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Caso Woolwich: assassinos criados em nossos berços

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Marcelo López Cambronero - publicado em 27/05/13

Abram os olhos: o fundamentalismo islâmico contemporâneo é um fenômeno ocidental

Até agora, pensávamos que o perigo do fundamentalismo islâmico provinha dos íngremes vales do Rif, ou das distantes e inóspitas regiões em torno de Timbuktu, ou da Arábia acanelada, melosa e seca.

Espero que já tenhamos percebido, você e eu, querido leitor, que nenhum pastor de cabras da Arábia recebe em sua aldeia de casas de barro os cursos que capacitam para a pilotagem de um Boeing 747 que deve colidir, com toda precisão, com as Torres Gêmeas de Nova Iorque. Porque o fundamentalismo islâmico contemporâneo é um fenômeno ocidental.

Michael Adebolajo apareceu na primeira página de todos os jornais porque se aproximou de uma câmera de televisão mostrando suas mãos ensanguentadas e, depois de ter assassinado a sangue frio um militar que passava por ali, sem mais, gritou a todos nós, sem vergonha alguma: "Juramos por Alá misericordioso que nunca pararemos de lutar contra vocês! A única razão pela qual fizemos isso foi porque há muçulmanos que morrem todos os dias. A morte deste soldado é um olho por olho, dente por dente".

O que chama a atenção é que Adebolajo havia nascido na Inglaterra, em uma família cristã de origem nigeriana e matriz puritana. Seu criminal companheiro, menos efusivo diante da mídia, mas igualmente apodrecido pela ideologia, estudava na Universidade de Greenwich. 

Não eram islamitas formados na Arábia; não haviam formatado suas mentes em campos de extermínio paquistaneses. Eram dois jovens ocidentais que, até pouco tempo atrás, estavam perfeitamente adaptados à vida em nosso mundo moderno, assim como os estudantes que protagonizaram a matança de Boston.

Como comentei, o fundamentalismo islâmico contemporâneo é um fenômeno ocidental, e não a fantasia de um grupo de dementes reacionários e turbulentos que anseiam por algo como um medievo global e muçulmano.

Os fundamentalistas não pretendem a volta a um momento histórico passado, mas a construção de uma sociedade diferente, segundo um panorama ideológico monolítico que se parece com a religião que afirmam (e até acreditam) professar.

Não é que sejam maus crentes (isso somos mais ou menos todos nós); o que acontece é que aquilo em que creem não é em Deus (ainda que o chamem de Alá), mas apenas em seus próprios atos violentos simplistas e escandalosos. O que poderia explicar, do contrário, que uma pessoa fale de "Alá misericordioso" para justificar-se, a poucos metros do cadáver degolado da sua vítima?

No entanto, seria de uma ingenuidade culpável considerar simplesmente como idiotas radicais aqueles que se deixam cair nos braços do fundamentalismo islâmico.

Osama Bin Laden pode ter sido tudo o que você quiser, mas não era bobo. Existe alguma coisa, e possivelmente algo de verdade, no discurso dos radicais, para que consiga atrair pessoas de diferentes nacionalidades, crenças e paradigmas culturais às suas posições extremistas.

Não podemos nos esquecer que, em menos de dez anos, segundo os profetas estatísticos, o número de convertidos ao Islã no Reino Unido será maior que o dos que nasceram em uma família muçulmana; e que, entre os que se convertem à religião do Profeta, há 400% a mais de mulheres que homens. Como isso é possível?

Talvez a resposta possa estar nestas palavras de uma entrevista no London Times: "Não há nenhuma mulher muçulmana que esteja sozinha, nem uma só mãe que se sinta abandonada, e você também não encontrará uma mulher muçulmana doente mental que se sinta sozinha. Esta forma de comunidade não é comum dentro do Ocidente".

E é verdade. No Ocidente, o comum é que as pessoas se sintam sozinhas, tanto no sentido de não perceber uma companhia verdadeira como no de não conceber um significado convincente sobre a vida.


Um ser humano que ama a vida não pode se manter em pé diante das dificuldades quando lhe falta uma certeza sobre o valor da existência. Como nós, ocidentais, desacreditamos sistematicamente nossa cultura e nossas tradições, demolindo-as, como crianças que lançam ao ar os pratos da avó, aqueles que veem a realidade e a dureza da existência, e levam a sério sua vontade de viver, encontram-se diante de duas alternativas: a ideologia ou a religião.

A partir da Revolução Francesa, experimentamos dois dos três caminhos que seu lema propunha: a igualdade, com os regimes comunistas, e a liberdade, nas democracias liberais, que tiveram um êxito enorme, mas que parecem esgotadas e se tornaram infiéis a si mesmas.

Chegou a hora de experimentar a fraternidade. Para isso, devemos nos libertar das mensagens que nos fecham ao mundo e aos outros, dos discursos pré-fabricados, que são quase os únicos que sabemos pronunciar hoje em dia.

Precisamos nos libertar das ideologias, porque elas nos impedem de ver no outro um irmão, e nos levam a percebê-lo com estranheza, como alguém que não é dos meus, porque não compartilha meu relato artificial sobre o que as coisas são, esse relato que me nego a comparar com o que há diante de mim por medo de perder o controle.

A ideologia leva a matar sem misericórdia, clamando com blasfêmia a um "Alá misericordioso"; leva a espancar um policial porque é policial, a colocar uma bomba embaixo de um carro para libertar um povo, afogando-o com o sangue das suas vítimas inocentes.

Karen Armstrong escreveu: "O fundamentalismo é um fato universal que floresceu em todas e cada uma das principais religiões, como resposta aos problemas apresentados pela modernidade".

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Referências

Karen Armstrong, El Islam. Mondadori, Barcelona, 2001.
Philippe Muray, Queridos yihadistas. Nuevo Inicio, Granada, 2010.
Philippe Muray, El imperio del bien. Nuevo Inicio, Granada, 2012.

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