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O trabalho cultural e a proposta social do papa Francisco

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Francisco Borba Ribeiro Neto - publicado em 28/07/13

Mas o que é esta questão cultural? O que significa construir uma nova cultura?

A questão cultural é fundamental para entendermos a mensagem social do papa Francisco. Já vimos este tema quando comentamos seu discurso na favela de Manguinhos (ver Francisco, a cultura e a opção pelos pobres). O assunto voltou, contudo, de forma ainda mais explicita, unindo a homilia da missa com os bispos, sacerdotes, seminaristas e religiosos na JMJ ao discurso aos representantes da sociedade brasileira no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Na homilia, o papa refere-se a três chamados: o chamado de Deus que nos escolheu para sermos seus, o chamado a anunciar o Evangelho e o chamado a promover a “cultura do encontro”. No discurso às personalidades do mundo político e social, considerou três aspectos necessários para construir o bem comum: o resgate de sua tradição cultural, a responsabilidade social diante do futuro e o diálogo.

Assim, a questão cultural aparece como responsabilidade da Igreja diante da sociedade e como primeiro ponto para o trabalho que todos, cristãos e não cristãos, devem empreender para a construção do bem comum. Mas o que é esta questão cultural? O que significa construir uma nova cultura? Ainda que certos aspectos sejam quase evidentes, vale a pena refletir um pouco sobre o que é um trabalho cultural, para podermos estar mais perto da proposta que o papa nos faz.

Para começar, todo trabalho cultural é um trabalho de conversão da mentalidade, do modo pelo qual vemos o mundo. E a coisa mais fundamental que deve mudar é o modo pelo qual vemos a nós mesmos e o mundo. Temos que nos ver não como indivíduos sozinhos, obrigados a usar nossas poucas energias morais para enfrentar o mundo e tentar fazer as coisas do jeito certo – ou então pagar o preço de nossos erros. Pelo contrário, temos que nos ver como acompanhados por Cristo, amparados por Ele, perdoados quando erramos, fortalecidos quando somos fracos. Foram particularmente tocantes, neste sentido, as palavras que o papa Francisco dirigiu aos jovens na Vigília de Oração da JMJ.

Aquele que se descobre amado e acolhido por Cristo não consegue não amar e acolher ao próximo. Assim a mudança no modo como nos vemos leva-nos a ver também o outro de modo diferente, solidário. Passamos a querer o bem do outro, a querer experimentar a comunhão com ele. Dai nasce desejo do encontro e a capacidade do diálogo, tão enfatizados pelo papa nestes dias.

A conversão da mentalidade implica numa capacidade de “julgar tudo e ficar com o que é bom” (cf. I Tes 5, 21). Daí o interesse por toda a realidade, a vontade de conhecer, de entender o que se passa, de descobrir o rosto bom de Cristo nas coisas e nas relações interpessoais – e a capacidade de julgar e denunciar a desumanidade quando ela se apresenta na realidade. A experiência cristã permanece intimista e tem grande dificuldade de fecundar a realidade se os cristãos não se dedicam a este trabalho de conhecer a realidade e julgá-la buscando encontrar o que é bom. Uma coisa importante é perceber que isso não quer dizer sair por aí condenando àqueles que não professam nossa fé ou comungam com nossos valores. Isso não seria um juízo cristão, pois o discípulo de Cristo está sempre pronto a acolher, a apontar para o bem e buscar o diálogo e o encontro.

Mas nada disso adiantará se ficarmos fechados em nossas paróquias e em nossos grupos de estudo, se não “formos para a rua” – como o papa tanto exorta, se não nos dedicarmos a obras e movimentos que ajudam a criar uma nova realidade no mundo. A tradição cultural rica, solidária e aberta do povo brasileiro, a responsabilidade social dos homens públicos e as relações políticas permeadas pelo diálogo – apontadas pelo papa em seu discurso – são o resultado da ação de pessoas que se lançam no trabalho social, buscando construir o bem comum e realizar uma cultura de encontro e solidariedade, e não uma cultura individualista, do descarte e do pragmatismo.

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