Quem tem fé sabe que não existe destino, acaso cego ou fatalidade, mas Providência divina, cuidado de Deus que tudo criou e que tudo providencia para o nosso bem
Às vezes parece que Deus se torna mudo diante do nosso sofrimento; mas não é assim.
Alguém já disse que “Deus não fala, mas que tudo fala de Deus”. Isto é, Deus fala pela Revelação e pela vida, mas esta linguagem tem de ser decifrada. Seus silêncios parentes são sábios e nos obrigam a exercitar o ouvido da alma, e criar novas antenas e ouvidos interiores, para ouvir a sua voz.
Só podemos ouvir a voz de Deus se caminharmos na fé, sem desanimar, fazendo a Sua vontade diariamente e com fidelidade. “O justo vive da fé”, diz São Paulo (Rm 1, 17); “Quem perseverar até o fim, será salvo”, acrescenta o Senhor (Mt 10, 22).
Deus não é indiferente diante dos acontecimentos deste mundo. Até o salmista tem a tentação de agir como os maus… mas depois entende a sua triste sorte:
“Por pouco meus pés tropeçavam; um nada, e meus passos deslizavam. Porque invejei os arrogantes, vendo a prosperidade dos ímpios. Para eles não existem tormentos, sua aparência é sadia e robusta; a fadiga dos mortais não os atinge, não são molestados como os outros…Refleti para compreender, e que fadiga era esta aos meus olhos! Até que entrei nos santuários divinos: entendi o destino deles! De fato, tu os pões em ladeiras, tu os fazes cair em ruínas. Ei-los num instante reduzidos ao terror, deixam de existir, perecem por causa do pavor!… Sim, os que se afastam de Ti se perdem… Quanto a mim, estar junto de Deus é o meu bem!”. (Sl 72, 2-5. 16-19.27s)
A Bíblia nos mostra que é exatamente nos momentos de maior luta, conflito, desespero e perplexidade que Deus prepara as suas ações mais belas.
A Páscoa cristã e a glória da Ressurreição de Jesus foram precedidas da cruel e dolorosa Paixão do Senhor, que deixou os Apóstolos atônitos e perdidos. Mas, na manhã do domingo, ficava claro que o “fracasso” do Mestre se transformara em inacreditável vitória sobre a morte.
Então, tudo se fez novo… Ele ressuscitou como o Kyrios, o Senhor da vida e da morte; a vida venceu a morte, as trevas foram dissipadas pela luz.
Deus já tinha prefigurado isto na história de Israel; quando da primeira Páscoa dos israelitas: estes se viram presos entre o Mar Vermelho e o exército do Faraó que os perseguia; não viam solução e muitos lamentaram e se desesperaram; mas Deus interveio de modo espetacular:
“O Senhor disse a Moisés: Por que clamas por mim? Dize aos filhos de Israel que marchem. E tu levanta a tua vara, estende a mão sobre o mar e divide-o para que os filhos de Israel caminhem em seco pelo meio do mar”. (Ex 14,9-16)
E o povo de Deus atravessou o mar a pé enxuto, enquanto os inimigos se afogaram. São os “paradoxos” da Providência Divina.
É no silêncio de Deus que o cristão aprende a crescer na fé e na confiança no Senhor. Não sejamos crianças na fé.
É preciso, então, não se deixar afundar na hora da tormenta, mas esperar com fé na Providência divina que não falha. No meio do fogo das tribulações, é preciso continuar a caminhar, ainda que gemendo e chorando, “como se visse o Invisível” (Hb 11, 27).
Este “avançar na fé” pode ser comparado a um complicado jogo de “quebra-cabeça”; no seu início não temos a menor ideia do quadro a compor, parece que o quebra-cabeça não tem solução, a charada é desafiadora, mas, devagar, com paciência, vamos juntando as peças…começa a surgir alguma coisa. Ao se combinar as peças começa a aparecer o quadro, e então, vai ficando cada vez mais fácil, até o fim.
O plano de Deus para nós é assim; os fatos da vida, isolados, parecem não ter sentido, como as peças misturadas do quebra-cabeça, mas, quando os vamos juntando na fé e analisando-os na esperança, vemos a sua mensagem. Às vezes é preciso olhar peça por peça, sem saber qual é a próxima que virá. Mas é preciso ir em frente, caminhar com perseverança.