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Os milagres são realmente necessários para ser proclamado santo?

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Aleteia Vaticano - publicado em 24/07/13
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Entenda a “exceção” feita no caso de João XXIII e as razões que levaram o Papa Francisco a aprovar sua canonizaçãoA notícia de que João Paulo II se tornará oficialmente um santo para a Igreja, junto a João XXIII, já deu a volta ao mundo, suscitando interesse geral, mas a particularidade de João XXIII aumentou consideravelmente a curiosidade do povo, já que o Papa Francisco decidiu adiar o segundo milagre necessário para a sua canonização.
 
Um milagre para ser beato e dois para se tornar santo: esta é a "tarifa" cobrada pelas regras modernas da Igreja de Roma, como brinca o Blitz Quotidiano (9 de julho). Mas, para ter acesso às moradas celestes, de vez em quando se recebe uma ajudazinha. Este é o caso do Papa Roncalli, que será santo em breve graças a uma derrogação querida pelo atual Pontífice: um só milagre aprovado, no seu caso, pode ser suficiente.
 
Para o jornal, esta é uma escolha extremamente política do Papa Francisco, que se sente muito próximo de João XXIII, não somente pelo trato humano e pela capacidade de aproximar-se das pessoas, mas também pela vontade reformadora que motivou o Papa do Concílio.
 
Mas quais são as regras, nesta matéria? O caso do Papa Roncalli é uma exceção, em sentido estrito?
 
Sempre segundo o Blitz Quotidiano, os dois milagres são, na verdade, uma novidade relativa na história da Igreja, introduzidos somente 5 séculos antes pelo Papa Sisto V (1585-1590) e Urbano VIII (1623-1644), que estabelecem os procedimentos modernos de canonização. Durante os 15 precedentes, e os respectivos papas feitos santos, a regra dos dois milagres não valiam.
 
E o jornal destaca: “Inclusive para os pontífices desde Pedro até 335, a santidade foi reconhecida automaticamente em virtude, da sua, digamos, difícil situação operativa. Todos os bispos de Roma, até Constantino, são considerados mártires e, por isso, santos. A situação muda nos séculos seguintes: nos 200 anos posteriores a Constantino, os pontífices canonizados foram cerca de 20, com uma média de um a cada 10 anos. Depois, não. Na Idade Média, de fato, só um sucessor de Pedro foi canonizado: Celestino V, o da grande renúncia – o único papa, até Bento XVI, que renunciou. Depois de três séculos, em 1606, Paulo V canonizou Gregório VII”.
 
Post (6 de julho) recorda que, atualmente, segundo a constituição apostólica Divinus Perfectionis Magister, promulgada em 1983 por João Paulo II, o processo para se tornar santo, ou seja, a canonização, requer diversas condições e passos: o candidato deve ter morrido pelo menos 5 anos antes (a menos que haja uma dispensa do Papa, como Bento XVI fez com relação a João Paulo II), deve haver sido proclamado Servo de Deus e depois Beato, e é preciso reconhecer-lhe pelo menos um milagre, se morreu mártir, ou dois, se não foi martirizado.
 
Mas e Roncalli? Como ele pode ser canonizado se lhe “falta” um milagre? A palavra definitiva é do vaticanista Andrea Tornielli, no Vatican Insider (15 de julho), que explica como isso pode acontecer, segundo as fontes autorizadas de Avvenire.
 
Se muitos recordam a petição de “santo súbito” que houve no funeral de João Paulo II, poucos sabem que algo parecido aconteceu com João XXII. Vários padres conciliares e milhares de fiéis compartilhavam esta petição.
 
No último dia 5 de julho, o Papa Francisco promulgou o decreto sobre o milagre por intercessão do Beato João Paulo II, e aprovou os votos favoráveis expressos pela Sessão Ordinária dos cardeais e dos bispos para a canonização pro gratia do Beato João XXIII.
 
“Isso quer dizer – escreve Avvenire – que o Papa Bergoglio acolheu favoravelmente as motivações apresentadas pela Congregação dos Santos sobre a petição da postulação da causa de João XXIII, para poder proceder à sua canonização inclusive na ausência de um milagre formalmente reconhecido, como acontece na prática para chegar à proclamação da santidade.”
 
A possibilidade de proclamar a santidade também em ausência de um milagre científica e teologicamente demonstrado não é uma novidade absoluta; é uma exceção que já teve vários precedentes. É o caso, por exemplo, de Agostinho Zhao Rong e 119 companheiros.
 
Eles chegaram à beatificação pelo processo regular, em momentos diferentes. Suas causas se unificaram e, com a assinatura do decreto “de signis”, de João Paulo II, foram dispensados do milagre.
 
Os elementos que motivaram o Papa Wojtyla a tomar esta decisão foram: uma indiscutível e crescente fama de santidade e milagres atribuída a eles depois da beatificação e a influência especial que sua memória havia exercido na perseverança da fé em contextos extremos e difíceis.
 
No caso de João XXIII, as principais razões pelas quais se decidiu proceder à canonização são essencialmente duas, segundo relata o Avvenire: a primeira tem a ver com a excepcional amplitude do culto litúrgico já reconhecido ao beato, que, prévia petição de autorização, foi concedido pela Santa Sé a diversas dioceses do mundo, da Ásia às Américas. A memória litúrgica de João XXIII, oficialmente inscrita no calendário das igrejas particulares, se configura como similar à de um santo canonizado.
 
A este culto se une também uma crescente fama de sinais e milagres que acompanha, no povo de Deus, a memória do Papa Bom. Desde o dia da sua beatificação, em 3 de setembro de 2000, de fato, chegaram à postulação, de todas as partes do mundo, numerosos relatos de graças e favores obtidos por intercessão do beato, muitas vezes acompanhados de documentação médica. Cerca de 20 casos muito interessantes.
 
A segunda motivação decisiva se deu pelo “santo súbito” dos padres do Concílio Vaticano II, que, logo depois da morte de Roncalli, esperavam sua canonização inclusive como um ato do próprio concílio.
 
Nenhum candidato à canonização pode, portanto, vangloriar-se atualmente de uma excepcionalidade similar: um culto litúrgico difundido já na Igreja universal e uma petição de canonização por aclamação expressa em um concílio.
 
Assim se “desvelam” as principais razões pelas quais o Papa Francisco aprovou o procedimento de canonização do Beato João XXIII. Nenhum “desconto” na santidade.

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