O primeiro desafio nesta árdua tarefa é devolver às mulheres sua verdadeira e autêntica dignidadeMaria Inez Linhares de Carvalho trabalha na arquidiocese do Rio de Janeiro, à frente do Ambulatório da Providência, cuja missão é não marginalizar e não excluir as mulheres que se prostituem. Acolhê-las e dar-lhes a oportunidade de recuperar sua "história roubada", mediante o simples e humaníssimo método de fazê-las recuperar a autoestima, sempre a partir da fé em Cristo.
Convidada, em 1983, a realizar trabalho voluntário no Ambulatório da Providência, na Vila Mimosa (área de muita prostituição do Rio de Janeiro), a Dra. Linhares, que preside atualmente a Associação de Médicos Católicos do Rio de Janeiro, dedicou sua vida a enfrentar tanto a exclusão social das prostitutas como a estudar as causas da prostituição e da AIDS.
Com mais de 60 trabalhos publicados sobre o tema da AIDS, Linhares é consultora do tema no Vaticano e, além disso, preside o Ambulatório da Providência e a Casa de Apoio Santo Antônio.
O ambulatório foi criado para atender as regiões de prostituição e tráfico de drogas, especialmente a Vila Mimosa. As características desta "cidade perdida" são similares ou inclusive mais duras que as de outras grandes capitais do continente americano: casas em ruínas, famílias inteiras em cubículos insalubres, sem água potável, eletricidade, na miséria absoluta.
O trabalho consiste em "restaurar a dignidade, a autoestima e a cidadania" das prostitutas. Segundo comentou Linhares durante o Seminário sobre o Tráfico de Pessoas, organizado pela Academia Pontifícia das Ciências e das Ciências Sociais no Vaticano, o objetivo é que as mulheres que se prostituem "se conscientizem dos seus valores e direitos e se livrem da exploração dos mediadores do local".
Uma segunda missão deste importante trabalho é encontrar os mecanismos adequados para a inclusão das prostitutas no meio social, dando-lhes opções de trabalho por meio de cursos profissionalizantes.
A mulher que se prostitui na Vila Mimosa oferece uma ideia dos problemas da prostituição no continente americano e – a partir disso – surgem as diretrizes do trabalho do ambulatório. O perfil traçado pela equipe da Dra. Linhares com 329 mulheres é minucioso.
Em média, cada uma se prostitui entre 7 e 12 vezes por dia; 31% delas usam drogas; 80% consomem álcool; 82% já fizeram pelo menos um aborto; 78% têm pelo menos uma DST; 7% têm AIDS; 76% têm sintomas de depressão; 58% padecem de estresse crônico; 36% delas já pensaram em se suicidar e 99% estão na prostituição porque não têm outra saída.
O panorama pode parecer desolador, mas, por meio das Irmãs Missionárias da Vida e da Capela de São José, trabalham com as prostitutas para ajudá-las em algo essencial: que recuperem sua autoestima. A maioria delas sofre sequelas da miséria e de maus tratos.
"Comecei a ver que o tratamento da aparência física de uma prostituta – disse Linhares –, com o fim de torná-la mais bonita para si mesma, melhorando a aparência em certas partes do seu corpo (…), faz que comecem a se preocupar mais consigo mesmas, por conta própria, a ter mais amor; percebi que sua autoestima aumentava significativamente."
Este princípio simples, bem como a capacitação profissional e a reinserção social com uma perspectiva cristã, "nos fez aprender a escutar e aceitar sem julgar", disse Linhares, que concluiu afirmando que "o segredo é o fortalecimento no amor, em sentir-se pessoa novamente, para recuperar-se de tantas calamidades e desgraças".
Compaixão e amor: as melhores maneiras de vencer a prostituição
© VANDERLEI ALMEIDA / AFP
Jaime Septién - publicado em 12/11/13
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