O lamentável e absurdo episódio do menino Thomas (agora “Tammy”) Lobell, em tratamento para não entrar na puberdade como garoto, mas como menina
O que acontece quando duas lésbicas se casam e tentam criar um menino saudável? Às vezes, tenho certeza disso, a criança consegue encontrar em algum lugar um modelo masculino que a acaba influenciando. Outras vezes, porém, esse menino torna-se tão confuso, tão envergonhado por sua falta de semelhança com um dos pais que ele considera que realmente é uma garota como suas mães lésbicas, e quer tomar hormônios para um dia ver seus seios crescerem, e quer médicos para extrair o seu pênis e substituir por uma vagina. E às vezes, aquelas mães lésbicas – ao invés de admitir que a criança que elas adquiriram para completar sua "família" foi brutalmente danificada e precisa de terapia – concordam com os devaneios de uma criança de 7 anos de idade e decidem que este menino é realmente uma menina. Então, elas o levam ao médico, mas não para médicos que irão ajudá-lo a superar a vergonha e o ódio de si mesmo misteriosamente desenvolvido sob seus cuidados. Não, elas vão levá-lo aos camelôs de hormônios e cirurgias, para manipular seu frágil corpo até que ele corresponda a sua mente torturada. E tudo isso é perfeitamente legal na Califórnia. Na verdade, o caminho contrário pode não ser legal, já que esse Estado proibiu que os terapeutas direcionem jovens confusos para a heterossexualidade.
A história acima não vem dos livros de ficção, mas das manchetes dos jornais, e é apenas um dos exemplos mais repugnantes de como a nossa ética da paternidade moderna transforma crianças de seres humanos em brinquedos, de entes sagrados em robôs que programamos para agir segundo nosso narcisismo. Não estou dizendo que tal ultrajante exemplo seja típico nos pares do mesmo sexo com filhos. Mas os seus argumentos, que têm triunfado de Estado em Estado, tornam esse tipo de mutilação de crianças possível, disfarçando-a sob o suposto “amor” familiar. Então os defensores do casamento homossexual são responsáveis por isso, e eles deveriam responder por isso. Os “reformadores” do casamento deveriam responder pelo abuso de Thomas (agora "Tammy") Lobell.
Não há nada que possamos fazer por essa criança agora. Os médicos e os burocratas já concordaram, e esse menino está na trilha de um potente e perigoso coquetel de hormônios e drogas para impedi-lo de entrar na puberdade como um garoto (ele hoje tem 11 anos). A ideologia do "transgênero" é triunfante nos Estados Unidos. Em vez de ajudar as pessoas com confusão de gênero a enfrentar os pensamentos que as torturam – a auto-punição de que nasceram com o sexo errado – médicos rotineiramente arruinam seus corpos para corresponder à loucura. Diante disso, por que já não começar mais cedo, enquanto seus corpos são mais jovens, mais flexíveis?
O único argumento que deixaram de colocar entre Thomas Lobell e a equipe de médicos contratados por suas mães abusivas é: ele ainda não é um adulto plenamente responsável por si. No dia em que ele completar 18 anos, claro, ele pode dar com os ombros. Como bons individualistas, sabemos que ali é onde nossa obrigação termina. Quando ele tiver crescido – seja ele corretor da bolsa, viciado em drogas ou ator pornô – isso não é da conta de ninguém, mas seu próprio problema.
O episódio desse menino é um exemplo do libertarismo radical – diferente da versão clássica ou cristã do "liberalismo", sobre a qual as liberdades ocidentais foram lenta e corajosamente construídas.
Vejamos como os argumentos libertários afetam a discussão sobre o "casamento" do mesmo sexo, e como os libertários estão se deixando usar por engenheiros sociais com preocupação zero pela liberdade genuína. Aqui estão os dois principais argumentos libertários, e explicações de onde eles falham:
Deveríamos deixar o governo de fora do negócio do casamento.
Isso tem algum leve apelo: se o casamento diz apenas sobre a regulação da conduta sexual entre adultos, então o governo de uma sociedade diversificada, com diferentes costumes sexuais, não deveria tentar impor a visão de um grupo sobre outros. Mas desde que o casamento diz principalmente sobre como proteger os interesses das crianças, que são terceiros indefesos, o argumento falha.
O casamento é um contrato entre adultos, e o Estado não deveria se recusar a reconhecer qualquer contrato que dois adultos desejam fazer.
A resposta óbvia é: por que apenas dois adultos? Por que as pessoas não podem formar "famílias" como haréns de mórmons ou muçulmanos? Libertários consistentes vão responder que o Estado deveria permitir isso também. Nesse ponto, vale a pena dizer que seria imoral estender o privilégio do casamento apenas entre casais, e que as mudanças deveriam imediatamente dar espaço à poligamia. Mas por que limitar esse privilégio aos parceiros sexuais? Pela lógica libertária, qualquer grupo de pessoas de todos os tamanhos deveria ser livre para associar-se e adotar crianças. Então, gangues de motociclistas, mosteiros carmelitas e até mesmo partidos políticos deveriam ter o privilégio de adotar crianças e criá-las como membros.
O governo tem uma longa série de contratos entre adultos que são proibidos: contratos de escravidão; o Estado proíbe as pessoas de trabalhar por menos do que um determinado salário, ou em certas condições perigosas; também proíbe contratos racistas.
O pior de tudo é que um dos contratos que o Estado se recusa a cumprir é justamente o do casamento tradicional. Em nenhum Estado dos EUA um casal católico pode fazer um contrato juridicamente permanente de que eles vão se casar para toda a vida, sem possibilidade de divórcio e novo casamento. Esse é o contrato que nossa fé exige que façamos, mas o Estado se recusa a aplicá-lo. É muito mais difícil sair da dívida do cartão de crédito do que do casamento. Os verdadeiros libertários deveriam então estar nas ruas protestando em favor do casamento inquebratável dos cristãos.
Talvez seja em cima disso que os cristãos e outros tradicionalistas deveriam estar protestando: uma plataforma de "casamento livre", que permita a qualquer casal escolher um menu chinês suas opções conjugais, incluindo (infelizmente) uniões do mesmo sexo e até mesmo a poligamia, em um extremo, e o casamento permanente e tradicional ao longo da vida, no outro. E claro, as Igrejas que consideram o casamento como permanente poderiam exigir de qualquer casal em busca de um casamento em sua fé que apresente o contrato do casamento permanente. A recusa desse contrato deveria tornar o casal inelegível para o sacramento do matrimônio. Quem sabe isso daria um pingo de respeito público e apoio legal para esta aliança frágil e crucial que é a fonte da vida humana.
Enquanto isso, mantenham o pobre Thomas Lobell em suas orações.
John Zmirak é escritor, autor de The Bad Catholics Guide to the Catechism. Seu blog The Bad Catholics Bingo Hall