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Cultura da garrafa: por que nossos jovens bebem?

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Marcelo López Cambronero - publicado em 01/07/13

Oblomov e o vazio existencial: o que fazer quando a vida não oferece razões para viver

Oblomov é um dos personagens paradigmáticos do romance russo, a quem se poderia considerar como "o eterno adolescente". Vive quase exclusivamente dentro do seu quarto, dormindo o máximo que pode, sem decidir-se diante de nada, porque a vida não lhe oferece nada. Ele está entediado, cansado, não faz ideia de a que dedicar seu tempo livre e decide entregar-se a um estado letárgico, esperando que as horas passem.

Por que falo deste estranho personagem, que demora 150 páginas do romance de Goncharov para sair do seu quarto? Porque nossos jovens, contra o que costumamos ouvir ou pensar, não é que não querem fazer nada, não é que passam os finais de semana assistindo TV até a hora da balada e de encher a cara porque são preguiçosos. Não, senhores. O que acontece é que eles não têm nada para fazer porque nós os trouxemos ao mundo para convencê-los de que viver não vale a pena.

Assumir responsabilidades familiares e no trabalho, ter a cabeça no lugar e ganhar o pão de cada dia não são os elementos que constituem a maturidade de um homem ou de uma mulher da nossa época, nem de nenhuma outra. Estas são as consequências naturais de outro processo que é colocado em jogo na adolescência e que será determinante para o porvir de cada pessoa: acolher o sentido da vida.

Oblomov é o paradigma do eterno adolescente porque não compreendeu para que vive, não tem nenhum objetivo no qual se focar e, portanto, perdeu a capacidade de assombrar-se, de entregar-se, de construir. Perdeu toda esperança e isso, como bem sabia Dante, é o inferno. Ele não sabe o que fazer porque não compreende por que motivo teria de fazer algo.

A adolescência é a etapa em que a pessoa se depara com o sentido e fins da vida. A diferença fundamental com a infância é que o jovem quer tomar as rédeas por si mesmo, compreender por si mesmo o que vale a pena e aderir a isso livremente. Ele descobre que não vale depender dos critérios e modelos dos pais. Talvez, depois de alguns anos, ele retorne a esses padrões, mas deseja fazer isso a partir de uma posição que lhe seja própria, quer alcançar uma posição que o ajude a orientar seu destino, e é justo que faça assim.

A pergunta não é como evitar que os jovens bebam, mas se fomos capazes de oferecer-lhes um significado do mundo e do devir humano que os faça empenhar-se na vida, ao invés de afirmar que não há nada que toque seus moles corações.

Se eles não acreditam no amor duradouro, na entrega pelos filhos, em um trabalho que os faça crescer e dar o melhor de si; se castramos sua exigência de plenitude, dizendo-lhes – mais com nossos atos que com nossas palavras – que não se pode esperar nada além dos afazeres rotineiros, dos desenganos, dos amores passageiros e dos moralismos impostos pelo poder, o que lhes resta esperar?

Não os enganemos: eles entendem perfeitamente que, assim, a vida é uma condenação. Eles nos olham atentamente, resignados, afundados, e nos perguntam: "Você não tem nada melhor a oferecer?". E, ao ver como baixamos a cabeça, pensam: "Então me sirvam outro copo!".

Os psicólogos tendem a buscar explicações sobre os comportamentos dos seres humanos sem levar em consideração um dado essencial: o homem não quer apenas passar suas horas na terra, mas sente a exigência de dedicá-las a algo extraordinário.

Na adolescência, mais que em qualquer outra etapa, o jovem anseia por um sentido da vida que resposta ao enorme grito que brota do seu interior. Os especialistas nos dirão que os jovens bebem porque querem integrar-se (e é verdade), que buscam padrões de comportamento adulto fora do lar (de fato) e que pretendem deixar sua infância para trás (e também nisso têm razão). Mas os especialistas se limitam a argumentos, como estes, apenas secundários.


A realidade é que os jovens bebem, fogem no final de semana e, no entanto, se cansam, porque não encontraram nada pelo qual valha a pena entregar suas forças, suas potencialidades e, por isso, mergulham na ociosidade, caindo no que Victor Frankl chamava de "vazio existencial".

É preciso dar nome aos bois: muitos adultos se acostumaram a cochilar no mesmo canto escuro em que seus filhos se encontram, só que às vezes dissimulam. Os jovens sempre serão a verdade da vida adulta que nos é jogada na cara, o espelho mais coerente de nós mesmos.

Como podemos agir? Se pensamos que a vida acaba com a morte, que não há nada além disso, e que não é possível acreditar que estejamos chamados a uma vida grande, plena, então estamos indefesos.

Acontece justamente o contrário se você, leitor, é dos poucos que não se tornou cético ou cínico. Neste caso, terá a casa aberta aos amigos, procurará que seus filhos se relacionem com filhos daqueles que pertencem à mesma estranha espécie, essa daqueles que estão encantados com a realidade, literalmente, que contemplam as estrelas pensando que seu coração ainda é maior que a imensidade do espaço sideral.

Então, procurará ensinar que existem fins grandes na vida, inclusive maiores e mais valiosos que a própria vida, pelos quais vale a pena sacrificar-se, pelos quais é uma alegria sacrificar-se. Se for assim, não se preocupe. Seus filhos beberão do cálice da sociedade contemporânea, porque estão buscando sua própria autoconsciência do mundo, mas em breve lançarão a amargura para bem longe.

Ah, mas se você, no entanto, acreditou que o adormecimento que provoca o consumo de álcool era a resposta adequada às necessidades dos seus pequenos, e não lhes ensinou o valor do esforço, nem que existem metas elevadas nas quais podemos confiar, que nos trarão uma alegria enorme, não reclame se seus filhos responderem exclusivamente a tais parâmetros e dedicarem todo o tempo que puderem a fugir da realidade, já que você insistiu em que sua aventura por este vale de lágrimas é vazia e estéril.

Agora é tarde; já não aceitarão limitações (que sentido tem isso?) e não se pode fazer nada… salvo uma coisa. Há uma expectativa à qual deveriam se agarrar os que se encontram com jovens ingovernáveis: que encontrem no caminho alguém da rara espécie dos românticos, dos sonhadores – refiro-me aos autênticos realistas –, que lhes acompanhem rumo à luz que está além do túnel.

Se você conhece alguém assim, convide-o para jantar na sua casa e conhecer seu filho rebelde sem causa – e aproveite a oportunidade para perceber que sua proposta também é válida para você.

Isso foi o que aconteceu com a protagonista de "Meu primeiro homem" ("My first mister"), filme que teria de ser obrigatório para a reflexão de todos os pais de filhosadolescentes: nele, uma jovem que perdeu o rumo descobre que há uma pessoa que ama seu destino mais do que ela mesma e, imediatamente, atraída por esta grandeza que vai entrevendo, sai do tenebroso buraco em que se havia instalado.

E digo mais: talvez, se o seu filho sair desse buraco por meio dessa pessoa, haverá esperança também para você, querido leitor.

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