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O Papa Francisco fala sério

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FILIPPO MONTEFORTE

Rafael Navarro-Valls - publicado em 31/07/13

A viagem ao Brasil superou todas as expectativas e surpreendeu analistas e especialistas pela projeção dos ideais em âmbito mundial

“A viagem ao Brasil do Papa Francisco superou todas as expectativas”. Essa frase seria suspeita de triunfalismo nos lábios do séquito papal ou do executivo brasileiro. Mas ela é do jornalista e rabino judeu Gustavo Guershon. Ele tem razão. Nunca uma viagem papal – salvo a primeira de João Paulo II à Polônia – tinha levantado tantas esperanças, dentro e fora do Brasil.

Quando o Papa entrou na “Faixa de Gaza” brasileira – a favela –, não só estavam evidentes a sua mensagem social para as autoridades brasileiras e os fiéis do mundo, mas também à diplomacia e até a inteligência dos EUA, China, UE e Cuba, entre outras. Sentiu-se uma certa tensão nas cúpulas dos executivos mundiais quando ele pediu uma ação contundente para defender os pobres perante intoleráveis desigualdades sociais e econômicas que clamam ao céu.

Uma das grandes expectativas da viagem ao Brasil era como o Papa argentino enfrentaria o dilema de articular algumas estruturas econômicas próximas do “turbo-capitalismo”, alheio à solidariedade, com um novo marxismo vergonhoso, alérgico à liberdade. Que versão ele daria da sua “Igreja dos pobres”. Teria a mensagem do Papa alguma ligação com a teologia da libertação, da qual um dos centros foi o Brasil? Com todo meu respeito aos teólogos, depois de uma análise atenta das intervenções do Papa Bergoglio, temo que essa hipótese esqueça algo importante no pensamento e na ação do Papa argentino: sua forte conexão com a doutrina social da Igreja, anterior no tempo à teologia da libertação.  

As diversas formas dessa última tiraram precisamente da doutrina social da Igreja a grande maioria de suas afirmações, mas esqueceram normalmente o seu espírito: a transcendência. Desde sempre a doutrina social da Igreja condenou os abusos, as injustiças e os ataques à liberdade. Ela anima a lutar “por uma defesa e promoção dos direitos do homem”, de modo que a “opção preferencial pelos pobres” é um postulado fundamental – com esse ou outro nome –, que é recorrente nas encíclicas sociais dos dois últimos séculos. Mas o Papa Francisco – basta ver a sua bagagem teológica – é consciente de que abandonando o ângulo próprio da mensagem eclesiástica, o da teologia moral, algumas formas de teologia da libertação “conduzem inevitavelmente a trair as causas dos pobres”, apensar de seu impulso inicial. 

O Papa Francisco nessa viagem colocou ênfase na ação, lembrando que os princípios, em si mesmos, podem se tornar estéreis se não inspirarem orientações práticas. Talvez por isso o Papa tenha encorajado algo que pode parecer surpreendente: disse aos jovens para agitar as ruas, agitar as diocese, disse que queria uma Igreja que saísse às ruas, que abandonasse o mundano, o conforto e o clericalismo, que deixemos de nos fechar em nós mesmos. Se a isso se junta o otimismo de Francisco, entende-se a rápida aceitação que sua figura tem. Sempre que ele lançou um desafio, o acompanhou de um convite à esperança.

A segunda questão dessa viagem era se os gestos de austeridade dentro do Vaticano – e os seus significados – se veriam no âmbito internacional. Ao que parece, o Papa levou a sério o que o ministro Gilberto Carvalho disse quando, resignado, lhe passaram a mensagem de que Francisco não queria carros blindados nem soldados com fuzis ao ser redor: “será então o povo brasileiro que protegerá a vida do Papa”.

A viagem ao Brasil transcende os limites geográficos. Ali o Papa lançou uma “teologia da inclusão”, que evite abandonar alguns como náufragos na periferia social. 

A pessoa do Papa Francisco, sua mensagem simples e socialmente exigente, seu desprezo pelo politicamente correto e sua proximidade despertaram uma atenção inusitada pela Igreja católica.

O Wall Street Journal acaba de definir Bergoglio como “um verdadeiro animal político”, ajudado por um formidável “púlpito mundial”. A revista Time, ao dedicar uma capa ao Papa argentino, o qualifica como “o Papa do povo”. A Vanity Fair o proclamou “homem do ano”. A imprensa italiana vê o entardecer para vários esquemas no Vaticano, com uma “Igreja dos pobres” e uma teologia do trabalho em cena. Os jovens se entusiasmam com ele. Inclusive os italianos o preferem a ídolos como Valentino Rossi e Mario Balotelli. O fervor de 3 milhões de jovens em Copacabana não deixa dúvidas.

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