Muitos idosos conseguem viver belos dias com alegria e com prestações de serviço. Não vivem choramingando, nem percorrendo todos os dias os corredores dos centros comerciais
Viver é uma graça. Acordar, levantar, abrir as janelas, esticar os braços, começar a jornada com garra e entusiasmo, lançar um olhar na direção do Senhor. Cada um de nós é convidado a sorver com avidez os goles da vida. E, ao longo do tempo que vai se passando, percorremos diferentes estações. Penso aqui nesse tempo em que as pessoas chegam à velhice de seus dias, chegam à estação do inverno… da vida. Há os que atingem o centenário e vão para além. Manoel de Oliveira, renomado diretor de cinema com mais de cem anos, ainda dirige filmes. Na medida em que vão envelhecendo, as pessoas cuidam de organizar bem a vida para não desperdiçar esses anos que ainda lhes são concedidos. Recusam-se a viver ao deus-dará, ao sabor e capricho das circunstâncias da vida ou numa mortal e tediosa ociosidade.
Aquele homem de setenta e tantos anos gosta de ler. Tem boas vistas. Arrumou em sua casa um canto muito agradável: computador, mesa grande, estante com livros, luminária clara, cadernos e folhas com anotações. Lê, marca o que lhe interessa. Gosta de encontrar-se com dois ou três amigos para uma conversa, uma troca de ideias, para tomarem juntos um copo de vinho chileno ou argentino, bebendo sempre com moderação.
Aquela mulher idosa, muito simples, muito despojada, agora aposentada continua exercendo sua profissão de cozinheira. Tendo deixado a cantina da escola do bairro, em casa, faz empadas e brevidades para os botequins que ficam no começo do morro onde mora. Todos os dias vai tomar um café com Dona Zulmira, senhora cega que mora perto dela. Aproveita a ocasião para limpar a casa da amiga, ver se lhe falta alguma coisa. Desta forma, organiza sua vida. Preenche o tempo livre de que dispõe com gestos de carinho.
Aquele homem, também bastante idoso, vive com a mulher. Gosta de seu quintal e de seu jardim. Conversa com roseiras, margaridas, goiabeiras e ameixeiras. Vive remexendo a terra. Afofa a terra dos potes de plantas para serem colocados nas jardineiras da varanda. Seu quintal é muito bem cuidado e o pequeno jardim em frente à casa um verdadeiro primor. Esse homem tem um semblante aberto, bonito, corado pelo sol, bafejado pelo ar puro que respira. Assim ele vive e vive bem no tempo em que a vida nos diz que vamos envelhecendo…
Aquele casal bem idoso todos os dias participa da missa. Depois da missa, ela se ocupa das coisas da casa. Ele, de seu lado, faz as vezes de atendente num consultório médico, na paróquia, onde pessoas são atendidas gratuitamente. Esse homem se sente útil e as pessoas estimam sua presença e sua fidelidade.
Muitos idosos conseguem viver belos dias com alegria e com prestações de serviço. Não vivem choramingando, nem percorrendo todos os dias os corredores dos centros comerciais, nem jogando dadinho ou cartas na praça do bairro. Quando a gente envelhece não se pode viver ao deus-dará.
(Publicado em Franciscanos)