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Carta de um homossexual ao Papa

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Aleteia Vaticano - publicado em 01/08/13

É preciso ir às periferias do mundo gay

Quando o Papa Francisco falou no avião sobre o lobby gay, suas palavras foram acolhidas com polêmica por alguns e com alegria por outros. Mas nesse coro de vozes faltava uma voz… a dos homossexuais. Encontramos no blog italiano “Eliseo do deserto” esta voz, que oferecemos traduzida ao português para os leitores da Aleteia.

Queridíssimo PapaFrancisco,

Eu me chamo Eliseo e lhe escrevo para dizer o quanto o aprecio! Devo admitir que meu coração continuava ligado a João Paulo II até que você chegou: sua história falava à minha história. Quando eu o via e escutava, algo se movia dentro de mim. Sua mensagem em Roma no ano 2000 aos jovens ainda ressoa forte em meu peito. Porque é verdade! Nossa sede de amor, de beleza, de verdade… É a Ele a quem buscamos!

Papa Francisco, com sua simpatia, você nos roubou o coração. Eu estava debaixo do balcão (da Basílica de São Pedro) em sua eleição, vivemos o Pentecostes essa noite, no silêncio, nas orações que recitamos juntos, em cada palavra sua.  

Eu sou um jovem, mais um homem adulto, e sofro impulsos homossexuais. Estou surpreso porque nas manchetes dos jornais falam só do que você falou ou não sobre os gays, esquecendo as belíssimas palavras pronunciadas no Rio.

Mas eu quero recordá-las! Você impulsionou os jovens a ir! Também às periferias da existência, ali onde frequentemente enviou os sacerdotes, convidando-os a ter o cheiro das ovelhas. Você falou desses jovens que pressionam para ser protagonistas da mudança e citou Madre Teresa, que dizia para começar por mim e por ti a mudar o mundo.

Papa Francisco, quero lhe falar das periferias da homossexualidade; eu descobri três.

A primeira é a de quem se descobre homossexual. É a periferia da solidão. Recordo que quando me reconheci homossexual, por um momento minha vista escureceu. Me perguntei por que isso acontecia comigo, recordo que estava indo à missa diária. O jovem que admite ser homossexual se sente um monstro e não sabe com quem falar sobre isso. Os pais? Por que lhes dar um sofrimento tão grande? Os amigos? Chacoteariam de mim. Os sacerdotes? Me diriam que é pecado. Quando falei com Deus, encontrei na Bíblia esta palavra: “Mas aqueles que contam com o Senhor renovam suas forças; ele dá-lhes asas de águia. Correm sem se cansar, vão para a frente sem se fatigar”. É Isaías. Na imagem da força eu li uma promessa. Porque eu pensava que não era varão porque não era forte como os da minha idade. Depois encontrei o valor de falar disso com um sacerdote, e com o tempo a amigos de confiança.

A segunda periferia é a homossexualidade de quem é crente. Sim, há também muitos homossexuais que creem em Jesus, mas que não aceitam o que a Igreja diz sobre a homossexualidade e sobre a sexualidade em geral. Não penso neles, mas sim naqueles que, em contrapartida, amam a Igreja e gostariam de seguir seus ensinamentos. A homossexualidade tem um problema fundamental, que leva frequentemente a viver uma sexualidade desordenada e excessiva: as pessoas homossexuais sentem pulsões compulsivas fortíssimas dentro de si, além disso, às vezes podem nascer inclusive sentimentos reais. A proposta da castidade ou do celibato pode parecer um ato de heroísmo, um martírio que só poucos podem enfrentar. Esses homens cada vez são menos, porque o conceito de castidade é cada vez menos compreensível em nossa sociedade, também no âmbito católico. E se não bastasse isso, há também os ataques da própria militância gay, porque os consideram uma espécie de traidores.

A terceira periferia são os infernos da homossexualidade. Onde o homossexual perde a dignidade de pessoa humana. São os websites de contatos, uma espécie de escape onde exibir pedaços do próprio corpo para encontrar quem te compre ainda que seja barato. Não se trata sempre de dinheiro, mas do preço da própria dignidade. São as ruas onde de noite se buscam encontros com outros homens que possam preencher os próprios vazios. São os locais gay, como as discotecas ou também esses novos bordéis que se escondem como círculos culturais, onde se pratica todo tipo de depravação. São as manifestações em que se pede dignidade pela própria condição, e em contrapartida se lhe perde.

Você nos pede para ir às periferias e que o façamos juntos. Eu ainda sou muito frágil, mas lhe peço que reze para que possa ter força. Quero estar junto a quem está sozinho, para lhe dizer que não perca a esperança em Deus, e creia que é precioso aos seus olhos.

A mudança começa por mim e por ti, dizia Madre Teresa. Papa Francisco, tenho esta imagem sua descendo também a essas periferias tão incômodas da existência. Agradeço pela delicadeza com que sempre enfrentou a questão. Você nunca levantou o dedo para dividir a humanidade segundo seus instintos sexuais. Você sabe que o ser humano é algo muito mais complexo e rico.

Reze por mim e por todos aqueles que talvez lendo esta carta decidam cruzar o umbral dessas periferias para levar a Boa Nova de Jesus.

Eu rezarei por ti, como filho.

Um abraço.

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