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Católicos com alma de pastor ou funcionários da Igreja?

Appunti per nuovi evangelizzatori – pt

© JMJ Rio 2013

Aleteia Vaticano - publicado em 21/10/13

Para colocar o "vinho novo em odres novos", como pede Jesus, é preciso renunciar aos odres velhos – e esta é a parte mais difícil da missão

Não há dúvida de que o mais difícil na Igreja não é tanto aceitar que vivemos uma época nova, na qual devemos assimilar o slogan do Evangelho: "Para vinho novo, odres novos" (Mt 9, 17). É lógico que o vinho novo deve ser colocado em odres novos, mas o que realmente custa é renunciar aos odres velhos.

Muitas vezes, tenho a impressão de que há coisas que são feitas por inércia na Igreja, ou seja, porque é preciso fazê-las, porque sempre foram feitas assim e continuarão sendo feitas da mesma forma. Não estou avaliando se são bem feitas ou não; simplesmente me pergunto se os que as fazem agem como funcionários ou como autênticos líderes, com coração de pastor.

Falar de funcionários não tem nenhuma conotação pejorativa para mim, já que conheço muitos funcionários públicos que são bons trabalhadores e responsáveis em suas tarefas. Mas a Igreja de Jesus Cristo não é uma administração religiosa nem uma instituição distribuidora de artigos religiosos, na qual deveríamos encontrar funcionários religiosos.

Penso que hoje há ausência ou insuficiência de uma autêntica liderança na Igreja; onde não há líderes, as pessoas fazem o que lhes parece melhor, como vemos no livro dos Juízes. Como as instituições são constituídas por indivíduos, precisamos desenvolver a liderança cristã para que a Igreja realize sua missão com um coração de pastor, não de funcionário.

A Igreja, novo Povo de Deus, é o Corpo de Cristo que tem a tarefa de continuar a obra salvífica que lhe foi confiada. Não podemos permitir que as estruturas afoguem o espírito missionário na Igreja; por isso, é preciso viver com liberdade para dar fruto.

Muitas vezes observamos que a nossa organização já não responde às exigências do mundo atual, ao qual temos de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo; parecemos mais uma grande instituição com uma multidão de funcionários religiosos do que uma autêntica comunidade que caminha com agilidade e vive sua razão de ser com o frescor e a simplicidade evangélica dos Atos dos Apóstolos.

Hoje, faz-se necessária uma grande capacidade de reação para despertar e fazer algo que nos permita ir mudando as coisas, sem ressentimentos contra ninguém, sem rebeldias fora de lugar, sem fanatismos de nenhum tipo, mas sim buscando ver as coisas de outro ponto de vista, começando a entrever outra maneira de viver a fé, mais atual e mais conforme o Evangelho; com mais entusiasmo, radicalismo e autenticidade.

Tudo isso em plena ortodoxia e sempre partindo de uma espiritualidade de comunhão, que nos permita ir traçando um novo rosto da Igreja, capaz de revolucionar o mundo inteiro, como fizeram os primeiros discípulos (Atos 17, 6).

Unido a isso, já não podemos nos conformar com saber que temos o Espírito Santo; devemos nos encher dele para poder incendiar o mundo com o fogo do amor de Deus, segundo o desejo do próprio Senhor (Lc 12, 49). Esta é a garantia que tornará possível uma nova evangelização, já que não se trata de um conceito a ser discutido, mas de uma ação a ser realizada (evangeli-ação), porque é o amor de Cristo que nos urge (2 Cor 5, 14).

Tenho certeza de que a eleição do Papa Francisco é um sinal profético para a Igreja neste momento da história, em relação a um novo e permanente Pentecostes, que tornará possível uma nova evangelização, levada a cabo por novos evangelizadores, mensageiros entusiastas que vivem uma fé viva e que estão dispostos a anunciar e proclamar o nome daquele que traz salvação e vida verdadeira.

No entanto, não podemos pretender que o Papa e os bispos façam todo o trabalho, já que eles não têm a exclusividade da intuição nem do carisma; por isso, todos nós podemos e devemos fazer algo para ser uma Igreja mais evangelizada e mais evangelizadora, segundo o desejo do Papa Paulo VI na Evangelii Nuntiandi.

Devemos ir ao encontro, como colaboradores do Espírito Santo, dos constantes convites que o Papa Francisco está nos fazendo em relação a uma nova evangelização. Chegou a hora de fazer "barulho", ir para fora, às periferias, para levar o amor de Cristo ao mundo inteiro.

Temos necessidade de sentir o peso das almas, de maneira que nos tornemos a resposta e, assim, nosso peso se torne visão que nos motive e nos inspire a fazer diferença e ver a história mudar. Só assim vamos poder viver nossa fé cristã partindo do amor de Deus e da compaixão pelas almas, sem possibilidade alguma de ser funcionários, nunca mais.

"Não vos lembreis mais dos acontecimentos de outrora, não recordeis mais as coisas antigas, porque eis que vou fazer obra nova, a qual já surge: não a vedes? Vou abrir uma via pelo deserto, e fazer correr arroios pela estepe." (Is 43,18-19)

Por Onofre Sousa

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CatólicosIgrejaPapa Francisco
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