mas estava vinculada à causa fundamental da explicação; com a chegada do cristianismo, aumentou a compreensão da benevolência desta causa fundamental, e nos descobrimos como o orgulho de um pai.

Sem Deus, como criador e mantenedor da ordem cósmica, os seres humanos ainda estão, mesmo que talvez os únicos em seu ser, caminhando em busca de um objetivo final. A respeito disso, são muito relevantes as palavras do Salmo 8, cheias de admiração:

"Quando contemplo o firmamento,
obra de vossos dedos,
a lua e as estrelas que lá fixastes: 
Que é o homem,
digo-me então,
para pensardes nele?
Que são os filhos de Adão,
para que vos ocupeis com eles? 
Entretanto, vós o fizestes quase igual aos anjos,
de glória e honra o coroastes. 
Destes-lhe poder sobre as obras de vossas mãos,
vós lhe submetestes todo o universo."

Em 1983, o romancista Walker Percy, influenciado pela articulação de Guardini sobre o deslocamento cósmico do homem moderno, publicou um livro de autoajuda, uma paródia intitulada "Perdido no cosmos".

Nela, Percy tentou ajudar o homem moderno a tomar consciência da sua situação, alguém como o náufrago Robinson Crusoe, um se que sabe muitas coisas prodigiosas sobre o universo físico, mas quase nada sobre si mesmo.

Um dos capítulos se chama "Por que Carl Sagan está tão ansioso por estabelecer contato com um ETI (Inteligência Extraterrestre)?". Percy considera que Sagan está simplesmente sozinho. "Sagan está sozinho – escreve Percy – porque, quando tudo no cosmos, incluindo o homem, se reduz à esfera de imanência, a matéria em interação, não há ninguém com quem falar, exceto outras inteligências transcendentais de outros mundos."

Ainda que exista vida inteligente lá fora, no Kepler 62f e 62e, nosso contato será, em última instância, inútil e desolador, similar ao contato que temos com nosso vizinho mais próximo – que, no final das contas, é somente um estranho para nós, como qualquer extraterrestre de Star Trek.

Permaneceremos perdidos no cosmos enquanto não entendermos isso, mais uma vez, como um "kosmos", uma "ordem" que envolve necessariamente um ser que, com amor, o ordena dessa maneira.

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Daniel McInerny é escritor, jornalista, filósofo e membro do Conselho Editorial da Aleteia. Você pode entrar em contato com ele: danielmcinerny@gmail.com, @thecomicmuse.

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