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Desmentindo equívocos históricos: Lutero, Sagrada Escritura e Igreja

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Jaime Septién - El Observador - publicado em 05/09/13

O erro do protestantismo é pensar que a Igreja se acha dona, e não servidora da Palavra de Deus, explica Dom De Gasperín nesta entrevista

O hoje bispo emérito de Querétaro (México), Dom Mario De Gasperín, viveu o Concílio Vaticano II como sacerdote recém-ordenado e como estudante de Bíblia na Universidade Gregoriana de Roma. Ao longo da sua vida sacerdotal e episcopal, foi um constante incentivador do estudo da Palavra de Deus, e uma das mentes mais brilhantes da Conferência Episcopal Mexicana.

Nos últimos anos, ele vem escrevendo uma série de mais de 30 reflexões sobre o Concílio Vaticano II e o Ano da Fé no El Observador, recordando aquele encontro da Igreja com a mudança de época, e sobre o Ano da Fé lançado por Bento XVI para recolher os frutos do Concílio – sendo um deles precisamente o encontro com as confissões protestantes.

Qual foi a reflexão do Concílio sobre a reforma protestante?

Entre as tarefas do Concílio Vaticano II, estava o diálogo com os irmãos protestantes, como parte integrante do movimento ecumênico. Lutero tinha tentado reformar a Igreja da sua época. Segundo ele, a Igreja se colocou atrás de três muralhas: a supremacia do poder eclesiástico sobre o secular; a superioridade do concílio sobre os fiéis; e a interpretação da Bíblia submetida à Igreja.

Nestes três campos, a Igreja hierárquica tinha a faca e o queijo na mão e ninguém podia alçar a voz, muito menos para reformá-la. Esta "tripla muralha" era a que ele pretendia derrubar; dedicou sua vida a isso e não poupou esforços nem meios para consegui-lo, recorrendo inclusive ao poder secular.

No centro de tudo está a interpretação da Bíblia, não é?

Daqui surge a acusação protestante à Igreja Católica, de querer submeter a Bíblia ao seu domínio e à sua vontade. Com isso, ela se declara – diziam os reformadores – superior à Sagrada Escritura e dona da Palavra de Deus, o que é inaceitável.

Lutero pretendia libertar a Bíblia desta escravidão. Por isso, propôs e declarou, como princípio interpretativo da Bíblia, o livre exame, ou seja, a interpretação individual da Escritura. Cada um deve lê-la e interpretá-la segundo a inspiração do Espírito Santo. O cristão deve se guiar somente pela Bíblia. A expressão latina sola Scriptura significa que "a Sagrada Escritura se interpreta por si mesma" e não está submetida ao magistério da Igreja.

Isso, evidentemente, não era o sentido da Igreja…

A Sagrada Escritura é o livro da Igreja e para a Igreja; portanto, deve ser lida em sintonia com a Igreja, sob a guia dos seus pastores. A estes, diz São Paulo, Deus confiou a tarefa de "conservar o depósito da fé" e transmiti-lo íntegro às novas gerações.

Dessa maneira, o magistério da Igreja não se proclama superior ou manipulador da Palavra de Deus, e sim seu servidor.

Então, a ideia do Concílio era colocar as coisas em ordem: primeiro a Palavra, depois o magistério?

O magistério eclesiástico serve a Palavra de Deus, interpretando-a de acordo com a tradição eclesial, recebida dos apóstolos e do próprio Jesus Cristo. É dessa forma, diz o Concílio, que o povo cristão inteiro, unido aos seus pastores, persevera sempre na doutrina apostólica, na união, na Eucaristia e na oração, como fazia a primeira comunidade cristã. É um serviço à unidade e à verdade, e evita o individualismo e a fragmentação.

Qual é a missão da Igreja, neste sentido?

A primeira atitude da Igreja, especialmente dos pastores, é a de escutar com atenção e respeito a santa Palavra de Deus.

E obedecê-la…

Com esta atitude humilde, o Concílio começa a falar sobre a Revelação Divina. Diz que o Concílio escuta com devoção a Palavra de Deus e a proclama com valentia, obedecendo as palavras de João: o que vimos e ouvimos, nós lhes anunciamos, para que também vocês vivam nesta nossa união com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo.

Dá a impressão de um Concílio que, mais que escutar a si mesmo, esteve atento ao que Deus lhe dizia…

A primeira coisa que o Concílio faz é escutar a Palavra de Deus. E o faz com devoção e obediência. Não tem medo de proclamar esta Palavra ao mundo inteiro, para que, quem a escutar e acreditar, tenha a vida eterna.

Lutero se equivocou?

A Igreja não é dona, mas fiel servidora da Palavra de Deus.

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