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Excomunhão que resulta da prática do aborto

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Dom Aloísio Roque Oppermann - CNBB - publicado em 03/10/13

"Passado tanto tempo exponho as razões por que considerei a penalidade inadequada. Nunca vi um mandante desse péssimo procedimento ser punido"

Numa dessas visitas dos Bispos Brasileiros aos Dicastérios Romanos, (há mais de 20 anos), estávamos aproximadamente entre 35 sucessores dos Apóstolos, na Congregação para a Doutrina da Fé. Fomos recebidos como irmãos pelo então Cardeal Ratzinger e toda a sua equipe. Foram momentos preciosos, pois o Cardeal era conhecedor, não só da Doutrina Católica, mas também da Teologia Protestante e da Ortodoxa. Tive a presença de espírito de gravar aquele rico encontro. Esgotados todos os assuntos relacionados à pureza da fé em nossas Dioceses, o Cardeal Ratzinger, num gesto fraterno, perguntou se alguém teria mais algum assunto a comentar. Aberta essa possibilidade, abordei o difícil assunto da excomunhão que resulta da prática do aborto. Excomunhão é uma pena pesada, prevista no Direito Canônico, que priva o fiel do direito de participar da vida sacramental da Igreja. O Cardeal pediu que eu expusesse as razões das minhas dúvidas. Para surpresa minha, um colega, sempre muito amigo, se mostrou incomodado com a minha questão, e chegou a levantar a voz. Como se pode imaginar, criou-se um ambiente desagradável e impróprio para o diálogo (gesto inédito entre os Bispos). Após umas perfunctórias explicações, o tema foi desconversado. Não me senti plenamente como Sucessor dos Apóstolos.

Passado tanto tempo exponho as razões por que considerei a penalidade inadequada. Nunca vi um mandante desse péssimo procedimento ser punido. Quem é punida com a excomunhão é a mãe do nascituro. Nenhum parente ou pessoa relacionada, que aconselhou a prática abortiva, que providenciou a execução, dos que pressionaram sem parar, é punido (embora a lei eclesiástica o preveja). Continuam comungando tranquilamente. De todos os envolvidos, quase sempre a mãe é a menos culpada. Ademais, essa excomunhão para a mãe não é educativa. Ela se sente estigmatizada e marcada. É um golpe fatal, sem remissão, no seu ego. Gostaria que se punisse o pecado, com mais misericórdia. Eis que, inesperadamente, o Papa Francisco retoma o assunto. Parece ter estado presente naquela reunião, e agora reabre o tema. Continua firme a convicção de que se trata de um pecado grave. Mas as Escrituras nos ensinam: “A sua misericórdia dura para sempre” ( 1 Cr 16, 34). Também para a pecadora arrependida.

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