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Como é difícil ser hoje uma pessoa de fé

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Jeffrey Bruno

Juan Ávila Estrada - publicado em 24/11/20

Queremos um Deus que ajeite tudo, que nos dê tudo; mas que não peça nada, deixando-nos regular a nós mesmos

Não é fácil ser uma pessoa de fé. A própria experiência nos demonstra. O contato com os outros e ser protagonistas de um momento histórico como o que vivemos hoje torna isso visível. O secularismo e o relativismo, duas forças que movem o pensamento da humanidade, têm arrastado o mundo, de maneira sedutora, para o que chamamos de modernidade.

Não é que seja má a modernidade, é que simplesmente ainda não compreendemos que os povos que esquecem as suas raízes e história não são capazes de sobreviver quando o referente religioso, e no caso concreto nosso, de fé, cede lugar a uma interpretação do mundo e da ética isolada do sentido de transcendência e espiritual que cada ser humano leva em seu interior. É que não se pode ser moderno com sacrifício do fundamental, do estruturalmente inamovível e eterno.

Hoje é moderno contemporizar com o mundo, relativizar tudo, abandonar Deus para não ter que prestar contas a ninguém, nem sequer a nossa própria consciência, e deixar que a sociedade, por meio de consensos, determine quando uma conduta é apropriada ou não.

Deixar tudo à interpretação das culturas atuais é o que tem levado à queda grandes sociedades que em outros tempos foram baluartes intelectuais e morais. É mais fácil a hipocrisia religiosa: rezar por obrigação, invocar um Deus em quem supostamente cremos para que venha apagar os incêndios que provocamos, pedir-lhe que conserte o que destruímos. Queremos um Deus que ajeite tudo, que nos dê tudo mas que não peça nada, deixando-nos regular a nós mesmos, que não questione ou pergunte nada. Temos forjado uma ideia de Deus diferente da apresentada por Jesus: um Deus que deixe o mundo ser mundo, que seja alheio a nossas condutas, que não dê uma interpretação moral a nossas ações, e que, caso intervenha, que seja para limpar as nossas sujeiras.

Coragem

Por isso não é moderno, mas obscurantista e medieval, defender a vida em todas as suas manifestações: a embrionária, a anciã e todas as que o mundo considera inúteis. Ninguém quer parecer extraterrestre, antiquado, moralista, obcecado, em um mundo que nos arrasta, onde o bem e o mal dependem da cultura, onde cada um constrói a sua própria moral dependendo dos seus interesses.

Não é fácil ser um homem de fé. Para sê-lo, é preciso correr o risco de se chocar contra tudo que nos cerca, começar a ser coerentes com o que professamos e viver segundo o estilo ensinado por Jesus. Para ser de fé é necessário não só crer em um Senhor, mas crer no Senhor, e isso em ocasiões em que nos perguntamos se os ensinamentos de Cristo não estão circunscritos em um marco histórico e cultural diferente do nosso.

Não é fácil ser uma pessoa de fé, mas é necessário. A fé foi feita para gente com coragem, que leva a vida a sério e não se contenta em nascer, crescer, reproduzir-se e morrer. Gente que sente que a sua vida está dada para algo maior e que portanto busca um novo estilo, uma nova maneira de interpretar a existência, levando em conta os ensinamentos do Evangelho. Onde muitos veem inutilidade, nós vemos oportunidade; onde vivem de costas para Deus, nós vivemos face a face. Nossas decisões estão ancoradas Nele. Ali onde se relativiza, nós decidimos por convicção. Um cristão é uma pessoa que tenta olhar as coisas do modo como Deus as vê. Hoje é até fácil ser uma pessoa com certa religiosidade, mas não muito fácil ser alguém de verdadeira fé.




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