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O papa imigrante, Pio XII, o lobby gay e um bebê chamado Francisco

Swiss Guards – pt

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John L. Allen Jr. - IHU - publicado em 22/01/14

O que se segue é um apanhado de histórias que bombaram e que jogaram luz sobre alguns aspectos da história do Papa Francisco

Embora as conversas sobre as finais da liga de futebol americano foram o assunto predominante nos EUA no último fim de semana, tivemos um outro momento bastante ocupado com histórias envolvendo o atual papa, fato que vem sendo comum durante este papado cujo líder máximo não tem um botão de “desligar”. O que se segue é um apanhado de histórias que bombaram e que jogaram luz sobre alguns aspectos da história do Papa Francisco.

Bergoglio nasceu em uma família de imigrantes italianos na Argentina e agora está retornando o favor como bispo de Roma. Isso pode ajudar na explicação da paixão especial que ele tem por imigrantes, que está entre as características de seu papado e que ficou em evidência novamente no domingo, durante a visita feita à paróquia romana de Sacro Cuore di Gesù a Castro Pretorio.

A paróquia administrada pelos salesianos, localizada próximo da principal estação de trem de Roma (a Estação Termini), é conhecida pelo seu trabalho junto aos desabrigados e à população de imigrantes.

Durante sua visita paroquial, Francisco fez questão de se encontrar com um grupo de 60 desabrigados e com cerca de 100 jovens imigrantes, além de voluntários da paróquia que com eles trabalham.

Durante o discurso de Ângelus, na manhã de domingo, o Papa Francisco falou aos imigrantes que “vocês estão próximos do coração da Igreja” e disse que ele muitas vezes pensa nas dificuldades que muitos deles são forçados a suportar.

Empregando uma linguagem dura, o papa citou o beato Giovanni Battista Scalabrini, bispo italiano do século XIX, fundador de uma ordem religiosa especializada no trabalho com os imigrantes e refugiados. Na ocasião, condenou os “mercadores de carne humana” que traficam migrantes.

O papa também pediu aos países ricos para “acolherem” os imigrantes e para “preservarem seus valores”.

O dia 19 de janeiro é considerado pela Igreja Católica como o Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados. Numa mensagem para a ocasião, divulgada em agosto do ano passado, o pontífice insistiu que os imigrantes não são “peões no tabuleiro da humanidade”.

Esta foi a quarta visita do papa a uma paróquia romana desde sua eleição. Tal como tem feito em outras ocasiões, ele não teve texto preparado para sua homilia, que se focou na leitura do evangelho de João Batista, dizendo de Jesus: “Eis o cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo”.

Entre outras coisas, o primeiro papa jesuíta convidou seus ouvintes a se juntarem numa miniversão dos famosos Exercícios Espirituais inacianos, fechando os olhos e se imaginando na cena do Evangelho, dizendo algo a Jesus no silêncio de seus corações.

Papa Pio XII

Na semana passada, um amigo de longa data do papa, o rabino Rabbi Abraham Skorka, de Buenos Aires, esteve em Roma liderando uma delegação judaica da Argentina. Em 2010, os dois publicaram um livro intitulado “Sobre o céu e a terra”.

Apos a reunião que tiveram na semana passada, Skorka concedeu uma entrevista ao jornal Sunday Times, na qual se lê que, entre outras coisas, o papa e o rabino discutiram sobre a possível santidade do Papa Pio XII, o pontífice dos tempos de guerra cujos arquivos sobre o holocausto permanecem como um ponto de discórdia entre católicos e judeus.

De acordo com Skorka, Francisco expressou a opinião de que uma decisão a respeito da beatificação e canonização não deverá ser feita até que os arquivos do Vaticano, datados da Segunda Guerra Mundial, sejam completamente abertos, o que vem sendo uma exigência central por parte dos críticos.

Quando Pio XII foi declarado “venerável”, em dezembro de 2009, um comunicado do Yad Vashem, um memorial para o holocausto em Jerusalém, classificou como “deplorável” a possibilidade de ele ser feito santo antes que “todos os documentos” sejam estudados.

“O assunto é muito delicado, e precisamos continuar analisando”, afirmou Skorka.

Entrevistado pelo jornal Corriere della Sera, D. Sergio Pagano, responsável pelos Arquivos Secretos do Vaticano, disse que há seis anos o departamento vem se esforçando para finalizar o catálogo de todos os documentos daquela época e que, provavelmente, levará mais um 18 meses para terminar o trabalho.

Os documentos restantes do período da Segunda Guerra que ainda estão à espera de catalogação incluem correspondências das embaixadas papais, anotações da Secretaria de Estado e documentos de trabalho de várias congregações romanas.

Alguns especialistas duvidam que tais materiais irão acrescentar muita coisa aos registros já estabelecidos no conjunto de documentos composto de 12 volumes sobre a Segunda Guerra Mundial publicado pelo Vaticano em 1965. Porém, o comentário de Skorka parece sugerir que Francisco está disposto a esperar.

Em seu livro publicado em 2010 junto do rabino, futuro papa escreveu: “Os argumentos que ouvi a favor de Pio XII parecem fortes, porém tenho que admitir que não examinei todos os arquivos”.

O papa e a mídia

No último sábado (18-01-2014), o papa teve uma audiência com os funcionários da emissora estatal italiana RAI, que está celebrando o 90º aniversário de sua rádio e o 60º aniversário de seus serviços televisivos.

Dado que a RAI possui muitos funcionários para a realização de seus serviços, a sessão aconteceu na sala de audiências Paulo VI, que ficou completamente cheia.

O Papa Francisco mostrou alguns pensamentos interessantes sobre o jornalismo e as empresas de comunicação do momento, ao dizer que estes serviços não são apenas para “informar” como também para “formar”, o que implica uma dimensão moral.

O pontífice disse que o jornalismo serve ao bem público quando se distancia claramente da “desinformação, difamação e da calúnia”, deixando a impressão de que ele não pensa ser este sempre o caso necessariamente.

Em comentários improvisados, o Francisco também pediu que a mídia dê especial atenção às “periferias do mundo”, que é um outro tema constante de seu jovem papado.

Escândalos

O fim de semana também trouxe dois desenvolvimentos novos em dois escândalos recentes.

Primeiro, novos detalhes surgiram na história de Roxana Rodriguez, uma irmã (freira) de 33 anos, natural de El Salvador, da congregação Pequenas Discípulas de Jesus, que apareceu em um hospital na cidade italiana de Rieti, na semana passada, reclamando de dores estomacais e acabou dando à luz um bebê.

De acordo com um funcionário da Caritas local, a organização católica para caridade, a Irmã Rodriguez havia retornado a El Salvador em março e abril de 2013 para renovar seu passaporte, quando ela brevemente também renovou um romance que havia tido na juventude. Ela não acreditava que alguma coisa havia ficado dessa experiência; ao final, ficou sabendo que estava grávida.

Membros da congregação dizem terem percebido que ela vinha, de alguma forma, ficando maior nas últimas semanas, mas nem imaginavam que algo de errado pudesse estar acontecendo. Em princípio, a irmã chamou uma ambulância para levá-la ao hospital na terça-feira de noite e, quando foi informada de que estava grávida, disse ao médico: “”Não posso ter um bebê, sou uma freira!”

O bispo local anunciou que Rodriguez teria que deixar a vida religiosa e que a diocese iria ficar à disposição para oferecê-la qualquer ajuda de que viesse precisar. Uma amiga foi citada em um jornal local dizendo que ela poderá voltar a El Salvador para se juntar-se ao pai.

Não há nenhuma conexão do papa com esta história, senão esta: Rodriguez chamou de Francisco a criança em homenagem, afirmou ela, ao nosso “belo papa latino-americano”.

Enquanto isso, um ex-comandante da Guarda Suíça deu uma entrevista para uma revista de seu país na qual afirma haver um “lobby gay” no Vaticano, algo como uma “sociedade secreta”, e que poderia representar uma risco “à segurança do papa”.

Elmar Mäder, 51 anos de idade, serviu como comandante da Guarda Suíça de 2002 a 2008.

Mäder disse que gays no Vaticano “têm a tendência de apoiar uns aos outros, o que os faz serem mais leais entre si do que para a instituição”. Ele também disse ter aconselhado seus homens a ficarem longe de algumas autoridades vaticanas que ele considerava especialmente “lascivas”.

Duas semanas atrás a mesma revista suíça publicou uma entrevista anônima com um ex-membro da Guarda Suíça, que dizia ter estado em situações indesejadas promovidas por alguns altos funcionários do Vaticano, incluindo alguns cardeais.

À época, um porta-voz da Guarda desmentiu a reportagem, dizendo que “rumores de um lobby gay no Vaticano não estão entre os nossos problemas”.

O próprio papa disse coisas um pouco diferentes sobre um suposto “lobby gay”.

A bordo do avião papal que retornava do Brasil em julho, ele pareceu descartar a ideia, brincando que “ainda preciso encontrar em uma carteira de identidade vaticana a palavra ‘gay’”.

No entanto, em uma sessão privada com líderes de ordens religiosas latino-americanas na mesma época, o papa supostamente dissera: “O ‘lobby gay’ é mencionado, e é verdade, ele está lá (…). Precisamos ver o que podemos fazer com isso”.

(Tradução de Isaque Gomes Correa, veiculada na IHU On Line)

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