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O papa Francisco vai reformar a Igreja?

Reforming Francis – pt

Marcin Mazur/Catholic NewsUK

Cardeal Odilo Scherer - Arquidiocese de São Paulo - publicado em 15/10/13

O conceito de reforma pode causar desconfiança e até resistência, quando não for bem entendido

Muito se tem falado e escrito sobre a reforma da Igreja promovida pelo papa Francisco. Fala-se até mesmo que ele estaria escrevendo uma “nova Constituição” da Igreja. Como entender a reforma da Igreja promovida pelo Papa?

Reforma e renovação fazem parte da dinâmica da vida da Igreja. Embora dotada de uma missão sobrenatural e de dons divinos, ela é uma realidade humana e, como todas as organizações humanas, também ela precisa renovar-se para acompanhar melhor as circunstâncias históricas e sociais em que está inserida.

A Igreja crê ser orientada, não apenas por projetos humanos, mas pelo Espírito de Deus, que “renova a face da terra” e também da Igreja. Nesse sentido, o Concílio Vaticano II já afirmava, há 50 anos, que ela é uma realidade “semper reformanda”: precisa reformar-se constantemente. Esta renovação, porém, precisa ser entendida como tensão a uma fidelidade constante e sempre maior à própria razão de ser e de existir. Ela se reforma para ser mais ela mesma (cf. Unitatis redintegratio, 6).

O conceito de reforma pode causar desconfiança e até resistência, quando não for bem entendido. Há o temor de que a busca de reforma signifique trama contra o passado ou até mesmo infidelidade ou traição a ele. Pode haver também a identificação pura e simples de reforma com movimentos de ruptura com a Igreja; nesse sentido, lembra-se logo da Reforma protestante, de Lutero e Calvino, no século XVI. De qual reforma está se tratando nas atuais circunstâncias da vida da Igreja?

Ao longo da história da Igreja, muitas foram as reformas na Igreja; e, quando elas foram levadas a sério, a Igreja saiu rejuvenescida e revitalizada. Grandes momentos de renovação foram, por exemplo, a reforma gregoriana, promovida por Gregório VII, no século 11, a reforma tridentina, após o Concílio de Trento, no século XVI, e a reforma desencadeada pelo Concílio Vaticano II.

É justamente ao espírito desse Concílio que o papa Francisco está se refazendo, no seu intuito de renovação da Igreja. Ele tem sinalizado que Vaticano II mostra o rumo que deve ser seguido pela Igreja, como já haviam feito seus predecessores. Meio século após a celebração do Concílio, ainda há muito que se fazer para colocar em prática as grandes intuições e propostas daquela assembléia, de importância extraordinária para a vida e a missão da Igreja.

O papa Francisco está, evidentemente, promovendo uma reforma na Cúria Romana. Trata-se do organismo de assessoria do Papa e de colaboração com ele no exercício de sua própria missão diante de toda a Igreja Católica. Nesse sentido, não deveria haver motivo de susto ou estranheza; a Cúria precisa ser adequada de tempos em tempos, para continuar a prestar bem o seu serviço ao Papa e à Igreja. Porém, a “Constituição”, que está sendo reformada, não é a da Igreja, mas apenas da Cúria Romana, com o conjunto das normas que a regem. O Papa não vai mudar os Dez Mandamentos, nem reescrever o Evangelho.

No entanto, mudar a Cúria Romana, por quanto necessário, ainda não significa necessariamente reformar Igreja. Isso requer bem mais do que adequar algum organismo ou estrutura de serviço. Aqui é preciso retomar a compreensão da própria Igreja, que é a comunidade de todos aqueles que tomam parte nela, em todo o mundo. Ainda em sua recente visita em Assisi, no dia 4 de outubro, o Papa destacava que a Igreja não é formada apenas por bispos, padres e freiras, mas por todos os batizados.

Justamente nessa ocasião, na terra de São Francisco, o Francisco de Roma apontava para uma das questões centrais para a reforma da Igreja: a fidelidade a Jesus Cristo, ao seu Evangelho e à missão recebida dele. Para tanto, ela precisa estar sempre atenta para não perder a sua própria identidade e a sua inequívoca referência a Jesus Cristo crucificado e ressuscitado. Logo no dia seguinte à sua eleição, ele dizia aos cardeais, com os quais celebrou a Missa na Capela Sistina: se a Igreja perdesse essa referência a Jesus Cristo, ela se tornaria uma ONG piedosa e já não seria mais a Igreja de Jesus Cristo…

A Igreja precisa de uma reforma interior, nas convicções e posturas; isso identifica-se com o conceito teológico de conversão. Se a Igreja precisa mudar constantemente, para ser mais igual a si mesma, ela também precisa de constante conversão, para ser fiel a si mesma. Na Conferência de Aparecida, aberta em 2007 por Bento XVI, já se apontava para a necessidade da conversão pastoral e missionária.

O papa Francisco tem falado com insistência dessa “reforma” interior, ao dirigir-se aos diversos setores da vida da Igreja. Exortou os jovens, reunidos em Copacabana, a manterem firme a esperança, a serem fiéis a Jesus Cristo e a não terem medo de ir contra a corrente; em Assisi, há poucos dias, falando da vida humilde e simples de São Francisco, alertou para o “mundanismo” e as vaidades, que podem tomar conta da vida dos cristãos, também dos eclesiásticos…

Da mesma forma, ele indica com insistência aos gestores de organizações administrativas da Igreja o caminho da retidão, da honestidade e da justiça no cuidado dos bens necessários à realização da missão da Igreja. Aos que desempenham cargos de responsabilidade, lembra que a autoridade deve ser exercida como um serviço ao próximo. E recorda a todos o valor profundo de cada pessoa e o respeito por toda vida humana, ainda mais, quando exposta a fragilidades e riscos.

Chamando a Igreja à vida coerente com o exemplo e os ensinamentos de Jesus Cristo, ele aponta para as reformas mais lentas e difíceis; e essas não são feitas por decreto, nem dependem apenas do papa Francisco…

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