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Quando roubam o sorriso de uma criança

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Manuel Bru - publicado em 03/01/14
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Podem ter todos os brinquedos e aparelhos do mundo, mas lhes falta o mais importanteDizem que, daqui a algumas centenas de anos, analisarão os arquivos dos nossos costumes e dirão que as pessoas do século 21 estavam loucas, porque, entre outras coisas, a belíssima tradição dos presentes de Natal ou dos Reis Magos se transformou em mero consumismo.
 
Dirão que as crianças, cada vez menos amadas, menos escutadas, menos levadas em consideração, eram bombardeadas cada vez mais com brinquedos; que seus quartos pareciam o barco de um náufrago que juntou tudo o que podia, ou a vitrine de uma loja, local para estacionar as crianças durante horas, meses, anos, como uma prolongada incubadora, para vê-las, controlá-las, mantê-las calados e isoladas.
 
Dirão que, enquanto alguns tinham brinquedos saindo pelas orelhas, sem ter sequer tempo para dedicar-se a cada um deles (fora o colégio, judô, balé, violão, inglês), outros (a maioria, mas desconhecida, porque não aparecia nos comerciais da televisão) se contentavam com uma bola furada, um pedaço de tábua com uma corda ou as peças de um brinquedo quebrado que foi caridosamente doado pelos pais de uma criança rica, depois da faxina em seu dormitório-jaula.
 
Com o passar do tempo, muitas pessoas vão perdendo uma característica própria das crianças: a capacidade de se surpreender, de maravilhar-se, de assombrar-se. Isso sim é sagrado, e me dói a alma cada vez que vejo uma criança cujo sorriso foi roubado.
 
crianças – as da bola furada – cujos sorrisos já não existem porque receberam doses cavalares de dor, de miséria, de perigos da rua (que é como uma selva com animais selvagens), de falta de recursos, sobretudo da segurança dos seus pais (que estão ainda mais perdidos na selva que elas).
 
Outras – as do quarto que parece vitrine – também tiveram seus sorrisos roubados. Não é apenas tédio, mas falta de vontade, decepção. Elas têm de tudo, mas lhes falta o mais importante: o presente do olhar, do carinho, da ternura, do tempo, muito tempo.
 
Estas crianças não têm os perigos das ruas, mas têm o perigo de não aprender jamais o que significa amar e ser amado; correm o risco de tornar-se robôs comerciais, discípulos fiéis do individualismo.

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