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A lembrança do Papa João XXIII, segundo seu secretário

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Chiara Santomiero - publicado em 04/06/13

Nesta entrevista concedida à Aleteia, Dom Loris Capovilla conta um pouco mais sobre o Concílio Vaticano II e a paz do "Papa bom"

Dom Loris Capovilla, arcebispo emérito de Chieti-Vasto e secretário de Roncalli desde 1953, quando era patriarca de Veneza, na casa de Camaitino, em Sotto il Monte (Bérgamo), é a memória viva do pensamento e da voz de João XXIII.

Um dia depois da Páscoa, o Papa Francisco ligou pessoalmente para ele, como nos conta nesta entrevista, dividida em duas partes, na qual, com muita cordialidade, ele aceitou compartilhar com a Aleteia algumas lembranças de Angelo Roncalli.

Para ler a primeira parte da entrevista, clique aqui.

O senhor foi secretário de Roncalli durante 10 anos…

Em primeiro lugar, eu não me considero secretário do Papa João XXIII, e menos ainda confidente, amigo … Eu não ousaria usar tais termos. Eu uso um termo que ele mesmo disse para mim: "contubernale", do latim, que é aquele que vive comendo um pedaço de pão na mesa de seu senhor; e se este é um padre, um eclesiástico, então essa pessoa reza, celebra a missa com ele, ouve e responde quando consultado.

A relação Roncalli-Capovilla, desde Veneza, sempre foi assim: eu falo com você com confiança, como se estivesse falando para mim mesmo; se você gosta do que eu digo, você diz: "Muito bem, eminência"; se tiver algumas reservas, então diz: "Ah, não, não é bom". Você entende a pedagogia? De seu silêncio, ele sabe que você não concorda.

O Papa João XXIII gostava muito de ouvir aqueles que pensavam de forma diferente dele, que se expressavam com liberdade. Muito além de tradicionalistas e conservadores, primeiro havia o respeito pelo homem e seus pontos de vista: isso não quer dizer que ele concordaria com eles, mas era muito importante que a pessoa pudesse se expressar.

Não foi precisamente assim que começou o trabalho do Concílio Vaticano II? Uma carta, ampla, respeitosa, enviada a todos os bispos para que dessem sua opinião sobre o que eles consideravam que seria mais urgente para a Igreja na época.

Que outras características marcaram a personalidade do Papa Roncalli?

Manso e humilde de coração: estas foram as suas características; e esse contínuo mergulho no eterno, não no contingente, nas coisas que passam. Mas, como todas as pessoas mansas, também era capaz de ser firme.

Quando, na noite da sua eleição, eu disse: "Santo Padre, que grande dia!", ele respondeu: "Sim, mas que grande humilhação". "Por quê?", perguntei. "Veja-me no trono da Capela Sistina, com os cardeais beijando meus pés, até os que são mais velhos que eu… Eu não quero isso!", disse ele. E então aboliu imediatamente este gesto. Ele foi o "Papa bom", mas, quando dizia "não", era "não".

Cinquenta anos após a "Pacem in terris", será que somos um pouco melhores?

Infelizmente, ainda estamos fortemente armados e a indústria da guerra continua, mas os cristãos devem ser capazes de sonhar que a paz não é uma utopia e que podemos ser a encarnação da paz na grande família humana.

O "Papa de transição" surpreendeu da Cúria e o mundo inteiro com o anúncio da abertura de um concílio ecumênico. Por que ele o considerou urgente para a vida da Igreja?

O Papa João XXIII estava ciente – e este é o senso de colegialidade que Francisco tornou visível, com a criação da comissão dos nove cardeais – de que um homem sozinho não é suficiente para compreender a complexidade da época e das culturas. Ele tinha bons colaboradores, que estimava muito, mas dizia que "não somos suficientes para esta grande empresa".

O Concílio nasceu por isso, para entender juntos como a Igreja deve responder às expectativas da sua época. "Não é um projeto humano – disse Roncalli –, mas é Deus quem nos guiará". Ele estava ciente de que provavelmente não o levaria até o final: "Eu vou começar – disse ele – e já é uma grande honra que Deus tenha me dado esta inspiração. Responder 'sim' a uma inspiração, colocar-se em caminho, já é muita coisa".

Depois de 50 anos, como o senhor vê os frutos do Concílio?

Ele disse: "caminhemos juntos" e "quando formos cristificados, tudo vai ser resolvido mais facilmente". Como? Vemos alguns exemplos. Como um jovem padre, eu jamais poderia imaginar uma visita do patriarca ecumênico Bartolomeu, mas hoje ela acontece.

Uma família, um só rebanho, um só pastor. Talvez demoremos milênios para chegar a isso, não será amanhã, mas quem somos nós? Mil anos diante de Deus são como "o dia de ontem que passou". "Tantum aurora est", disse João XXIII em seu discurso de abertura do Concílio: "É só a aurora". Estamos no começo.

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