Um livro que relaciona os temas da fraternidade, amor ao próximo, psicologia e neurociência
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Paloma Rosado fez parte do departamento de comunicação de várias ONG e exerceu o jornalismo durante mais de 20 anos. Depois de adentrar nos segredos da mente e pesquisar sobre psicologia perinatal, luto infantil e cooperação social, decidiu publicar a obra “A revolução da fraternidade”.
A Aleteia conversou com ela sobre sua obra e experiência.
No livro, você fala da revolução da fraternidade. É mais fácil ter clara a ideia de liberdade e de igualdade. Mas onde ficou a fraternidade?
Infelizmente, ela ficou em um canto, esquecida e necessitada de um “processo de restauração”. Desapareceu do nosso imaginário social. Ninguém duvida da dimensão ilustrada da liberdade e da igualdade, mas… a fraternidade?
Não nos lembramos dela nem quando enumeramos qualidades desejáveis para nós ou para os nossos filhos. Mas acho que está chegando a hora da fraternidade, finalmente!
Pesquisas neurocientíficas e psicológicas mostram que a fraternidade é o segredo da felicidade. Que relação existe entre a fraternidade e a neurociência?
De fato, desde que, nos anos 80, foram introduzidas as técnicas de neuroimagem nos laboratórios de psicologia, e se começou a estudar a felicidade e o cérebro do ser humano, estão sendo descobertas interessantíssimas relações.
Hoje, sabemos que a felicidade do ser humano se baseia nas atitudes fraternas, como a empatia, a compaixão, o altruísmo. E isso é realmente revolucionário.
O fato de que a relação “felicidade do ser humano” e “fraternidade” chegue a nós pela ciência, e se some àquilo que estão expondo, há séculos, as grandes tradições filosóficas e religiosas, é revolucionário, você não acha?
O mandamento do amor, “amai-vos uns aos outros”, teria, então, uma base científica?
Se eu confirmasse isso, entraria no campo da opinião. Mas a ciência não manda, ela oferece evidências objetivas. O que acontece no cérebro quando o indivíduo reage diante de um estímulo compassivo? As regiões relacionadas com o bem-estar recebem maior quantidade de oxigênio, ou seja, são ativadas.
Todo mundo tem o mesmo sentido de fraternidade ou doar-se aos outros pode ser genético? A pessoa nasce fraterna ou se torna fraterna?
Ainda não sabemos. Hoje, conhecemos que a inteligência tem uma herdabilidade de 0,7 sobre 1 e a extroversão, de 0,5, mas sobre a fraternidade não há dados.
O que foi estudado na Universidade da Califórnia é que a felicidade é determinada em 50% por fatores genéticos, 10% por aspectos circunstanciais e 40% por fatores relacionados à atitude pessoal deliberada e intencional. Ou seja, temos muito espaço para agir neste campo! Podemos fazer muito mais para ser felizes e conseguir isso.
Como é a felicidade que nasce da fraternidade?
Segundo Martin Seligman, existem 3 tipos de felicidade. A primeira nasce do prazer dos sentidos, hedonista, que perece; a segunda surge do entregar-se profundamente a uma atividade e sentir que o tempo se detém; a terceira se dá quando uma pessoa transcende a si mesma e se coloca ao serviço de algo maior que ela. Esta última é a que envolve o espírito fraterno, ainda que o interessante seria poder praticar as três conjuntamente.
Em um mundo pós-moderno, o amor e a fraternidade poderiam ser o novo princípio para transformar a atual crise de valores?
Não é um princípio novo, é muito velho. Mas o homem pós-moderno tem, pela primeira vez, acesso a uma informação para ele inquestionável, que lhe propõe: "Se você quer ser feliz, pratique a fraternidade".
O altruísmo, essa doação aos outros, a compaixão e a caridade são só questões religiosas, éticas ou espirituais?
Estudos recentes evidenciam que não. São questões historicamente unidas à religião, à filosofia, à espiritualidade; mas estes experimentos neurocientíficos evidenciam que também fazem parte da psicobiologia. Está na nossa natureza. Mas, como todos nós sabemos, o ser humano é livre para escolher.