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Jihadismo? Antes de combatê-lo, é preciso estudá-lo

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KENZO TRIBOUILLARD

Aleteia Vaticano - publicado em 29/05/13

Análise do Pe. Paolo Dall'Oglio, que esteve na Síria durante 30 anos e foi expulso pelas autoridades de Damasco em 2012, por defender os rebeldes

O jihadismo é uma realidade cultural, política e militar de fortalecimento, e que não pode ser ignorada, mesmo no âmbito teológico. Quem está convencido disso é o Pe. Paolo Dall'Oglio, jesuíta italiano que viveu 30 anos na Síria, antes de ser expulso pelas autoridades de Damasco, em 2012, por seu apoio aberto aos rebeldes que lutam para derrubar o regime de Bashar al-Assad.

A galáxia jihadista, observou o sacerdote, "é um sujeito cultural, religioso, político e militar considerável". "É um ator político e militar cujo peso deve ser levado em conta, uma vez que venceu no Iraque, está vencendo no Afeganistão, não será vencido em Mali e torna impossível uma solução na Somália" (Sirialibano.com, 15 de abril).

Neste contexto, em sua opinião, é preciso primeiro "operar no âmbito da inteligência, a fim de evitar consequências ainda mais sérias e arruinar seus planos para a universalização do terror", mas é preciso agir também no âmbito social, ajudando a sociedade civil islâmica a assumir as suas responsabilidades, como declarou recentemente ao Fórum Euro-Mediterrânico da Fundação Anna Lindh, em Marselha.

Para o sacerdote, há dois tipos de jihadismo: um disposto a dialogar, e outro rigidamente dogmático, "mais difícil de gerir, um pântano, no qual você pode encontrar qualquer coisa: serviço secreto, mafiosos, extremistas. Um pântano do qual temos de tirar os meninos, os nossos filhos: meninos religiosos, que estão sedentos de discursos religiosos, e que certamente não encontram em prisões como Guantánamo". Diante deste fenômeno, é preciso também "um esforço teológico" das três religiões monoteístas, a fim de estudar como lidar com o islamismo e com o jihadismo político.

O fenômeno também afeta a Síria, um país no qual o Pe. Dall'Oglio observou por dois anos uma sangrenta guerra civil. "Na primeira fase, eu lutei por uma intervenção diplomática" para evitar grandes conflitos internacionais; em seguida, o sacerdote apoiou a necessidade de uma presença não-violenta das ONG, "quando tudo ainda era possível, isto é, até o verão de 2011"; e então chegou a hora do "direito à autodefesa e o dever de salvar um povo em desgraça". Devido ao seu apoio aos rebeldes, ele agora vive no exílio, de onde publicou "La rage et la lumière" (ed. de l'Atelier), um depoimento sobre sua vida e sua análise do conflito sírio.

"O povo sírio finalmente disse 'não' ao regime torturador, bárbaro e mafioso de Bashar Al-Assad", afirmou. Dois anos após a tragédia, em sua opinião, há uma crescente percepção de que na Síria há algo global em jogo. "Vemos o trabalho americano pós-Bush, o neosovietismo, tensões mortais entre sunitas e xiitas, a confessionalização de toda a região, a paralisia europeia por razões internas. E, como muitas outras sociedades árabes, nós queremos saber qual poderia ser a compatibilidade entre uma política islâmica e uma democracia madura e pluralista" (La Vie, 7 de maio).

Para o sacerdote, a guerra civil na Síria desempenha um papel significativo, também na Europa. Quando nós falamos sobre isso, "falamos de nós mesmos", diz ele, porque "esta é a grande pergunta: que papel deve ser atribuído à comunidade muçulmana? E o que estamos fazendo para que os muçulmanos possam participar da democratização do mundo, da organização da paz mundial, do reequilíbrio dos efeitos demográficos, econômicos e ambientais do mundo? Ou queremos fazer democracia contra o Islã? O ambiente contra o Islã? A organização política do mundo contra o Islã ou apesar do Islã? Isso seria uma ilusão".

Parece paradoxal que um sacerdote defenda o uso de armas na oposição síria. O Pe. Dall'Oglio explica isso dizendo que ele havia trabalhado por 15 anos "pelo surgimento de uma sociedade civil na Síria e pela transformação democrática madura e pacífica", mas que isso não deu certo. "A Europa e a toda a comunidade internacional, que tanto esperavam uma revolução pacífica na Síria, falharam. São os nossos jovens sírios, muçulmanos e cristãos, os que tomaram as ruas. Eles impuseram a revolução. Eles disseram: basta! No início da primavera de 2011, exigiram simplesmente a liberdade de opinião e expressão. Não exigiram o fim do regime, mas uma abertura coerente. Porém, quando os manifestantes foram mortos e sistematicamente torturados nas prisões, impôs-se a necessidade da revolução, de pegar as armas. Na verdade, não há outra alternativa."

O jesuíta reconhece que é preciso sempre buscar a solução pacífica, propondo saídas. "Mas quando você é atacado, bombardeado, quando não existe a possibilidade de fugir, você pode pelo menos tentar salvar-se fisicamente do regime, defendendo-se com as armas."

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