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Lições das perdas

The Church has been in a minority position before – pt

© Virginia CASTRO / CIRIC

Dom Anuar Battisti - CNBB - publicado em 02/10/13

"Perdas e frustrações, vitórias e fracassos, podem ser sempre um enriquecimento, depende de como você os vive. Pai, obrigado por tudo"

“Às vezes aquilo que é mandado para te destruir serve para te fortalecer”. Nestes dias em que vivi a perda do meu pai Aniceto Battisti, que morreu esta semana aos 92 anos, percebi que o perdemos quase sem se dar conta que estávamos perdendo.

Consciente da idade e a situação tranquila que o pai vivia, sem grandes complicações físicas, a minha esperança era que ele não nos deixaria sem completar mais um aniversário que estávamos preparando.

A dor é sempre a primeira visitante a chegar e demora muito para sair desta casinha chamada coração. Nestes momentos difíceis, porém carregados de fé, amigos me escreveram: “O tempo passa e deixa marcas sem que possamos vê-lo ou senti-lo. Faz parte das nossas vidas sem ocupar espaço, e deixa um grande vazio quando leva alguém consigo. O tempo é sobretudo generoso, pois um dia leva também a nossa dor”. Claro que sim, porque toda a dor, todo sofrimento, a própria morte, já foi vencida por um único Homem no lenho da cruz.

Aprendi que toda perda é dolorosa, mas nos ensina a viver sem esperar nada, a não ser a graça de saber perder. Confiar e acreditar a cada momento que tudo passa, só o amor permanece é um caminho de aprendizagem que dura a vida toda. Aceitar o amor doído em cada perda, não deixa de ser uma ginástica permanente diante do mistério da vida. Nestes dias de vazio e saudades um bispo me disse: “Sei, por experiência, que não importa a idade que ele tinha nem a que temos em situações assim: é sempre um acontecimento doloroso – melhor, doído, que toca lá no fundo do coração. Parece que rompe-se um elo com todo um passado, a tal ponto que a gente passa a entender o que é realmente ser órfão”.

Sei que ninguém vive para perder, e ninguém é educado para viver as perdas e frustrações, principalmente diante da vida e da morte. Mas o que dizer diante da mentalidade de que o que vale é competir, é ser sempre o primeiro e aquele que leva vantagem em tudo? Como viver as vitórias e os fracassos mantendo a coragem e o entusiasmo de quem sabe aonde chegar? O que mais se vê são pessoas vivendo um exagerado sentimento de desgosto e inconformismo, quando são expostos a resultados negativos.

Miguel de Cervantes dizia: “Quem perde seus bens perde muito; quem perde um amigo perde mais; mas quem perde a coragem perde tudo”. Por mais dura e penosa que sejam as perdas e podas, jamais perderei a coragem de lutar, mesmo sabendo que a vitória não dependerá só de mim mesmo e de minhas capacidades.

A vida é uma escola, onde os fatos são mestres que não usam técnicas e nem dinâmicas para ensinar, apenas abrem espaço para encontrar caminhos e fazer escolhas, carregadas de renúncias e realizações. Por isso que nem sempre estamos preparados para aprender e às vezes incapazes de ler os fatos com os olhos da fé.

A vida ensina que saber perder é um caminho a percorrer sempre, a fim de colher novas lições que jamais cairão no esquecimento. O sofrimento de quem perde não tem comparação com as alegrias e realizações em saber recomeçar sempre. Perdas e frustrações, vitórias e fracassos, podem ser sempre um enriquecimento, depende de como você os vive. Pai, obrigado por tudo.

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