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Intervenção militar na Síria: caminho rumo ao suicídio do Ocidente

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Tony Assaf - publicado em 05/09/13

Uma intervenção militar não só levaria a um conflito de consequências incalculáveis, mas assinaria a sentença de morte dos cristãos no Oriente Médio

Entre as muitas perplexidades ligadas ao destino da Síria, emergem algumas certezas: as potências ocidentais são diretamente responsáveis pela difusão do fundamentalismo islâmico e pela violência em todo o mundo árabe, e uma eventual intervenção militar não só levaria toda a região a um conflito de consequências incalculáveis, mas assinaria a sentença de morte dos cristãos no Oriente Médio.

Quem está convencido disso é o Pe. Boghos Levon Zekiyan, quem não poupa críticas ao ler sobre os recentes acontecimentos na Síria, que fazem pensar em um novo Iraque. Sacerdote de rito armênio, além de professor de "Língua e literatura armênias" na Università Ca’Foscari de Veneza, e de "Instituições eclesiásticas armênias" no Pontificio Istituto Orientale de Roma, nesta entrevista à Aleteia, ele coloca na balança todas as responsabilidades dos países ocidentais.

No território sírio, os massacres parecem não ter fim. As crônicas nos falam diariamente de horrores inimagináveis contra a população: decapitações, sequestros, homicídios massivos, estupros. Nem sequer as crianças estão a salvo. Frente a esta violência, que rumo a Síria vai tomar?

Tenho certeza de que o conflito na Síria e em todo o mundo árabe foi incentivado por potências estrangeiras, pelo imperialismo ocidental que, após a queda a União Soviética, parece ter se tornado insaciável e, por isso, feroz e violento.

Mais ainda: é portador de uma hipocrisia que raramente teve precedentes na história. Hipocrisia: onde estava o Ocidente durante o genocídio na Ruanda? Onde estava e está frente ao extermínio dos cristãos em Darfur? Onde estava durante o uso de gases contra os curdos, quando Saddam era seu aliado? É uma ladainha que não acaba nunca!

Quanto ao rumo que a Síria vai tomar, é difícil dizer, e isso é muito triste. Mas o rumo do Ocidente, se continuar com este capitalismo impiedoso, com esta hipocrisia selvagem, com esta miopia política que criou os talibãs – como todos sabem – e que apoia o fundamentalismo islâmico mais fanático em todos os lugares, talvez seja mais fácil de prever: o suicídio!

O que pode acontecer, se houver uma intervenção militar?

Eu preferiria nem pensar nisso. Como já disseram outros mais especialistas que eu: a catástrofe! De qualquer maneira, seria o penúltimo passo rumo à morte dos cristãos no Oriente Médio. Este é um processo sem fim e em cujo desenvolvimento histórico, infelizmente, as potências ocidentais quase sempre tiveram um infeliz e triste papel!

Todos os líderes religiosos lançaram apelos contra uma intervenção militar externa. Mas o que se pode fazer concretamente para acabar como conflito sírio?

Espero que o Santo Padre lance um forte apelo, como João XXIII fez na véspera da guerra, depois dissuadida, de Cuba. Naquele então, Khrushchov e Kennedy escutaram o Papa. Esperemos que os que hoje governam o mundo não estejam surdos.

Que mensagem o senhor daria ao Ocidente, para que entenda a situação dos cristãos no Oriente Médio e saiba agir adequadamente?

Não acho que ele não entenda, ainda que seja muito obtuso. O Ocidente não quer compreender, pois está cego pelo seu capitalismo desenfreado e sua ambição ilimitada de poder.

Mas também há ignorância. Quem acha que a democracia pode se instaurar com as armas não entendeu nada sobre democracia (pensemos no Iraque, Afeganistão, Tunísia, Egito). Mais ainda: aposto que estes senhores nunca leram o famoso discurso de Péricles, que continua sendo a carta magna da democracia.

Existe uma incapacidade de distinguir as coisas, mas também falta de vontade. É verdade que a Síria não era um país democrático quando à liberdade de expressão política; mas era um dos países mais democráticos do mundo no que diz respeito à democracia comunitária, que praticamente não existe no Ocidente, pois não há comunidades étnicas e confessionais reconhecidas além das grandes religiões e uma ou outra confissão esporádica, e as minorias territoriais, como o Tirol do Sul.

O monopólio etnocultural do Ocidente e do seu sistema político, que invadiu o mundo, é também uma forma de ditadura que o Ocidente, com sua prepotência político-ideológica, se nega inclusive a discutir.

Que interesses econômicos, políticos e sociais poderiam estar por trás de uma intervenção militar ocidental?

Antes de tudo, acho, o interesse da indústria bélica, que torna o milionário bilionário. Este é o leitmotiv sociopolítico do Ocidente hoje; e, em grande parte, ele já conseguiu tornar os ricos mais ricos, e os mais ricos, riquíssimos.

Grande, chapeau! Assim, o Iraque, ainda que tenha sido um autêntico fracasso político, foi um sucesso enorme para os grandes produtores de armas; e, visto assim, todas as guerras dos últimos 23 anos foram um êxito.

Que Deus nos salve do pior!

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