Muitos cristãos são incapazes de mostrar suas crenças com naturalidade
A constituição Gaudium et spes, do Concílio Vaticano II, afirma que "a razão mais sublime da dignidade do homem consiste na sua vocação à união com Deus. É desde o começo da sua existência que o homem é convidado a dialogar com Deus: pois, se existe, é só porque, criado por Deus por amor, é por Ele por amor constantemente conservado; nem pode viver plenamente segundo a verdade, se não reconhecer livremente esse amor e se entregar ao seu Criador" (GS 19)
São muitas as conclusões que poderíamos extrair deste ensinamento conciliar. Além de nos convidar a permanecer em atitude de escuta para poder responder aos constantes convites do Senhor, recorda que a nossa existência é a manifestação mais clara do seu amor incondicional a cada uma das suas criaturas. Portanto, a mais alta dignidade do ser humano consiste em viver a comunhão com Deus e com os seus ensinamentos.
Deus não deixa de atrair o ser humano para comunicar-lhe o seu amor, para oferecer-lhe a sua salvação e para mostrar-lhe o caminho da felicidade. No entanto, observamos que o ser humano, com frequência, prefere viver à margem de Deus, não tem interesse em escutar a sua Palavra e se comporta como se Ele realmente não existisse.
Esta despreocupação pelas coisas de Deus sempre será um obstáculo para que a pessoa, criada à sua imagem e semelhança, possa encontrar a verdade que busca incansavelmente e que só pode encontrar no Senhor.
Ao observar a realidade atual, podemos comprovar que, salvo em raras exceções, os responsáveis do governo das nações e os que ostentam algum tipo de responsabilidade na vida pública falam e agem esquecendo totalmente a existência de Deus.
Sem saber muito bem os motivos, também observamos que, na convivência social, impôs-se o costume de não falar de Deus. Às vezes, parece que este silêncio sobre Deus é um sinal de progresso ou uma condição necessária para estabelecer a convivência e as relações sociais e paz e liberdade.
Também podemos constatar com certa perplexidade que alguns católicos têm medo de confessar publicamente suas convicções religiosas, para não ser rotulados de "antiquados". Este medo de mostrar com naturalidade as próprias crenças demonstra uma profunda insegurança religiosa nos que escondem sua fé e pode provocar dúvidas em muitos cristãos de fé simples.
Diante da constatação desta realidade, todos nós poderíamos nos perguntar: pretendemos ser mais modernos silenciando Deus? Ao não contar com Deus na convivência diária, estamos tentando nos apropriar de um mundo que só pertence a Ele? Será que caímos no erro de pensar que as convicções religiosas devem ser relegadas ao âmbito privado e, portanto, não devem ser mostradas publicamente?
Se não quisermos chegar a um escurecimento da consciência moral, a uma degradação da liberdade e a um relativismo nos comportamentos sociais, é preciso superar o medo de nomear Deus e colocá-lo como fundamento da vida e das decisões pessoais.
Como nos recorda Santo Agostinho, ainda que pretendamos negar a existência de Deus, nosso coração estará inquieto enquanto não descansar nele, pois fomos criados por Ele e para Ele.