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A força da gravidade

The Pull of Gravity – pt

Esperanto Filmoj

Daniel McInerny - publicado em 11/11/13

O filme é sobre sobrevivência, mas vai muito além dela: ele nos faz refletir sobre para que estamos tentando sobreviver

Saí do cinema depois de assistir a "Gravidade", de Alfonso Cuarón – que o escreveu em conjunto com seu filho, Jonas –, muito entusiasmado, depois de tanto tempo sem sentir isso com um filme.

Um velho conselho sobre a escrita é "coloque o seu personagem em cima de uma árvore e jogue pedras nele". "Gravidade" encarna este conselho da forma mais enxuta possível, com um enredo tão básico, tão elementar, que é um modelo de boa narrativa.

A Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock) e seu colega Matt Kowalski (George Clooney) não são apenas colocados em cima de uma árvore: eles são colocados no espaço,  para consertar um telescópio. Mas quando são surpreendidos, não por pedras, mas por detritos espaciais de um satélite destruído por um míssil russo, Stone e Kowalski são obrigados a lutar pela sua sobrevivência com poucos recursos. O objetivo exterior dos protagonistas é simples: a sobrevivência; e a trama acompanha os protagonistas em cada tentativa de atingir seu objetivo.

"Gravidade" é o melhor filme em 3D que eu já vi – e ainda estou refletindo sobre por que eu acho isso. Cuarón não usa o 3D simplesmente para fazer-nos esquivar de objetos voadores em nossa direção. Seu uso do 3D é mais sutil. Os grandes panoramas com os quais ele nos convida a relaxar têm algo a ver com isso. A amplitude da tela e o ritmo lacônico de algumas das cenas permitem que o efeito 3D até pareça natural.

Por outro lado, muitas outras cenas são claustrofóbicas, como quando estamos dentro de uma cabine apertada ou dentro do capacete da Dra. Stone vendo o horizonte a partir de seu ponto de vista. O 3D funciona bem nesses espaços menores também, porque Cuarón não está tentando nos atingir na cabeça com os seus efeitos.

Eu li alguém descrever "Gravidade" como "majestoso" e concordo. Os efeitos especiais do filme são muito bons. Claro, há explosões , mas o contexto não é de violência gratuita ou estilizada, e sim de perigo real para os seres humanos à mercê da tecnologia de naves gigantescas agitadas pelo vazio do espaço.

Mas qual é a temática do filme? Sobrevivência, certamente, porém, muito mais do que isso. "Gravidade" reflete sobre para que estamos tentando sobreviver. O contraste temático entre o espaço e a gravidade que nos puxa de volta para a terra firme, a terra na qual os seres humanos foram feitos para viver, é o aspecto mais interessante do filme.

No início da história, a Dra. Stone está feliz por estar no espaço, que ela descreve como "tranquilo", e onde ela está longe da tristeza da terra (ela está de luto pela morte acidental de sua filha de quatro anos). Mas, em sua luta pela sobrevivência, ela passa por um renascimento na sua compreensão – um renascimento fotografado por uma cena em que ela, exausta, flutua em uma cápsula de gravidade zero como um feto no líquido amniótico.

Em uma cena comovente em que, depois de ter se resignado a morrer, ela imagina ser visitada por seu colega já falecido, Kowalski, a Dra. Stone percebe que a vida ainda é bela e ela tem muito para viver. Ela faz uma tentativa de um último suspiro para encontrar um caminho de volta para a Terra – e consegue.

Mas é a cena em que a Dra. Stone se resigna a morrer é a mais fascinante do filme. Ela está sentada na cabine de uma cápsula na estação espacial chinesa, mas sem combustível para voltar a entrar na atmosfera da Terra. Ela diz em voz alta para si mesma, assombradamente, que este será o dia em que ela vai morrer. E então ela acrescenta esta confissão dolorosa:

"Mas ninguém vai chorar por mim. Ninguém vai rezar pela minha alma… Eu nunca rezei. Ninguém nunca me ensinou isso."

Duas vezes antes, no filme, Cuarón dirige nosso olhar para as crenças religiosas dos astronautas destes satélites: uma vez por meio de uma imagem de Cristo no painel da cabine da Estação Espacial Internacional e, em seguida, por meio de uma estatueta de Buda no painel de instrumentos da cabine na cápsula chinesa.

Estes pequenos sinais, juntamente com a confissão da Dra. Stone, nos direcionam, não às majestades dos céus, onde nenhum homem chegou antes, mas á maravilha da terra para qual a gravidade nos puxa, uma terra cuja tristeza pode ser renovada pelo divino.

Se ao menos houvesse alguém para nos ensinar como…

Tags:
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