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A “estratégia Francisco”: construir a paz e acabar com a indiferença

papa y bertone – pt

© ServizioFotograficoO R / CPP

Jesús Colina - publicado em 18/11/13

O Papa Francisco escreve o prólogo de um livro do cardeal Bertone sobre a diplomacia vaticana

O Papa Francisco não se enquadra exatamente no modelo tradicional de diplomático. Ele costuma ser direto e "dar nome aos bois" sem hesitar. Porém, também tem uma visão clara sobre a ação diplomática internacional da Santa Sé. Para o Papa, o verdadeiro desafio da humanidade consiste na construção de uma paz e de um desenvolvimento que não excluam ninguém.

No prólogo do novo livro do cardeal Bertone, que até pouco tempo atrás era seu secretário de Estado, o Papa Francisco escreve que o desafio da diplomaciavaticana é "fazer renascer a dimensão moral nas relações internacionais".

O Pontífice expôs, pela primeira vez, sua visão sobre a estratégia que ele quer para a política exterior da Santa Sé, em um texto publicado como prefácio do livro do cardeal Bertone, que foi apresentado na semana passada, com o título "A diplomacia pontifícia em um mundo globalizado" (Livraria Editora Vaticana).

Um dos grandes temas abordados pelo Papa Francisco é como enfrentar a crise global que estamos vivendo, que deveria nos obrigar a "eliminar tantas barreiras que substituíram as fronteiras: desigualdades, corrida armamentista, subdesenvolvimento, violação dos direitos fundamentais, discriminações, impedimentos de participação na vida social, cultural, religiosa".

O Pontífice esclarece que nosso futuro não poderá somente falar a linguagem da paz e do desenvolvimento, mas, além disso, deverá ser capaz, "nos fatos, de incluir todos, evitando que alguns sejam marginalizados".

Neste contexto, o Papa afirma que a diplomacia "é um serviço, não uma atividade sequestrada pelos interesses particulares – cuja amarga consequência são guerras, conflitos internos ou diferentes formas de violência. Não é tampouco um instrumento ao serviço de poucas pessoas que excluem as maiorias, gerando pobreza e marginalização, tolerando todo tipo de corrupção, produzindo privilégios e injustiças".

"A crise profunda de convicções, de valores, de ideias – sublinha o Santo Padre – oferece à atividade diplomática uma nova abertura, que, ao mesmo tempo, é um desafio: o desafio de contribuir para realizar entre os diferentes povos novas relações, verdadeiramente justas e solidárias, de maneira que toda nação e todas as pessoas sejam respeitadas em sua identidade, dignidade, promovidas em sua liberdade".

"Diante desta globalização negativa, que é paralisante, a diplomacia está chamada a empreender uma tarefa de reconstrução, redescobrindo uma dimensão profética, determinando o que podemos chamar de utopia do bem e, se for necessário, reivindicando-a", continua.

"Por meio da ação diplomática, a verdadeira utopia do bem, que não é uma ideologia, nem mera filantropia, pode expressar e consolidar essa fraternidade presente nas raízes da família humana e, a partir daí, está chamada a crescer, a expandir-se para dar seus frutos."

Rejeição da indiferença

É preciso destruir a "lógica do individualismo", afirma o Papa. Neste sentido, prossegue, "a perspectiva cristã sabe valorizar tanto o que é autenticamente humano como o que surge da liberdade da pessoa, da sua abertura ao novo, em suma, do seu espírito, que une a dimensão humana à dimensão transcendente".

"Esta é uma das contribuições que a diplomacia pontifícia oferece a toda a humanidade, empenhando-se em fazer renascer a dimensão moral nas relações internacionais, permitindo à família humana que viva e se desenvolva unida, sem que as pessoas se tornem inimigas umas das outras."

O Papa lança um verdadeiro manifesto de "rejeição à indiferença e à visão de uma cooperação internacional fruto do egoísmo utilitarista". Segundo ele, "os conflitos não serão eliminados e não situaremos os direitos da pessoa da maneira adequada fazendo prevalecer a razão de Estado e o individualismo. O direito mais importante de um povo e de uma pessoa não consiste em impedir que realizem as próprias aspirações, mas em realizá-las efetiva e integramente. Não basta evitar a injustiça, se não se promove a justiça".

Falando do motivo pelo qual a Santa Sé se compromete no âmbito internacional, com seu serviço diplomático, ele esclarece citando São Paulo: "Longe de mim gloriar-me senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo".

(Artigo publicado originalmente por "Alfa e Omega")

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