Aleteia logoAleteia logoAleteia
Terça-feira 19 Março |
Aleteia logo
Atualidade
separateurCreated with Sketch.

A origem cristã da festa de Halloween

Children in costumes trick or treating at woman’s house – pt

© Monkey Business Images/SHUTTERSTOCK

Jorge Luis Zarazúa - publicado em 31/10/13

Verdades e mentiras sobre a famosa festa norte-americana

"Conhecerão a verdade, e a verdade os fará livres" (Jo 8, 32). Anunciar o Evangelho envolve anunciar a Verdade que nos salva (Lumen gentium, 17), ou seja, anunciar nosso Senhor Jesus Cristo.

Por isso, no anúncio do Evangelho, um discípulo de Cristo não pode recorrer jamais à mentira, nem sequer às meias verdades. Eis aqui um critério de discernimento que precisamos levar sempre em consideração: o fim nunca justifica os meios. Quando fazemos isso, saímos do âmbito da evangelização e entramos no proselitismo.

Pois bem, acabamos caindo em mentiras e meias verdades frequentemente ao falar da festa de Halloween. Por outro lado, quando se fala de Halloween, também surgem preconceitos e inclusive expressões de xenofobia.

A origem do Halloween é cristã, com uma visão muito norte-americana. É verdade que os celtas da Irlanda e Bretanha celebravam um festival no dia 31 de outubro, assim como faziam quase todos os meses, no último dia de cada mês. No entanto, o Halloween cai no último dia de outubro porque é a véspera da festa católica de Todos os Santos.

Esta festa, em homenagem a todos os santos do céu, costumava ser celebrada no dia 13 de maio, mas o Papa Gregório III, no ano 741, transferiu-a para 1º de novembro, dia em que se dedicou a Capela de Todos os Santos em São Pedro (Roma). No século seguinte, o Papa Gregório IV quis que a festa de Todos os Santos fosse celebrada em todo o mundo cristão, chegando, assim, à Irlanda.

Na noite anterior à festa de Todos os Santos, celebrava-se uma vigília chamada, em inglês, "All Hallow's Eve" ou "Halloween". Nessa época, o Halloween não tinha um significado especial nem para os cristãos, nem para os desaparecidos pagãos celtas.

Em 998, Santo Odilon, abade do poderoso mosteiro de Cluny, no sul da França, agregou uma celebração no dia 2 de novembro. Era um dia de oração pelas almas dos fiéis defuntos. Esta festividade, chamada então de "Todas as Almas", espalhou-se da França ao resto do mundo.

Assim, a Igreja tinha festividades para as almas do céu e para as almas do purgatório. Mas, e quanto aos que estão no inferno? Ao que parece, os aldeões católicos irlandeses se preocuparam  pelas desafortunadas almas do inferno. Deixá-las de lado poderia fazer com que elas talvez lhes causassem problemas.

Então, tornou-se costume bater em panelas, para avisar os condenados que eles não tinham sido esquecidos. Assim, pelo menos na Irlanda, todos os mortos foram recordados, ainda que os clérigos não gostassem tanto do Halloween e nunca tenham instituído no calendário eclesial um dia de "Todos os Condenados".

Mas esta ainda não é a nossa atual comemoração de Halloween. Nossas tradições para esta festividade se centram em usar fantasias rebuscadas – o que não tem nada a ver com o estilo irlandês. Este costume nasceu na França, durante os séculos XIV e XV. O final da Idade Média sofreu frequentes ataques da peste negra, chamada de "morte negra" e, com ela, perdeu a metade da sua população. Não é de se estranhar que os católicos tivessem mais interesse na outra vida.

Havia mais Missas no dia de Todas as Almas e houve representações artísticas para recordar a todos sua mortalidade. Tais representações eram conhecidas como "danças da morte" e eram comumente pintadas nas paredes dos cemitérios; mostravam o diabo conduzindo muitas pessoas: papas, reis, damas, cavalheiros, monges, camponeses, leprosos etc., ao seu túmulo. Às vezes, esta dança era apresentada no próprio dia de Todas as Almas, como um quadro vivo com pessoas vestidas com trajes segundo os diversos estados de vida.

Mas os franceses se fantasiavam no dia de Todas as Almas, não no Halloween; e os irlandeses, que tinham o Halloween, não se fantasiavam. O como as duas comemorações se misturaram talvez se deva ao que ocorreu nas colônias britânicas da América do Norte durante o século XVIII, quando os irlandeses e os franceses começaram a se casar entre eles. O enfoque irlandês no inferno conferiu às festas mascaradas francesas um tom mais macabro.

Porém, como toda criança sabe, fantasiar-se não é o mais importante, e sim obter a maior quantidade possível de doces. Mas então de onde vem a frase "Trick or treat?" ("Doce ou travessura?"). "Trick or treat" talvez seja a adição mais particular e americana ao Halloween, e é uma contribuição inadvertida dos católicos ingleses.

Durante o período penal de 1500 a 1700, na Inglaterra, os católicos não tinham direitos legais. Não podiam ocupar cargos públicos e estavam sujeitos a multas, prisão e pesados impostos. Celebrar uma Missa era uma ofensa capital e centenas de padres foram martirizados.

Ocasionalmente, os católicos ingleses resistiam, às vezes de maneira insensata. Um dos atos mais imprudentes de resistência foi um complô para fazer o rei protestante James I e seu parlamento explodirem, usando pólvora. Supunha-se que isso geraria uma insurgência católica contra os opressores. O mal concebido complô da pólvora foi sufocado em 5 de novembro de 1605, quando o homem que guardava a pólvora, um descuidado convertido chamado Guy Fawkes, foi capturado e preso. Ele foi enforcado e o complô se dissolveu.

O dia 5 de novembro, comemoração de Guy Fawkes, tornou-se uma grande celebração na Inglaterra, e continua sendo. Durante os períodos penais, bandos de foliões usavam máscaras e visitavam católicos locais no meio da noite, pedindo cerveja e bolos para a sua comemoração: "trick or treat"!

O Dia de Guy Fawkes chegou às colônias americanas com os primeiros colonizadores ingleses. Mas, na época da Revolução norte-americana, o velho rei James e Guy Fawkes já tinham sido esquecidos. No entanto, o "trick or treat" era divertido demais para ser deixado de lado. Então, eventualmente esse dia foi transferido para 31 de outubro, o dia franco-irlandês das máscaras. E, na América, o "trick or treat" não se limitava aos católicos.

A mistura de diversas tradições imigrantes que conhecemos como Halloween já tinha se tornado uma tradição nos Estados Unidos no início do século XIX. Até hoje, é praticamente desconhecida na Europa, inclusive nos países em que se originaram alguns dos seus costumes.

Mas o que tudo isso tem a ver com bruxas? Bem, esta foi uma das últimas adições. A indústria dos cartões de felicitação as incluiu no final do século XIX. Se Halloween já tinha almas, por que não incluir as bruxas também nos cartões? Tais cartões não fizeram sucesso (ainda que tenha havido um ressurgimento recente de popularidade), mas as bruxas permaneceram.

Igualmente, no século XIX, folcloristas mal informados acrescentaram o "Jack da Lanterna" (a abóbora iluminada). Achavam que o Halloween era de origem pagã e druida. As lâmpadas feitas com rabanetes (não abóboras) tinham sido parte dos antigos festejos celtas das colheitas, então foram transladadas à comemoração americana do Halloween.

Da próxima vez que alguém disser que o Halloween é um truque cruel para atrair seus filhos para a adoração satânica, sugiro que você lhe conte a verdadeira origem do "All Hallow's Eve" e o convide a descobrir seu verdadeiro significado cristão, junto com as duas grandes e mais importantes festas católicas que vêm depois dele.

Fonte: Pe. Augustine Thompson, OP, Revista Catholic Digest (Outubro, 1996).

Top 10
Ver mais
Boletim
Receba Aleteia todo dia